GATO ESCALDADO…
No amor, aprendi que não há
dinheiro que compre o coração. Podemos até comprar uma pessoa, mas nunca alcançamos
os sentimentos dela. A alma humana é o coeficiente da nossa educação e da própria
história. Mas, há seres humanos que preferem trilhar o caminho da ligeireza e
da bajulação. Depois estranham-se pela tração ou desobediência dos seus pares. E
quando se deparam com estorvos, começam a adotar atitudes despóticos como forma
de corrigir as suas esposas. Na maior parte dos casos, esse tipo de casamento, a
parte mais bela são apenas as recordações do noivado. Portanto, o resto do
tempo de vida em família torna-se num calvário, por vezes até ao esvaecimento
total. O que significa que haverá por ai muitos lobos com pele de cordeiro a
vender flores e paraísos…
Para mim, a analogia encaixa!
Estou a falar na relação entre o noivo (o candidato) e a noiva (o povo), no
período de escrutinação. O sociólogo são-tomense, Hector Costa, qualificou o processo
de fenómeno “Banho”, tendo-o definido de seguinte forma: relações sociais de
clientelismo, que (…) ganha forma dramática no contexto das campanhas
eleitorais”. Diz Costa que é através desta prática que, os recursos como
dinheiro, alimentação, mobílias, vestuários, emprego, habitação, automóveis,
bolsas de estudos, são garantidos, sobretudo, para os apoiantes dos partidos ou
candidatos (as), em troca de votos nas urnas”.
Como diz o sociólogo, o
fenómeno é novo nas nossas sociedades e só ganha quem tem poder económico. E
resulta, por um lado, da degradação vertiginosa das condições de vida das
populações, por outro lado, do défice da educação para a cidadania. Para ele, o
único momento em que o povo é “atendido” e encarado como “gente” pelos agentes
político-partidários, é durante a campanha eleitoral. Portanto a duração de
legislatura é o período de calvário do povo. Nota Costa que “é ilusório e
demagógico, exigir de uma população que sofre diariamente com o fenómeno do
desemprego, com a fome, deficiente assistência médica e medicamentosa,
degradação habitacional, que não se exponha à “ Banho” ou que não comercialize
à sua consciência. No que concerne ao défice da Educação para a
cidadania constatada por este autor, tende a relacionar o estímulo de
competências participativas e interventivas à cultura política instituída após
às independências dos nossos países, em 1975. Para ele, os fatores históricos,
como por exemplo, a herança política participativa no regime de partido único,
marcadamente autocráticos, e pela violação dos direitos humanos, não permitiram
criar e desenvolver uma cultura educacional favorável ao exercício da
cidadania. Recordou ainda que o voto secreto e sufrágio universal foram
introduzidos, em São Tomé e Príncipe, em julho de 1975, aquando da eleição da
Assembleia Constituinte, mas durante o regime do partido único, o voto secreto
seria abolido e substituído pela votação de braço no ar. Estes fatores, então,
terão contribuído para a impreparação técnica e cientifica para a promoção de
uma sociedade participativa e interventiva.
O fenómeno “Banho” insere-se
no contexto das relações de luta de classes. Uma realidade nova em Africa, que,
a todo o custo, se pretende institucionalizar. O fenómeno até parece vigorar-se
apenas nas novas democracias dos países lusófonos. E se no interior dos nossos
países se processa desta forma, no exterior é obsequiado e revigora, pela falta
de capacidade soberana na emissão dos boletins de voto. Esta situação tem dado
oportunidade para que haja ingerência nos assuntos internos dos nossos países.
Ao encomendar os boletins, por exemplo, em Portugal, como alias tem acontecido
nos últimos quinze anos, estamos, a partida, sujeitos a comprar gato por lebre.
Os editores externos dos boletins têm, obviamente, a tentação de emitir
boletins a mais, relativamente à quantidade inicialmente solicitada. Quantidade
que depois de secreta e cuidadosamente preenchidos, poderão ser introduzidos
nas costas do povo em áreas eleitorais de fraca influência dos candidatos do agrado
da minoria poderosa.
Abraços!
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