A ascensão e queda de Isabel dos Santos aos olhos da Forbes. Da fortuna à falência
O fenómeno Isabel dos Santos não passou despercebido à edição norte-americana da revista Forbes, que dedicou um artigo de investigação à ascensão e queda daquela que foi em tempos a mulher mais rica de África. Há oito anos, a mesma publicação indicava que a filha do antigo presidente de Angola valia cerca de 3,5 mil milhões de dólares.
Agora, o cenário é outro. Acusações de corrupção, activos congelados pelos tribunais em três países diferentes e um processo legal que reclama centenas de milhões de dólares em dívidas num quarto país fazem parte do horizonte actual de Isabel dos Santos. De acordo com a Forbes, as probabilidades de a empresária voltar a ter acesso aos seus bens, na ordem dos 1,6 mil milhões de dólares, são muito reduzidas e, estando congelados, perderam o seu valor.
Por isso mesmo, nas contas da publicação, Isabel dos Santos já não é bilionária e não consta na lista das pessoas mais ricas de África disponibilizada este mês. Em Janeiro de 2020, a empresária tinha uma fortuna estimada de 2,2 mil milhões de dólares. Hoje, nem é considerada para o ranking.
Ainda assim, a Forbes ressalva que Isabel dos Santos não perdeu qualidade de vida, uma vez que terá uma casa numa ilha privada no Dubai, bem como outa residência em Londres e, ainda, um iate de 35 milhões de dólares. Existe também a possibilidade de existirem contas e activos que a Forbes desconheça e aos quais as próprias autoridades legais não consigam ter acesso. Rumores indicam que Isabel dos Santos divide o seu tempo entre o Dubai, onde o marido Sindika Dokolo morreu em Outubro do ano passado, e Londres.
Mas quem é Isabel dos Santos e como chegou até aqui? Filha mais velha de José Eduardo dos Santos, foi acumulando participações significativas em empresas de áreas como banca, diamantes ou telecomunicações enquanto o pai esteve no poder. Mais de metade dos seus activos correspondia a participações em empresas portuguesas o que, de acordo com a mesma publicação, lhe conferia credibilidade a nível internacional.
Em 2013, recebeu o título de bilionária por parte da Forbes pela primeira vez, gerando uma onda de notícias em que o governo angolano descrevia o feito como motivo de orgulho nacional.
Para dar conta do cenário em Portugal, a Forbes aponta a Ana Gomes, antiga eurodeputada e candidata às eleições presidenciais cujos resultados foram conhecidos ontem. Citada por esta publicação, indica que as empresas em que Isabel dos Santos investia ignoraram a fonte questionável dos seus fundos, sublinhando que sempre suspeitou de lavagem de dinheiro. No início do ano passado, Isabel dos Santos processou Ana Gomes por difamação, mas perdeu o caso.
O princípio do fim remontará a 2017, quando o pai de Isabel dos Santos foi substituído por João Lourenço na liderança de Angola. O novo presidente comprometeu-se a atacar a corrupção no país, tendo mesmo demitido Isabel dos Santos da presidência da petrolífera estatal Sonangol. Mais tarde, em Dezembro de 2019, um tribunal angolano congelou os bens da empresária e do marido no país. Um mês depois, o procurador-geral acusava ambos de branqueamento de capitais e lavagem de dinheiro.
O Luanda Leaks foi o passo seguinte no caminho de destruição de Isabel dos Santos. Também em Janeiro de 2020, vários documentos com detalhes sobre os activos de Isabel dos Santos são tornados públicos. Um dos pormenores que mais deu que falar prende-se com a alegada compra de uma participação da Galp no valor de 75 milhões de euros por apenas 11 milhões de euros.
Os activos começaram, então, a ser congelados. Depois de Angola (activos no valor de 300 milhões de dólares), também Portugal e Holanda optam por este caminho enquanto investigam os negócios de Isabel dos Santos (1,3 mil milhões no total destes dois países).
Os processos judicias, porém, não têm fim à vista e Isabel dos Santos continua a poder movimentar-se livremente entre países, por exemplo, embora a sua vida tenha sofrido alguns golpes. «Isto mostra que em muitos destes locais autoritários, o poder económico deriva do poder político, e não ao contrário. No momento em que se perde poder político, pode-se ser conquistado. Fica-se vulnerável em todo o Mundo», remata Ricardo Soares de Oliveira, professor de Oxford.