sábado, 7 de setembro de 2013

PALÁCIO COLINAS DE BOÉ, 1 DE OUTUBRO DE 2005…

Aposto que já ninguém se recorda desta data. Foi o dia que Nino Vieira, após cinco anos de exilo em Portugal, tomou posse como novo chefe de Estado da Guiné-Bissau, após o escrutínio de 24 de Julho do mesmo ano, no Palácio Colinas de Boé. Antes de chegar a esse dia, muita água correu por debaixo da ponte. Havia três concorrentes de peso: Nino Vieira, Malam Bacai Sanhá e Kumba Yalá. Este último tinha sido derrubado em Setembro de 2003. O Presidente da Transição era o falecido Henrique Rosa e o Primeiro-ministro, Carlos Gomes Jr.. Kumba perdeu, na primeira volta, e declarou apoio a Nino Vieira na segunda volta contra Malam Bacai Sanhá, que recusou acatar a derrota durante um longo período (mais de um mês). Sanha insistia durante esse período na ideia da recontagem ou reabertura de urnas. As Nações Unidas, EUA, Portugal e outros chefes de Estado exigiam investidura de Nino Vieira, que só viria a acontecer em 1 de Outubro de 2005.
Lembro-me ainda de que para a cerimónia de tomada de posse foram convidados 17 chefes de Estado, mas, só um, Abdoulaye Wade, do Senegal, confirmou a presença, registando-se a ausência dos seus homólogos de Angola, Cabo Verde, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. É de salientar a honrosa presença do vice-presidente da Assembleia Nacional de Angola, João Lourenço, em representação do Presidente angolano, José Eduardo dos Santos.  

Entre os convidados internacionais figuravam também altos representantes de várias organizações internacionais, regionais e sub-regionais, como as Nações Unidas, as uniões Europeia (UE) e Africana (UA), a CPLP, a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), União Económica e Monetária Oeste-Africana (UEMOA), entre outras. A nível interno, nacional, foram convidados o primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior e restantes membros do governo e os 100 deputados que integravam a Assembleia Nacional Popular (ANP, Parlamento), cujo presidente, Francisco Benante, que conferiu posse ao novo chefe de Estado.

Malam Bacai Sanhá, candidato do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC, no poder), que perdeu o duelo eleitoral, não participou na cerimónia. Hoje sabemos que era um sinal para o futuro político da Guiné-Bissau, que todos ignoramos, no momento. Ora, era sobre estes sinais de patriotismo que queríamos abordar aqui, mas em breves palavras. Sentimentos que ampliam e reforçam a visão de família, de luta unida em favor do bem comum. Os símbolos da pátria, são sinais são valores que devem despertar o cidadão para a espiritualidade, na direção da moral, da ética, da solidariedade, que despontam para a valorização e o amor a nossa terra. Cantar o hino, arriar a bandeira, dobrá-la e entregar, por exemplo, na escola ao professor, não é um ritual religioso ou espiritualista. Significa render homenagem a uma legitimidade histórico-política ao país, a todos aqueles homens e mulheres que deram a sua própria vida e suportaram sacrifícios para que fossemos capazes - enquanto nação - de assumir nas nossas mãos, o nosso destino.   

Referimos atrás, a presença honrosa do angolano, João Lourenço, para o louvar pelo elevado sentido cívico ao tomar a iniciativa de dirigir ao então Primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior no episódio durante o momento solene quando se louvava a pátria cantando o hino nacional. Todos o presentes tomara sentido em pé, menos o Primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior, que resolveu não obedecer o ritual. João Lourenço não perdeu tempo, agarrou o dito-cujo no braço fazendo-o cumprir com solenidade aquele momento histórico do país. A pátria não é nenhuma abstração. Ela é uma espiritualidade que encarna em seres humanos. Naquele momento, era a nação em pessoa de Nino Vieira. Carlos Gomes Júnior não podia transpor a sua divergência pessoal com Nino Vieira para o Presidente de todos os guineenses. Fosse o que fosse naqueles instantes, ninguém tinha o direito de fazer a justiça com as suas próprias mãos. Foi, por exemplo, o que Carlos Gomes Júnior quis fazer naquele momento. Este indivíduo, veria, de novo, ser, mesmo com estas condutas desprestigiantes, Presidente do partido de Cabral e Primeiro-minitro da Guiné-Bissau. Vejam lá!

Idêntica atitude anarquista tomou o presidente do MDG, Silvestre Alves, ao pular a fronteira há três semanas atrás ao regressar ao país. Provocação que deviam merecer uma resposta implacável das nossas autoridades.


Portanto, são atitudes que se enquadram na renegação da própria identidade pela corja chefiada por Carlos Gomes Júnior. Eles se reveem na situação anterior a independência da nossa terra: colonial. A libertação do nosso país não os dignifica, por isso não enaltecem os heróis nacionais. Trata-se de uma campanha de inversão de valores da liberdade pela do colonialismo. As suas mensagens não têm audiência a nível nacional e resolvem entreter o pagode no exterior, nas terras dos seus patrões. Hoje em dia se orgulha mais das suas amizades com angolanos, cabo-verdianos e portugueses. Estão convencidos de é possível com as suas campanhas pelo mundo fora, negar o valor filosófico, moral e político do direito que o nosso povo tem de se dispor de si próprio. A ignorância mata! Eles não sabem que, sem prejuízo da necessidade de estabelecer voluntariamente relações com outros povos e nações no mundo, na Comunidade internacional não existe nem legislador, nem juiz, nem Governo nem força pública que se situe acima dos Estados: soberania!

Doka.

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