A ONU NÃO FALHOU NA GUINÉ-BISSAU
Eu já ouvi e li várias declarações sobre o fim da missão da ONU na Guiné-Bissau.
Muitos políticos e analistas dizem que a missão da UNIOGBIS falhou, mas são poucos os que conseguem enumerar factores convincentes sobre as tais falhas.
A ONU não falhou.
A ONU fez o que podia fazer, dentro das circunstâncias do país e dos limites do seu mandato.
A missão da ONU não era para gerir o país constitucional, administrativa e tecnicamente.
Quem falhou nestas duas décadas (1999 - 2020) é a própria Guiné-Bissau que não teve interlocutores à altura dos seus desafios (e da própria missão da ONU).
Tivemos um país que não conseguiu falar numa única voz;
Um país que não conseguiu olhar para uma direcção;
Um país que não conseguiu se sentar numa mesa;
Um país onde individualidades se confundiram com o Estado;
Um país onde alguns partidos foram (e continuam) mais fortes que o próprio Estado;
Um país onde os egos individuais foram sinônimos dos interesses da nação;
Um país que não quis (ou não soube) se entender, simplesmente.
Os críticos da ONU devem compreender que o trabalho da liderança "adaptativa" nunca devia ser transferido para uma organização, seja ela regional ou internacional.
Como sabiamente articula o académico e o Professor Ronald Heifetz, o acto de mobilização de um grupo de pessoas para confrontar desafios difíceis (e sair vitorioso no processo) requer uma percepção profunda de uma sociedade.
A Guiné-Bissau precisa de fazer um trabalho profundo para se compreender o que está mal. E esse trabalho será lento, penoso e em incrementos. Ele nunca poderá ser encomendado ou exportado para um gabinete de consultoria internacional. Ele terá que ser desenvolvido por guineenses, preparados e prontos para confrontar todas as adversidades sociais, culturais, religiosas e políticas.
E ele certamente não será um trabalho meramente técnico.
Um tal trabalho não é (e nunca será) da responsabilidade da ONU.
Quanto mais cedo reconhecermos esta realidade, mais cedo podemos começar o desafio de auscultação e da construção da nossa nação, contando, claro com os bons ofícios dos nossos parceiros bilaterais e multilaterais.
-Mestre Umaro Djau
31 de Dezembro de 2020