GENOCÍDIO NO HUAMBO
Versões antagónicas sobre a barbárie cometida
Fragmentos do discurso do Presidente da República de Angola, José Eduardo dos Santos e do texto da conferência de imprensa do Secretário Geral da UNITA, Eng.º Vitorino Nhany sobre os acontecimentos à volta da seita “kalupeteka”
Versão do Presidente José Eduardo dos Santos:
"(...) Um triste acontecimento teve lugar no país na semana passada. Um grupo de fiéis da Igreja Adventista do Sétimo Dia abandonou a sua congregação e decidiu criar uma seita religiosa denominada ‘A luz do Mundo’.
O grupo abandonou também a doutrina social da sua antiga igreja, que é baseada nos Mandamentos da Lei de Deus e noutros princípios da Bíblia Sagrada, e formulou a sua própria doutrina com base no fanatismo religioso, no ódio em vez do amor ao próximo, na divisão e na mentira, com o propósito de não respeitar a autoridade do Estado e de promover a anarquia.
Essa doutrina fomenta a desintegração da sociedade e a separação das famílias, estimula o pecado e é contra os valores, os princípios morais e cívicos e os usos e costumes do povo angolano. A seita ‘A luz do Mundo’ é, de facto, uma ameaça à paz e à unidade nacional.
Os seus mentores dizem que o mundo vai acabar em 2015 para assustar as pessoas, porque a Bíblia Sagrada não fixou nenhuma data para o mundo acabar. Dizem também que as famílias devem vender os seus bens, em particular as suas casas, abandonar as aldeias e vilas e viver nas montanhas e florestas.
(...)
(...)
A reacção violenta do chefe da seita e dos seus colaboradores mais próximos, que assassinaram os agentes da autoridade do Estado, demonstra que estamos diante de indivíduos perigosos que devem ser todos rapidamente capturados e entregues à justiça. (...)"
Versão do Secretário Geral da UNITA, Eng. Vitorino Nhany:
"(...) O Executivo fala de nove polícias mortos a tiro. Os munícipes falam de três polícias mortos a tiro e os demais terão falecido em resultado de um acidente de viação. Segundo testemunhos dos munícipes, o comandante da Polícia terá falhado na sua missão de persuadir os membros da seita a dispersar o acampamento e regressarem às suas aldeias. Em resultado, a polícia terá amarrado o líder da seita. Os fiéis terão interferido, tendo desarmado os dois polícias que acompanhavam o comandante e disparado contra os agentes da Polícia com as próprias armas da Polícia. Os demais polícias, que estavam no carro a certa distância, retiraram-se aceleradamente em busca de reforços. Infelizmente, a viatura capotou e todos faleceram em resultado do acidente de viação. Esta é a versão dos munícipes.
O Executivo não diz exactamente quantos cidadãos pacíficos e desarmados, que nada têm a ver com os ataques à Polícia ou com Kalupeteka, terão sido mortos em retaliação ao assassinato dos polícias. Os munícipes falam de centenas de mortes por armas pesadas a partir de helicópteros, que dispararam indiscriminadamente sobre todas as casas na área adjacente à serra onde estava instalado o acampamento.
(...)
A título de exemplo, vejamos a seguinte passagem do Comunicado do Governo Provincial do Huambo, divulgado ontem, dia 21 de Abril: “A Seita Adventista no 7º dia a Luz do Mundo, aproveitando-se da fé dos seus seguidores metem em marcha um plano politico bem orquestrado e orientado com muitos traços que identificam a actuação politica da UNITA, levando as populações a abandonarem as suas residências para se fixarem nas matas nomeadamente nas ex-bases militares dessa organização politica”.
Essa acusação revela má fé, raquitismo político e desonestidade. Perante a mesma, perguntas colocam-se:
- A UNITA já governou Angola para admitir seitas? Ou alguma vez a UNITA permitiu a legalização de seitas para beneficiar dos votos de seus fiéis?
- Como foi possível uma seita não legalizada desenvolver acção por tanto tempo sem que a autoridade competente pusesse termo a isso?
- Alguém pode apontar um único encontro entre um dirigente da UNITA com o Sr. Kalupeteka?
- Como foi possível haver encontros amigáveis entre esse chefe fundamentalista e o Governo Provincial do Huambo, quer no Palácio, quer na montanha onde se tinha instalado, tendo até recebido desse Governo uma viatura Toyota Prado, um gerador de alta potência e um tractor? Como foi possível, se o Ministério da Cultura indeferiu o pedido de legalização da sua seita?
- Como foi possível um membro da direcção do partido que governa o país, o senhor Miguel Somakesenje, ser fiel seguidor de uma seita ilegal?
- Vê-se nas imagens que apresentamos o 1º Secretário do MPLA ao lado do senhor Kalupeteka, a participar nos cultos dessa seita. Ou será que o mesmo exerce, ao mesmo tempo, o cargo de Secretário Municipal da UNITA?
- Quem retirou as armas do museu e as levou à montanha do Sumi?
Depois das insinuações caluniosas dos ex-oficiais dos serviços de inteligência militar agora nas vestes de governantes, o Executivo começou a utilizar os acontecimentos nefastos da Serra do Sumi, na Caála, e os actos de intolerância e violência política por si praticados em outros lugares, como desculpas para impedir a realização de manifestações políticas e, assim, consolidar o ambiente de restrição, limitação ou suspensão efectiva dos direitos políticos dos cidadãos.
(...)
Os sociólogos que estudam o fenómeno, salientaram já que os líderes destas seitas exploram a vulnerabilidade das pessoas e que o Governo utiliza algumas delas para aproveitamentos políticos e práticas de corrupção. Há casos de líderes religiosos detidos, investigados ou expulsos, por terem sido acusados de enriquecimento ilícito, branqueamento de capitais e narcotráfico, em conexão com as finanças que arrecadam das suas alegadas actividades religiosas. Todos sabemos que há ou haverá por aí muitos Kalupetekas. A responsabilidade pelas suas actividades não pode, por isso, deixar de ser imputada também ao Executivo.(..)"
Ler mais no Club-K
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.