sábado, 15 de junho de 2013

“COISAS NOSSAS” Cuidado.

 “Coisas” para os que não estão subjugados pelo preconceito e não queiram quedar-se na ignorância! Nem posso e nem tenho a pretensão com esta pequena contribuição de esgotar a reflexão sobre esta temática. Tem-se registado, de fato, muitas contrariedades políticas na nossa terra, mas o caso do ex-Primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior, assemelha o de uma pessoa adúltera que atira a responsabilidade pelo fracasso do matrimónio ao parceiro, espalhando a sua versão à vizinhança, sem nunca revelar o seu verdadeiro comportamento em casa e em família. Só por esta razão merece uma reflexão séria. 

O passado serve o presente como a tijela comporta a comida para nós. Mas, prometo ser breve! É do conhecimento geral que a participação na luta armada na Guiné limitou-se essencialmente aos grupos étnicos do litoral, animistas-cristãos. Quanto aos do interior-leste – de predominância islâmica - podia-se registar uma participação algo esporádica e ocasional. O mesmo não acontecia com os beafadas (animistas-islâmicos e mestiços com os mandingas) que tiveram uma participação maciça na luta armada. O batuque conhecido por sikó que animava os guerrilheiros e que se tornou património nacional é originário deste grupo étnico. Tudo isto vai ter uma grande influência na composição do nosso exército “post mortem” da luta, digamos assim. Isto é, na pós-independência! É preciso acrescentar que – já agora que estamos afalar dos grupos étnicos – no Sul e nem tanto no Norte do país, quem teve o protagonismo da luta foram indiscutivelmente os balantas. Não é por acaso que, por exemplo, o filho primogénito de Mário Cabral se chama Pansau! Manuel Nadigna quando foi Angola disfarçado de Embaixador, para apoiar o MPLA na proclamação da independência, era balanta ou guineense? Não, respondam, porque a questão é séria e não estamos a brincar às escondidas!

Ora, voltando a questão inicial, é chegado à independência, e era suposto que as forças armadas fossem adaptadas aos desafios dos tempos da paz e de liberdade. Na época, o “Muro de Berlim” não tinha sido derrubado ainda pela “perestroika”! Portanto, somos de comum acordo de que a mudança nesse setor fosse verdadeiramente republicana. Era justamente neste período que deveria acontecer as transformações no funcionamento do Estado, no seu todo. Nada disso aconteceu! E, como acontece em todas as guerras, houve traumas da guerra. Eles transladaram-se automaticamente para a nova era, sem nunca terem sido observadas e tratadas. Como se pode verificar, tivemos vários timoneiros no período pós-independência. Referimos isso ainda aqui nos artigos anteriores. Desde Luís Cabral passando por Nino Vieira, Kumba Yalá, Malam Bacai Sanhá, apenas para citar os que foram de alguma forma sufragados nas urnas. Entre estes quatro personalidades políticas nacional, dois tentaram - cada um a seu jeito - introduzir mudanças no seio da sociedade castrense: Nino Vieira e Malam B. Sanhá! O primeiro (Nino), fê-la, cometendo genocídio étnico contra os seus próprios camaradas de trincheira. Falamos do célebre caso 17 de Outubro de 1986, que decapitou a cúpula inteiro da nossa estrutura militar. O alvo a abater eram os balantas! Porquê? O fenómeno nunca foi investigado. Mas, sabe-se - pela boca do povo - que teria sido uma maquinação, “inventona”, do tipo KGB! Quem não se recorda do assassinato do Coronel Paulo Correia e do Dr. Viriato Pã? 


Em 7 Junho de 1998 rebentou o conflito político-militar que juntou o povo ao lado dos militares contra o então Presidente da República, Nino Vieira, numa guerra urbana que durou cerca de 11 meses. Quando tudo parecia resolvido e em paz, surgem novo profetas propondo reforma nas forças armadas. O falecido Presidente Malam Bacai Sanha assume o protagonizada da reforma, aquinhoada pelo ex-Primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior. O desenho foi concebido pelos dois “paigcistas”, justamente na sequência do levantamento de 1 de Abril de 2010. Havia ocorrido nesse dia um cismo de magnitude baixa, mas que deu para decidir a destituição de Zamora Induta e a subsequente libertação do Contra-almirante Bubo Na Tchuto, exilado durante três meses na sede da representação da ONU em Bissau. Os dois líderes introduziram a missão angolana, Missang, na Guiné-Bissau. Existem provas palpáveis, de que o objetivo dessa missão de cerca de duzentos militares equipados e armados com armas pesadas, carro de combate e tanques blindados sofisticados, no nosso território, visava um fim único: aniquilar os balantas e assegurar a vitória estapafúrdia de Carlitos nas presidenciais de 18 de Março de 2012! A Missang foi filha de um cônjuge guineense e angolano, concebida arrebatadamente, sem ter sido ratificada pelos parlamentos dos respetivos Estados. E tinha estampada na cara um cunho mercenário e tribalista. Graças a Deus terminou como terminou, sem que houvesse derramamento de uma gota de sangue sequer, dos filhos de dois povos irmãos. 

O mundo continua, pois, a cogitar uma reforma no setor em questão, a partir de critérios tribalistas fornecidos pelo senhor Carlitos. Como se sabe, aqui na Guiné-Bissau, somos um povo livre, nem o colonialismo português conseguiu transformar-nos na sua imagem e semelhança. O país tem 36. 125 Km2, situado na Africa Ocidental e formado por um mosaico étnico harmonioso. Onde a etnicidade não choca com a nacionalidade do país. Neste contexto, portanto, nenhuma proposta tribalista terá acolhimento. Aliás, é imperdoável confundir uma proposta com as intrujices do dito-cujo e seus apoiantes da CPLP! 

Lanço o repto aos céticos no sentido de arregaçarem as mangas, descer dos seus pedestais e vejam in loco a gestão danosa praticada pelo PAIGC durante os quarenta anos da sua governação na nossa Guiné profunda. Quando se criticava o PAIGC do fato de nunca ter feito nada de bom para o país, Carlos Gomes Júnior respondia sempre com cinismo e em crioulo dizendo: anos ku dânal anos kuna kumpul! Portanto, eles até reconhecem! Mas, o que sempre escutei é que “quem nasce torto, torto há-de morrer”. Como já tivemos a ocasião de referir, internamente, o PAIGC jogou já todas suas cartadas, por isso agora só na intrujice com audiências externas, nos palcos da CPLP e nas mentes delirantes de Ramos-Horta, etc.. É o que se pode constatar politicamente à medio prazo aqui na terra, salvo reinvente uma instabilidade interna. Já se perfilam os apoios da Internacional Socialista a fim de o resgatar da perdição, mas duvido que este paliativo venha fazer milagres a um saco esfarrapado. 


Mãe natureza deu aos animais formas de sobrevivência. Aos leopardos deu garras que usam tanto na caça como na recreação. Os seus tratadores correm sempre graves riscos de se transformar em banquete para o animal, porque as suas garras são faca de dois gumes. A comparação pode ser traiçoeira, mas o instinto de sobrevivência animal é legítima! O Estado não é constituído apenas por um setor. Digo por ligeireza de análise, resolveu-se eleger as forças armadas como os maus da fita. Não querem admitir que a calamidade da gestão danosa não atingiu apenas o setor castrense. Ela alastrou-se a todas as áreas da vida em sociedade: justiça, ensino, saúde, energia, saneamento básico, águas, etc.. O fenómeno é geral. A desfiguração do setor em questão pode até resultar da degradação do ensino no país, e não só. Os clamores dos professores através das sucessivas greves são constantes. Os hospitais públicos não têm dinheiro para comprar ligaduras para os doentes. Os magistrados sem gabinetes e sem secretárias. A iluminação não é pública, tanto nas cidades como nas vilas. Não há água potável para todos. Pergunto: que sociedades os nossos timoneiros idealizaram para nós? Será que a responsabilidade política de galvanizar o povo através de um projeto de sociedade cabe aos professores, aos magistrados, aos enfermeiros e médicos, aos militares, ou aos políticos? Sim, é disso que temos de falar, porque estamos a viver hoje é o resultado do que foi pensado ontem. A ideia de que, na Guiné-Bissau, os sonhos dos políticos são constantemente abortados pelos militares, não corresponde a realidade. Senão, as outras áreas não estariam no estado de indigência total em que se encontram. Aliás, não é preciso grandes estudos, basta compararmos as fortunas dos políticos como Carlos Gomes Júnior e a situação dos militares, enfermeiros, juízes, professores, etc., e seu familiares, para sabermos quem prevarica quem e o quê, na nossa terra.


Por isso, na minha opinião é uma fantasia atirar a culpa do nosso insucesso aos militares e aos balantas. A responsabilidade pelos sucessivos fracassos no progresso do nosso país cabe e caberá sempre aos políticos, porque são eles que como noivos oferecem flores e prometem em comícios públicos paraísos às noivas e na hora da verdade sacodem água do capote. Pedimos, apenas, a esses intriguistas que não transformem o nosso país numa nova Ruanda, distinguindo-o em tutsis e hútus. Não somos mais do que um milhão e novecentos mil almas, um povo de laços e ligações parentais fortes, em que cada guineense é a conjugação e representa de pelo menos três etnias, ao mesmo tempo...  

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