quinta-feira, 22 de agosto de 2013


21 Agosto 2013 
Luanda - Começo por dizer que escrevi este texto num momento em que estou a ler o livro com o título, " Angola a segunda revolução; Memórias da luta pela democracia", do autor Jardo Muekalia. É um livro que retrata um momento político muito conturbado em que muitos angolanos acreditando na liberdade partiram para as matas para combater aquilo que chamavam a ocupação, soviético-cubana facilitado por então inimigo o MPLA. "Acreditavam eles que estavam em face de uma nova colonização, pois, os Soviéticos servindo-se de Neto e Cubanos estavam a governar o País contra a vontade do povo Angolano"( Jardo Muekalia).
Fonte: Ponto Final
É um livro que retrata as muitas façanhas vividas por pessoas nas matas que acreditando que era possível com a luta fazer ouvir as suas vozes aderiram a segunda revolução para trazer a democracia para Angola. Sinceramente hoje não consigo entender de onde tiravam a motivação para tanta coragem. A explicação talvez seja o facto de que muitas dessas pessoas vinham das bases da guerrilha colonial e que a revolução se imponha porque só tinha mudado os actores políticos mas o objectivo da guerra era o mesmo ao do tempo colonial, isto é, a nova colonização soviético- Cubana . Aprendi com o livro que a liberdade conquista-se realmente com muito sacrifício. Muitos de nós hoje com algumas cacetadas da policia na praça de independência intitulam-nos de revolucionários ou com uma mera discriminação laboral, social, familiar, em função das nossas opiniões chamam-nos de corajosos, revolucionários, suicidas, malucos etc, talvez não conheçamos o verdadeiro sacrifício da liberdade. Realmente só posso concluir como um historiador disse «aquelas pessoas fazem parte de uma geração de patriotas raros». Recorde-se que a União Soviética era a maior potência mundial e portanto afronta-lá é como nos nossos dias declarar guerra contra America. confesso que hoje eu não ousaria ter a coragem de tal façanha.

Entrando já no tema, declaro aqui neste espaço, que faço parte dos Angolanos que quer e defende uma mudança profunda em Angola, não só porque noto uma desgovernação total do País da parte dos nossos dirigentes hoje, mas também porque sou daqueles que acredita que quando mudamos, mudamos sempre para melhor. Digo vezes sem fim que requere-se mudança urgente em Angola, bastando para tal direccionar as nossas forças lá onde são realmente necessárias. Oiço muitas vezes e até tornaram-se expressões na moda segundo as quais as ditaduras não caiem por intermédio de eleições. É uma frase bastante comum e não gera controversas, só que ao mesmo tempo muitas pessoas criticam os partidos políticos da oposição, ( sobretudo a UNITA) acusando-os de nada fazerem para de uma vez por todas acabar-se com esse regime que nos amordaça mais e mais a cada dia que nasce. Ora, para que se realize eleições é necessário que haja um espaço democrático, ou seja, tem que existir partidos políticos que através dos seus programas digladiam-se( no bom sentido) para convencerem o povo a aderir os seus programas. Se não é possível tirar as ditaduras por meio de eleições, então não é tarefa de partidos políticos tirar as ditaduras do poder. Um verdadeiro partido político, só chega ao poder por intermédio de eleições, pelo que não sendo possível através deste meio, então são outras entidades ou instituições responsáveis de executar tal tarefa.

Para uma melhor compreensão e por forma a sustentar a nossa tese, vamos socorrer- nos da história buscando alguns exemplos de países que viveram os regimes ditatoriais. Devo confessar em primeiro lugar a minha ignorância pela ciência em matéria da história pelo que os exemplos apresentados aqui provavelmente reflitam essa minha ignorância. São muitos os países que viveram os regimes ditatoriais no século XX , e vamos trazer na berra o Chile (1973) o Brazil (1964), a Argentina(1976) e já no século XXI o Egipto, a Líbia, e a Tunísia só para citar alguns. Em todos esses países tirando um ou outro, so foi possível a normalidade democrática mediante a uma pressão social muito activa. No Chile através do plebiscito foi possível afastar Augusto pinochet na presidência o que foi abrindo o País para a democracia, enquanto no Brasil e na Argentina como consequência das manifestações dos estudantes e outras classes, fruto das crises econômicas foi possível mudanças que levaram esses países para a abertura democrática. Ja recentemente a chamada primavera árabe que todos nós conhecemos, acabou com os regimes ditatoriais do Egipto, Líbia, e da Tunísia, apesar ainda de alguns contrapassos que são próprios dos processos democráticos. Não se notou nestes países um partido político que tenha se notabilizado ou que tenha chamado para si a autoria de derrubar esses regimes.

Para o nosso caso muitas pessoas querem que a UNITA lidere uma manifestação popular para derrubar o actual regime, pois acho que seria um erro crasso, pois, a UNITA é um partido bastante martirizado. Acreditando nessa luta e nos ideais da democracia durante muitos anos levou a cabo uma luta para implantar a democracia em Angola, o que matou milhares de pessoas, incluindo crianças, jovens e até os seus principais dirigentes. Muitos de nós que hoje exigimos da UNITA mais acção fomos nós que lutamos contra ela, somos nós que quando o Savimbi morreu saímos as ruas festejando, somos nós que pejorativamente os chamávamos ou chamamos de kwatchas, de canibais assassinos etc, etc. Boa parte dos membros e lideres de partidos políticos da oposição hoje, são os mesmos que durante muitos anos serviram e alimentaram esse regime colocando-o no patamar que hoje se encontra. Acho que se a UNITA tentar um acto de liderar uma manifestação, corre-se o risco de se repetir os acontecimentos de 1992, e pela conjuntura actual, não só poderia vitimar muita gente ainda como o próprio partido corria o risco de se extinguir totalmente que é o objectivo do regime. Claro que existem coisas que pelo papel que os partidos representam já ha muito que deveriam ser ultrapassadas. Estou ciente de que não há democracia sem partidos políticos, mas não entendo que passado muitos anos os partidos da oposição não consigam fazer passar uma mensagem se quer nos órgãos de comunicação social públicos. Ja não se tolera que os partidos políticos da oposição não consigam fazer uma reunião ou comício sem serem impedidos por capangas do regime ( policia nacional), ou ainda deixar os seus membros aos caprichos de alguns elementos identificados que os batem e na pior das vezes os matam sem uma acção séria para reprimir e condenar os prevaricadores. Isso sim já a muito os partidos deveriam combater. Mas no essencial os partidos políticos da oposição têm de se dedicar hoje essencialmente em matérias de educação de uma cidadania activa. As ditaduras não funcionam com regras, tenho dito nas conversas com amigos, que neste momento não há um partido a governar Angola. Não é o MPLA que esta a governar-nos porque ( não conheço os estatutos do partido) não se entende que um partido sem congresso eleja um membro vindo de outra província como seu secretário provincial, ou uma pessoa sem carreira política seja imposto para substituir o presidente nos casos extremos. Estamos a ser governados por um grupo de pessoas que tendo feito refém o partido praticam actos em nome deste ao estado Angolano.

Portanto, a situação actual não é de partidos é sim uma situação de todos os cidadãos, é preciso envolvermo-nos todos na revolução quer sejamos do MPLA, da UNITA, FNLA, CASA-CE, e outros. Quando criou-se a CASA-CE e na intenção que o Abel Chivukuvuku tinha de dar mais alento a vida política nacional (acreditando ele que a UNITA estava na letargia e era preciso uma outra força política mais dinâmica) muitos aderiram essa causa pensando que a curto prazo seria possível uma victoria nas urnas, mas a verdade é que hoje o projecto CASE-CE parece-me igual aos outros já existentes. Parem de pressionar a UNITA ( se é que o fazem por boas razões) e envolvam mais o povo para esta luta . As ditaduras caiem apenas com revoltas populares ou através de um golpe militar, o que para Angola é pouco provável que aconteça. A UNITA já fez o suficiente, implantou o multipartidarismo em Angola e continua na luta para uma democracia efectiva. O povo Angolano não pode continuar a ser levado nas costas dos partidos políticos é preciso que tenha liberdade própria, tem que conquistar a liberdade com seus próprios meios porque só assim teremos verdadeiramente uma democracia estável e duradoura. Portanto a responsabilidade de correr com essa ditadura não é só dos partidos da oposição é sim de todos nós, é do povo angolano, das associações cívicas, das igrejas, dos movimentos estudantis que devem em conjunto se empenharem nas questões da educaçao para cidadania, mobilizando o povo para a necessidade urgente da mudança em Angola. Desta vez não tem de ser um partido a carregar o fardo de lutar a favor dos direitos e liberdades do povo, tem de ser o próprio povo a fazê-lo e com as próprias mãos.
 José Macuva

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