Por Braima Daramé, Jornalista | Fonte: Umaru Djau
É que nos últimos dias muito tem-se falado da realização dessa tal Mesa Redonda marcada para 25 de Março em Bruxelas. Em Bissau nota-se uma certa correria e um mistério à volta deste evento. Só se diz: “Epah nos últimos dias ando muito ocupado com os preparativos para a mesa redonda de doadores”. O termo tornou-se num “slogan” nas ruas de Bissau, embora muitos não saibam realmente o que isso significa.
Penso que a fasquia foi colocada muito alta em relação aos resultados da conferência de Bruxelas. Há quem arrisque a perspectivar que é desta vez que o país vai mudar de uma vez por todas. Outros afirmam categoricamente que o país receberá um financiamento para construir pontes, estradas, hospitais, escolas, estádios de futebol e tudo que lhe vem à cabeça.
Mas Senhores, sejamos realistas. Com a actual conjuntura internacional é bem provável que o governo terá apoios possíveis e não necessários para suprir as dificuldades que o país enfrenta. Para um observador atento, é demasiado evidente que a Europa não tem muita coisa a dar de imediato aos países terceiros já que encara situações difíceis. E exemplos não faltam. Só a crise da Grécia quase rompia o bloco pela costura e a ferida ainda não está completamente sarada. A Guerra na Ucrânia deixa sinais evidentes de um possível conflito armado entre a União Europeia/EUA contra a Rússia. E, para agravar ainda mais a situação, neste momento a União Europeia (e o mundo Ocidental em geral) está em conflito com o chamado Estado Islâmico.
Perante estas e outras situações delicadas no mundo e na Europa, em particular, é normal que se interrogue se a Guiné-Bissau pode esperar muita coisa da UE na Conferência dos Doadores? Talvez estejamos a esquecer os dois gigantes de África, os ditos “amigos irmãos da Guiné-Bissau”, nomeadamente a Angola e a Nigéria!
Mas, ao mesmo tempo, devo lembrar aos menos atentos (desculpem-me a ousadia) que o preço do petróleo baixou como nunca no mercado internacional, atingindo recentemente o seu valor mais baixo nos últimos cinco anos, abalando assim as bolsas internacionais. Por exemplo em Angola fala-se em atrasos salariais, pela primeira vez na história do país. A Nigéria, por sua vez, já começa a dar sinais de desespero face à situação de instabilidade criada pelos islamitas do Boko Haram, tendo como o agravante a crise no sector petrolífero, para além das incógnitas à volta das eleições presidenciais à vista naquele país.
Será que a CEDEAO, perante o condicionalismo da Nigéria estará em condições de dar apoios financeiros à Guiné-Bissau? Quanto à União Africana, ela também tem sido muito dependente dos apoios dos “grandes” do continente, nomeadamente a Angola e a Nigéria.
Não sou pessimista, mas também não quero que a população guineense (que tantas esperanças deposita na reunião dos doadores) venha a ser surpreendida com um eventual resultado magro do encontro em Bruxelas.
Mas, voltando à minha questão no inicio associada à da minha sobrinha, talvez não fosse uma má ideia que o encontro dos doadores para a Guiné-Bissau decorresse num dos países ditos de “economias mais emergentes”, como por exemplo nos Emirados Árabes, na China, na Turquia, ou mesmo em Marrocos, uma iniciativa que talvez nos pudesse levar a outros mundos. Se o tal tivesse acontecido, a Guiné-Bissau estaria a procurar novos aliados, como os próprios europeus estão a fazer actualmente para contornarem a sua própria crise económica interna.
Aliás, como me explicou recentemente um ex-governante guineense, a Guiné-Bissau recebe apenas cerca de 12 milhões de euros por ano da UE, o que não é um montante “muito significativo” (nas palavras desse ex-governante) comparado às actividades da pesca que os países europeus exercem nas zonas económicas exclusivas do território guineense.
Face ao que acabei de expor nestas linhas, é verdade que esta mesa redonda com os doadores internacionais poderá angariar mais parceiros de desenvolvimento dispostos a abrirem os cordões à bolsa, respondendo assim às propostas do governo guineense em termos do seu plano estratégico para os próximos anos, mas como sugeriu a minha querida sobrinha Fanta, seria bom se começássemos a “construir” a tal “mesa-redonda” na nossa própria casa ou nas vizinhanças.
Todavia, resta-me desejar uma boa viagem ao governo e votos de muitos sucessos na capital da Europa.
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