O ESTADO DA
JUSTIÇA
Caros
conterrâneos, é verdade que durante os últimos quarenta anos de independência,
por razões óbvias, a Justiça nunca funcionou no nosso País. Entretanto, não
acredito que esta triste realidade inerente a um passado sinistro que decidimos
enterrar definitivamente com as escolhas que fizemos nas últimas eleições
gerais, possam servir de justificação para manter tudo na mesma. Ou seja, nos
últimos quarenta anos não se fez nada de positivo para que a justiça pudesse
funcionar e, hoje, quando finalmente estamos em condições de o fazer,
preferimos pressionar, insultar, ameaçar,
difamar e desacreditar tudo e todos, os que por inerência devem contribuir
com os seus esforços e seus saberes para que finalmente possamos falar de JUSTIÇA na Guiné-Bissau.
Estamos
conscientes das fragilidades do nosso Estado e consequentemente da nossa
democracia e nelas reconhecemos as razões de tantas turbulências que ilustram a
nossa história recente: golpes e contra-golpes, perseguições políticas,
torturas, assassinatos, etc. É nesse contexto que a dinâmica do desenvolvimento
global no Sec. XXI com todos os seus envolventes, nos coloca perante um dilema
muito complicado: continuar tranquilos na nossa zona de conforto a cometer os
erros do passado ou arregaçar as mangas e juntos, mas todos juntos sem excepção
(TODOS CONTAM neste histórico e
grandioso projecto), dar o nosso melhor para que finalmente na Guiné-Bissau
floresça um Estado forte, verdadeiramente democrático e respeitador dos
Direitos Fundamentais e onde a Justiça terá impreterivelmente um papel
preponderante.
Da
impecabilidade do estado da Justiça dependem tanto o fortalecimento das
Instituições do Estado, como a consolidação e credibilização do Estado no seu
todo e da própria democracia, ou seja da inequívoca garantia da Paz e da
Estabilidade Social. E neste trilho, não há espaço para tolerâncias ou “estados
de graça” – “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em
dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para
com os outros em espírito de fraternidade”.
Caros conterrâneos, sem uma Justiça funcional, independente, transparente e imparcial, Não se
pode falar de Ordem Pública, de Atracção de Investimentos, de Relações de
Confiança, de Respeito, Parceria e Cooperação entre Estados e Povos. Assim como
não se pode falar de Paz, de Estabilidade, de Progresso e Desenvolvimento
socioeconómico. E naturalmente, não se pode falar de um futuro melhor.
Não devemos esperar que a Justiça funcione de
acordo com as conveniências dos nossos interesses pessoais, familiares e/ou
corporativos, porque estaríamos sem dúvidas a contrariar os nossos próprios
esforços e a adiar permanentemente a inserção do nosso País no contexto das
Nações Livres e Progressistas do Mundo.
Amigos e irmãos, presumo que todo o Mundo esteja
a acompanhar com muito interesse e muita atenção o braço-de-ferro entre o
Governo e o Poder judicial, derivado das acusações de crime de corrupção
activa, branqueamento de capital e enriquecimento ilícito que pendem sobre
alguns membros dum executivo que chegou ao Poder com a promessa de Combater à
Impunidade. Mas que, sendo o visado neste caso, declara uma guerra sem tréguas
ao Poder Judicial, com o propósito de chamar à si a exclusividade de ser impune (a prerrogativa de violar a Lei sem
consequências).
O Primeiro-ministro, que devia se preocupar
sobretudo com a imagem do Estado e do Governo e exigir a demissão dos visados,
saiu em sua defesa, alegando “presunção
de inocência” – “Toda a
pessoa acusada de um acto delituoso presume-se inocente até que a sua
culpabilidade fique legalmente provada no decurso de um processo público em que
todas as garantias necessárias de defesa lhe sejam asseguradas”. Um
fundamento realmente muito forte, mas que neste caso concreto carece de
sustentabilidade, na medida em que os acusados são detentores do Poder Político
exercendo funções que lhes permitam influenciar o curso da investigação.
Por conseguinte, para que a Justiça funcione com a
necessária liberdade, transparência e objectividade, e por uma questão de moral
e ética política, presume-se que todos os membros do Governo, assim como de
outros Órgãos de Soberania com contas a prestar a Justiça, se demitam das suas
funções.
Entretanto, o facto de o Primeiro-ministro ter
optado por defender vigorosamente os membros do seu Governo e inclusive
desafiar e pôr em causa a legitimidade e a objectividade da actuação do
Ministério Público, ele próprio (o Primeiro-ministro) deixou de ter condições
para se manter no Poder, uma vez que, mantendo-se no Poder, não deixará
certamente de accionar todos os meios e instrumentos legais e ilegais à sua
disposição, para influenciar a Justiça e conseguir a absolvição dos seus amigos
e depois apresentar o caso como “cabala” contra o seu Governo e a sua pessoa em
particular – inadmissível.
Vamos apoiar a Justiça, para que ela se afirme e se consolide e ao mesmo
tempo exigir a demissão do actual Governo de “ratazanas”, “papa-granas” e
“papa-notas” esperando que os “djiquinduris” já identificados não escapem as
garras da justiça e sejam exemplarmente responsabilizados pelos seus actos –
mais vale tarde do que nunca!
VIVA A JUSTIÇA
Um Bem-haja à todos!
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