terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Na antecâmara de uma nova crise

Uma análise retrospetiva da nossa história política recente, aponta para um hipotético senário de nova crise institucional encubada no interior do PAIGC, e que a qualquer momento terá que ser saneada pela presidência, onde conhecerá o seu apogeu.

O senário não tem muitos ingredientes verdadeiramente originais, será porventura, na linha do que acontecerá com Carlos Gomes Júnior. 
Os atores são os mesmos: PAIGC no papel principal, o primeiro-ministro e a presidência da república. Os ingredientes são todos reunidos: Incompatibilidades politicas e pessoais, distanciamento progressivo e irreversível entre o partido e o seu líder.

Em abono da verdade, o cidadão mais precavido, já começa é a estranhar o silêncio ensurdecedor, a turbulenta acalmia politica que se aparenta.

A única coisa que vem perturbar, e simultaneamente esclarecer todo este clima, é a recorrente necessidade dos apoiantes do governo em reafirmar a normalidade institucional, sabendo-se de antemão, que esse é o primeiro sintoma de tensão e crispação política.

O ecossistema político atingiu o designado ponto de equilíbrio perfeito, aquele no qual qualquer movimento, faz desencadear uma reação tendente a desequilibrar para um dos lados. Pode-se dizer que a situação é tal que, se alguém expirar no palácio do governo, na presidência, na assembleia, ou na sede o PAIGC, arisca-se a desencadear o processo que leva a queda do governo.

É nesta atmosfera que se está a preparar uma mesa redonda com os doadores internacionais.

A pergunta que se impõem é apenas e tão só:
O primeiro-ministro, promotor da iniciativa, pensará que os eventuais doadores desconhecem na realidade a situação politica interna da Guiné-Bissau?

Das duas uma, se assim pensa, e perante tamanha ingenuidade, reforça a opinião dos que em praça pública o acusam de não ter ideias, projetos, nem preparação para a missão que lhe foi confiada no partido e no governo.
Se pelo contrário tem plena consciência de que os doadores estão devidamente informados e atualizados com a situação politica nacional, então a persistência em levar avante a ideia da mesa redonda, vem confirmar a tese de que ele está agarrado ao poder, e não tem sentido de estado, na media em que acaba por optar por uma fuga em frente que poderia hipoteticamente beneficiar a sua imagem na eventualidade da queda do governo, sabendo-se que os mais incautos tenderão a culpar o partido e a presidência, mas estaria mais uma vez a desencadear um severo handicap ao país, recolocaria a Guiné-Bissau nos radares dos doadores internacionais pelas piores razões. 

Qualquer doador minimamente astuto considerará de uma irresponsabilidade tremenda avançar com a mesa redonda num contexto político praticamente putrefacto, o que não beneficia a imagem do dirigente político nacional na sua generalidade.


Outro risco que o primeiro-ministro não terá acautelado, é o de poder ser castigado na impressa pelo fato de subverter as prioridades na ação governativa: Em ambiente de crise interna, o foco tem de ser a abordagem da crise de forma responsável, frontal e assumida, com vista a sua resolução.


O país não tira proveitos de uma postura negligente perante a crise institucional, instalada, não é ignorando o problema que ele desaparece.

O primeiro-ministro não terá igualmente ponderado que haverá uma corrente de opinião a considerar que a presidência da república e o PAIGC já assumira a crise desde o incidente do aumento de vencimento dos deputados. Incidente esse muito mal gerido, diga-se de passagem, porque quem acabou por ficar “mal na fotografia”, foi o presidente da assembleia nacional popular, destacado dirigente partidário, bem como toda a bancada parlamentar do PAIGC, a própria bancada da oposição revelou-se lesta em acudir o Eng.º Cipriano Cassama e espetar mais uma lança no governo.

Pede-se aos dirigentes nacionais algum zelo pela imagem do país, que assumam uma postura de estadistas, agradece-se que a assunção da crise instalada por parte do primeiro-ministro e dos membros do governo, a opinião pública não poderá castigar o governo e o seu chefe por tal fato, pelo contrário, saberá que está em mãos de dirigentes responsáveis, sérios, e idóneos, qualquer atitude discrepante, reforçaria a ideia de um governo liderado por gente cínica, falsa e egocêntrica.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.