O PONTO DA DIVERGÊNCIA…
(atualizado às 12:59h)
Vira o disco, toca o mesmo!
O principal ponto da discórdia e de divisão interna no PAIGC e por
implicação atinge a sociedade e às famílias guineense, é, no meu entender, a
necessidade de esclarecer os assassinos ocorridos na nossa terra em 2009.
Sobre
esta iniciativa há duas grandes tendências: por um lado, os que se posicione à
favor e, do outro, os do contra. José Mário Vaz, Presidente da República, teve
encontro no dia 2 de Setembro no Palácio Presidencial com 67 altos graduados do
exército oriundos de diferentes unidades do país. Consta que, nesse encontro, o
Presidente Vaz “explicou detalhadamente as razões da sua pretensão em libertar
os detidos do caso 21 de Outubro de 2012”.
Dizia-se, inclusivamente, que a sua
decisão visa promover a “reconciliação entre os militares assim como no seio da
família guineense”. Não tive acesso às fundamentações teóricas do Presidente da
República, mas presume-se de que lado estaria, diante, portanto, de uma
situação que esperava dele uma posição firme, legal e humana.
Que eu saiba, não existe zanga entre os militares e muito menos no
seio da família guineense. Existem, sim, correntes de pensamento antagónicas na
classe política nacional que se digladiam, como dizia, para que se faça, ou
não, luz aos acontecimentos de 2009. O levantamento militar de 1 de Abril de
2010, evidenciou os antagonismos existentes no seio do partido libertador e na
sociedade em geral sobre esse assunto. Os relatos do jornalista da PNN, Rodrigo
Nunes, sobre os riscos que o ex-Primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior, corria evidenciavam
essa realidade. Segundo o jornalista, Cadogo Jr., era ameaçado “(…) até por
deputados do PAIGC afetos ao reduzido grupo «anti-Cadogo»(…)”.
O jogo de
empurra entre as duas magistraturas, civil e militar, sobre “quem tem
competência” para julgar “os processos”, mostrava como a divergência se
alastrou no seio das outras classes profissionais, e não só, do país. Em Junho
de 2010, o Partido da Renovação Social (PRS) instara o ex-chefe de Estado,
Malam Bacai Sanhá a revelar nomes dos políticos envolvidos nos assassinatos de
Nino Vieira e Tagme Na Waié.
Em 19 de
Agosto do mesmo ano, o ex-Presidente Sanhá, após a recessão de um grupo de
pessoas, familiares e amigos de dirigentes políticos e militares, pediu
paciência e jurara que nem que a decisão tivesse que custar a sua vida, os
assassínios de dirigentes do país ocorridos em 2009, entre os quais o do seu
antecessor, João Bernardo 'Nino' Vieira, teriam que ser esclarecidos. O
ex-chefe de Estado viria a falecer em Paris, no dia 9 de Janeiro de 2012, sem que
o Ministério Público tivesse avançado um passo sequer nessa matéria.
Ora, porquê que quando se aborda esses assuntos (esclarecimento dos
assassinatos políticos), Carlos Gomes Júnior e os seus seguidores e
admiradores, tremem e se esperneiam? Creio que resposta nos possa conduzir à
origem da propaganda e campanha contra as nossas forças armadas e não só. É
que, na sequência do levantamento de 1 de Abril de 2010, o
ex-Primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior, tinha ausentado do país, por cerca
de três semanas, tendo passado por Cuba, França e Portugal. Tendo em conta o
receio que envolvia o seu regresso ao país, Rodrigo Nunes escreveu: “(…) o
Primeiro-Ministro guineense tem sido ameaçado de morte, de prisão e de
participação nos crimes que mancharam a história recente do país. Mas apesar da
intensa pressão interna, Carlos Gomes Júnior mantém-se determinado em regressar
ao país e em efetuar uma remodelação governamental”. Pois, o problema é que
eles próprios “enfiaram a carapuça”! E terá sido, justamente, nessa altura que
Cadogo Jr., resolveu lançar mão do prestigio que gozava em sede de certa
comunidade internacional (entenda-se CPLP) para contra-atacar.
Para os países
da língua portuguesa Carlos Gomes Júnior era o único interlocutor
verdadeiramente reconhecido. Por parte dos seus apoiantes e seguidores, começou
a despoletar, como dizia Nunes, a vontade de adoção de medidas radicais. Dizia:
“Este Governo do PAIGC conquistou, com provas dadas, a comunidade
internacional, pelo que esta observa com desagrado as estratégias mal
camufladas para promover o seu afastamento. E, em relação às ameaças contra
Cadogo Jr., apontava o dedo acusador a uma situação de subordinação, pela
coação das armas, do poder político ao militar, com o alto patrocínio do
Presidente da República, Malam Bacai Sanhá”.
Para combater, então, a corrente empenhada na luta pelo
esclarecimento dos assassinatos, Cadogo Jr., e seus seguidores, começaram, por
um lado, a enviar nomes de altas figuras para o departamento de Tesouro
Americano, a solicitar o reforço da presença dos EUA na sub-região, estreitando
relações com Cabo Verde no chamado combate ao narcotráfico, a pressionar a
França e a Espanha para reclamar junto a Bruxelas medidas urgentes contra o
trafico de droga. E, por outro lado, desencadearam uma campanha de difamação
contra o Presidente Sanhá, citando seu suposto envolvimento direto nos
acontecimentos de 1 de Abril, a sua obsessão pelo controlo do Governo e do
PAIGC e a sua vontade de agradar os países como o Senegal e Marrocos, mesmo com
direto prejuízo dos interesses nacionais da Guiné-Bissau, o que, para eles, tem
vindo a refrear as boas intenções de alguns parceiros internacionais.
Dizia-se
também que Sanhá, em um ano de mandato, acabara por sobressair
internacionalmente pela negativa, visto que criara uma espécie de “governo
sombra” com conselheiros para todas as áreas de governo, com vencimentos
equivalentes ao de Ministros.
Pergunto: será que foi dessa “guerra” que o Presidente Vaz
esclareceu aos 67 altos oficiais militares no Palácio Presidencial, no dia 2 de
Setembro? Na minha perspetiva, anterior a qualquer iniciativa de
“reconciliação”, a questão prioritária, neste preciso momento, seria de saber
se os assassinatos ocorridos em 2009, serão, ou não, esclarecidos.
Doka Internacional
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