NA KAMBANSA…
É suposto que o Estado, seja ele providencialista ou não, crie condições para que o povo prospere social e economicamente. E que os seus gestores assumam o papel de árbitro e não se confundam ao mesmo tempo com os apanha-bolas, adeptos de uma das equipas em campo, polícias, vendedores de gelados e outras coisas quaisquer. Isto não existe apenas no céu, acontece também no planeta terra. Quando pelo mundo se diz que a Guiné-Bissau fez uma luta brilhante contra o colonialismo português, é porque teve um líder que soube colocar-se por cima de todas as paixões individuais na condução da revolta. É escusado até acrescentar que Amílcar Cabral tinha todas as condições pessoais para viver em paz e na prosperidade com a sua família, se renunciasse a missão de libertar o seu povo das masmorras do colonialismo português.
Aposto que, nós, onde normalmente a situação exige maior concentração e serenidade é precisamente ai que metemos água. Estou a pensar nas várias transições que tivemos. Os gestores dos mesmos nunca souberam colocar-se acima de todas as paixões pessoais. Após cada encruzilhada surgem invariavelmente assombrações e medos. Nada comparado com os bons exemplos de alguns países que estiveram nas mesmas circunstâncias. Estou a pensar em passagens tranquilas de testemunhos como o de Mandiba (Nelson Mandela) na Africa do Sul, Sam Nujoma em Namibia, ou até Ramalho Eanes em Portugal, etc.
Na Guiné-Bissau extrai-se um quisto nasce outro. Alcançado a independência, em 1975, o timoneiro da transição era Luís Cabral. Estava-se em plena Guerra Fria. Mas, o tabu político era a unidade entre os povos da Guiné e de Cabo Verde. Quem contestasse esse projeto político era ideologicamente associado aos assassinos de Cabral, aos tugas, podendo ser preso e até fuzilado. Nino Vieira que era um ídolo da luta de libertação capitalizou o descontentamento silencioso da população e derrubou-o. Este, alcançando a tripeça do poder deu início a purga étnica no seio das forças armadas, algo idêntico ao caso Nito Alves em Angola. Nino Vieira geriu atabalhoadamente a transição a economia de mercado e ao multipartidarismo que culminou no conflito político-militar em 7 de Junho de 1998. O assassinato (1 e 2 de Março de 2009) de Nino Vieira e do CEMGFA, Tagme Na Waie – em pleno exercício das suas funções - nunca foi investigado e julgado.
Nesta época era Carlos Gomes Júnior o Primeiro-ministro. Entraríamos, então, a conta disso numa era ensombradíssima por esse fato. Realizam-se eleições presidenciais apenas e ganha Malam Bacai Sanha que passados dois anos morre em 9 de Janeiro de 2012, vítima de doença prolongada no hospital militar Val-de-Grâce de Paris. O Governo de Carlos Gomes Júnior enfrenta várias manifestações da oposição ainda antes da morte do Presidente Sanha, exigindo investigação sobre as mortes ocorridas no seu consulado. Ainda o seu governo sofreu um forte abalo sísmico em 1 de Abril de 2010, com um levantamento militar. Nesse dia foi possível libertar Bubo Na Tchuto da sede da ONU onde refugiara há mais de três meses. Em 12 de Abril de 2012 o governo de Carlos Gomes Júnior é derrubado.
Eis-nos de novo em situação de transição. Procura-se um timoneiro visionário que consiga resgatar o povo do abismo em se encontra, renovar a esperança aos cidadãos guineenses, e realizar a passagem de testemunho de forma sábia, sem tabus e fantasmas que possam ensombrar o futuro das próximas gerações. A liberdade é nostálgica na alma do povo! Desejamos que o jogo corra com maior tranquilidade possível. No futebol, quando o árbitro exibe cartão vermelho a um jogador por infração, esse jogador não se retorna ao campo, nem o cartão volta para a algibeira do árbitro.
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