PEDRO PIRES: AS COSTAS QUENTES DE CADOGO JR
“O regresso de Amílcar Cabral”, é o título das primeiras imagens (vídeo), algumas inéditas, captadas em bruto antes da independência da Guiné-Bissau, há 40 anos, pelos realizadores guineenses Flora Gomes, Sana Na N`Hada, Josefina Castro e José Columba. O mais relevante não é o vídeo, mas sim o que o título do trabalho, por si só, pretende invocar. Parece anunciar o dia do juízo final, ou uma espécie da “desforra” política colocada sempre na ordem do dia no seio do movimento libertador (o PAIGC), acossado pelas suspeitas de cumplicidade no assassinato do seu líder fundador, Amílcar Cabral, a 20 de Janeiro de 1973, em Conacri.
Nos primeiros anos da independência, o slogan da unidade da Guiné e Cabo Verde, era uma espécie de baroscópio pelo qual o regime media o grau da consciência patriótica dos cidadãos. O tema era sagrado e incontestável. O nacionalismo estreito era associado denegação dos princípios do PAIGC. A situação era idêntica a que se vive, ainda hoje, na Correia do Norte em relação aos seus guias da revolução. Tudo era ideológico! Profanar estes princípios significava conspirar-se contra a soberania do Estado. Na Guiné-Bissau, o partido (o PAIGC) era implacável na perseguição e captura dos contestatários do princípio da unidade Guiné e Cabo Verde, que se tornara, praticamente, “bíblico”.
O espetro do assassinato de Amilcar Cabral é comum a Pedro Pires e ao jornalista do semanário Expresso, José Pedro Castanheiras. Se para um o objetivo é ilibar o colonialismo português, para o outro, a chave do enigma foi achada. Para Pedro Pires, o inimigo era tudo o que na sua consciência não fosse “civilizado” ou mestiço (cabo-verdiano). Pelo que não adianta tentar entreter o pagode, apontando o dedo a Spínola pelo assassinato do líder. Pedro Pires – como já tivemos a ocasião de dizer - fazia parte da comissão de inquérito sobre a morte de Amílcar Cabral, que mandou assassinar centenas de guerrilheiros, acusados injustamente de terem participado nesse hediondo crime. Para além do sorriso e dos ombros que o antigo Presidente de Cabo verde costumava encolher quando fosse confrontado com a realidade dos fatos, também respondia que naquele tempo não havia prisão para toda essa gente.
Os tempos eram outros até, o da guerra, e podiam-se esfriar os ânimos tanto de um lado como do outro. Mas, não foi isso que aconteceu. O “Regresso de Amílcar Cabral” parecia, a cada dia que passava, uma saga política ou dia do juízo final. Os líderes políticos de ambos os lados (Guiné e Cabo Verde), tratara-se de trasladar as suas divergências para os momentos a posteriori, da independência e da paz.
Recordo que em 14 de Novembro de 1980, Nino Vieira derrubou Luís Cabral, fato que contribuiu para a imediata apartamento da ala cabo-verdiana e no culminar da criação do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV). Nino Vieira, dirigiu o país com “mão de ferro” durante mais de três décadas. Durante todo esse período não havia colaboração que se podia esperar fraterna entre os dois Estado desvaneceu-se. Em 7 de Junho de 1998, Nino Vieira enfrentara uma rebelião militar que durou cerca de onze meses, tendo-se, então, exilado em Portugal, durante cinco anos. Regressara depois ao país para concorrer às eleições presidenciais de 19 de Junho de 2005. Nesse escrutínio, Nino tinha passado a segunda volta. E o duelo era com Malam Bacai Sanhá, candidato apoiado pelo PAIGC. Kumba Iala que tinha ficado em terceiro lugar, declarara o apoio a Nino vieira. A conta disso, no dia 3 de Junho do mesmo ano, na cidade de Praia/Cabo verde, em trânsito para Portugal, o então Primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior, declarava: "Nino Vieira conhece-me bem e eu conheço-o bem. Ele é um mercenário, traiu o povo da Guiné-Bissau e nós vamos combater arduamente para que ele nunca mais consiga o poder no país, porque esta gente não tem mais lugar na arena política guineense". Prometia ainda demitir-se caso Nino Vieira ganhasse as presidenciais. Falava na "impossibilidade de coabitar com um bandido que traiu o povo". Todavia, não chegou a ser necessário tomar, ele próprio, a iniciativa de se abdicar do cargo. Nino, ao vencer o escrutínio, e após as cerimónias de empossamento, a 1 de Outubro de 2005, tratou-se de o destituir, colocando Aristides Gomes como Primeiro-ministro.
Pedro Pires encontrara na pessoa de Cadogo Jr, o parceiro ideal para se vingar de Nino Vieira pelo golpe de Estado cometido contra Luís Cabral, em 1980. Em 2 de Junho de 2009, participava no óbito - primeiro na Igreja de São João de Deus e depois no cemitério do Alto de São João, em Lisboa - daquele que foi o primeiro Presidente da República da Guiné-Bissau, Luís Cabral, tendo vincado o que, profundamente, o chocava em tudo isso, dizendo: "É crucial que uma pessoa não seja forçada a viver no exílio quando faz um esforço, faz um trabalho, dedica-se e consegue contribuir, e de que maneira, para a independência do seu país e depois, no fim, vive no exílio". O que provava que o antigo Presidente de Cabo Verde não estava alheio ao que se passava no nosso país.
Passado um ano, em 8 de Junho de 2010 - após o duplo assassinato de Tagme Na Wie e Nino Vieira, que ocorria 1 e 2 de Março 2009; do levantamento militar de 1 de Abril que depós Zamora Induta, e dos assassinatos, por um esquadrão militar, do deputado Hélder Proença, e do candidato presidencial Baciro Dabó, e dos respetivos guarda-costas, a 1 e 2 de Junho de 2009, respetivamente, a mando do Governo liderado por Carlos Gomes Júnior, e do seu CEMGFA na altura (Zamora Induta), porquanto em declarações públicas proferidas pelos mesmos a motivação das mortes era uma tentativa de um golpe de Estado, mas que mais tarde o Ministério Público viria a desmentir. As conclusões do Ministério Público enfureceram o Presidente Sanhá.
Estava-se na iminência, portanto, de uma grave crise política, motivada pela falta de confiança política, e que terá levado o então Primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior a apresentar a sua demissão ao Presidente da República, num encontro entre ambos em País. Nesse dia, o Presidente de Cabo Verde, Pedro Pires, prontificou-se a servir de medianeiro, na capital francesa, no encontro entre o seu homólogo da Guiné-Bissau, e o suposto demissionário, Carlos Gomes Júnior. Dizia-se, na imprensa publicada, que o encontro decorreu "num ambiente de franca cordialidade". Mas, o que vinha à tona era que o apadrinhamento político do Cadogo Jr, por parte de Pedro Pires falou mais alto. O que terá levado o referido presidente a redobrar os esforços no sentido de “atalhar” a ameaça de afastamento definitivo que pairava sobre o seu protegido.
De fato, o último grande golpe contra a estratégia dissimulada de Pedro Pires, foi quando os militares puxaram o tapete ao regime do seu afilhado, no contragolpe de 12 de Abril de 2012. Na verdade, quem sofrei o golpe foi o Presidente Interino, Raimundo Pereira. Porque tendo ele abandonado a função de Primeiro-ministro para se transformar em candidato às eleições presidenciais, como um cidadão que acabara de transgredir a Lei do país. Não passava, portanto, de um usurpador! Foi a partir dessa altura que começaram os delírios e campanhas sujas contra o Estado da Guiné-Bissau, em que Cabo Verde tomou a linda da frente como guarda pretoriana da Europa e da CPLP. Houve, inclusive, um período em que lançava a pedra e escondia a mão. Mas, quando as forças da MISSANG se retiraram, chegou o desespero, os alvoroços tornaram-se mais ensurdecedores. No dia 28 de Março deste ano, a VOZ de América noticiava que, o Primeiro-ministro de Cabo Verde, José Maria das Neves reuniu-se com o seu homólogo Americano, Barack Obama em Washington, tendo permitido aos dois responsáveis políticos, para além de trocarem impressões sobre a cooperação bilateral, assim como os desafios regionais e internacionais no que toca a democracia, segurança, tráfico de drogas na Africa Ocidental, etc., abordam a situação política na Guiné-Bissau. No dia 2 de Abril do Bubo Na Tchuto foi capturado na ilha de Caravela pelos agentes pertencentes a DEA contra o narcotráfico, com ajuda dos polícias cabo-verdianos. Período a partir do qual, os seus ataques tornaram-se mais visíveis e ousados contra a soberania do nosso país. Conclusão: Pedro Pires (e Cabo Verde), em total desespero de causa, socorre-se de paliativos para deitar fogo a todo o edifício construído por Cabral.
O cessar-fogo dependerá de Cabo Verde…
Abraços do Doka Internacional