Na antecâmara de uma nova crise
Uma análise retrospetiva da nossa história política recente, aponta para um hipotético senário de nova crise institucional encubada no interior do PAIGC, e que a qualquer momento terá que ser saneada pela presidência, onde conhecerá o seu apogeu.
O senário não tem muitos ingredientes verdadeiramente originais, será porventura, na linha do que acontecerá com Carlos Gomes Júnior.
Os atores são os mesmos: PAIGC no papel principal, o primeiro-ministro e a presidência da república. Os ingredientes são todos reunidos: Incompatibilidades politicas e pessoais, distanciamento progressivo e irreversível entre o partido e o seu líder.
Em abono da verdade, o cidadão mais precavido, já começa é a estranhar o silêncio ensurdecedor, a turbulenta acalmia politica que se aparenta.
A única coisa que vem perturbar, e simultaneamente esclarecer todo este clima, é a recorrente necessidade dos apoiantes do governo em reafirmar a normalidade institucional, sabendo-se de antemão, que esse é o primeiro sintoma de tensão e crispação política.
O ecossistema político atingiu o designado ponto de equilíbrio perfeito, aquele no qual qualquer movimento, faz desencadear uma reação tendente a desequilibrar para um dos lados. Pode-se dizer que a situação é tal que, se alguém expirar no palácio do governo, na presidência, na assembleia, ou na sede o PAIGC, arisca-se a desencadear o processo que leva a queda do governo.
É nesta atmosfera que se está a preparar uma mesa redonda com os doadores internacionais.
A pergunta que se impõem é apenas e tão só:
O primeiro-ministro, promotor da iniciativa, pensará que os eventuais doadores desconhecem na realidade a situação politica interna da Guiné-Bissau?
Das duas uma, se assim pensa, e perante tamanha ingenuidade, reforça a opinião dos que em praça pública o acusam de não ter ideias, projetos, nem preparação para a missão que lhe foi confiada no partido e no governo.
Se pelo contrário tem plena consciência de que os doadores estão devidamente informados e atualizados com a situação politica nacional, então a persistência em levar avante a ideia da mesa redonda, vem confirmar a tese de que ele está agarrado ao poder, e não tem sentido de estado, na media em que acaba por optar por uma fuga em frente que poderia hipoteticamente beneficiar a sua imagem na eventualidade da queda do governo, sabendo-se que os mais incautos tenderão a culpar o partido e a presidência, mas estaria mais uma vez a desencadear um severo handicap ao país, recolocaria a Guiné-Bissau nos radares dos doadores internacionais pelas piores razões.
Qualquer doador minimamente astuto considerará de uma irresponsabilidade tremenda avançar com a mesa redonda num contexto político praticamente putrefacto, o que não beneficia a imagem do dirigente político nacional na sua generalidade.
Outro risco que o primeiro-ministro não terá acautelado, é o de poder ser castigado na impressa pelo fato de subverter as prioridades na ação governativa: Em ambiente de crise interna, o foco tem de ser a abordagem da crise de forma responsável, frontal e assumida, com vista a sua resolução.
O país não tira proveitos de uma postura negligente perante a crise institucional, instalada, não é ignorando o problema que ele desaparece.
O primeiro-ministro não terá igualmente ponderado que haverá uma corrente de opinião a considerar que a presidência da república e o PAIGC já assumira a crise desde o incidente do aumento de vencimento dos deputados. Incidente esse muito mal gerido, diga-se de passagem, porque quem acabou por ficar “mal na fotografia”, foi o presidente da assembleia nacional popular, destacado dirigente partidário, bem como toda a bancada parlamentar do PAIGC, a própria bancada da oposição revelou-se lesta em acudir o Eng.º Cipriano Cassama e espetar mais uma lança no governo.
Pede-se aos dirigentes nacionais algum zelo pela imagem do país, que assumam uma postura de estadistas, agradece-se que a assunção da crise instalada por parte do primeiro-ministro e dos membros do governo, a opinião pública não poderá castigar o governo e o seu chefe por tal fato, pelo contrário, saberá que está em mãos de dirigentes responsáveis, sérios, e idóneos, qualquer atitude discrepante, reforçaria a ideia de um governo liderado por gente cínica, falsa e egocêntrica.
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