segunda-feira, 16 de março de 2020

O virus da indiferença

Fui ontem surpreendentemente desiludido, ao chegar ao Centre Culturel Franco Bissau-guineen para assistir o espetáculo dum dos grupos musicais que esta terra jamais viu (Iva&Ichy), isto porque, o Governo decidiu interditar todas as atividades aglomeradas e que só informaram a comissão organizadora do referido evento, duas horas antes do início.  

Fiquei ainda, siderado ao ver o semblante desgastado do Iva ao tentar subtrair a compreensão dos fãs que reclamavam com veemência, o reembolso dos ingressos, depois da mega investida na comunicação e preparação do evento. 

A razão todos nos sabemos, um vírus denominado Coronavírus e sobretudo na sua versão mais letal ate então, designada Covid-19 que veio lembrar a humanidade que, não importa a altura do murro que erigirmos nas nossas fronteiras, ao redor das nossas casas, seremos sempre vulneráveis e que transcende barreiras, sejam elas, imaginarias ou físicas. 

E de realçar aqui, que a nossa sociedade tem vindo a enfrentar diversos vírus, entre os quais o da desumanidade, da indiferença e do etnicismo. Este ultimo, instrumentalizado e expandido por certo políticos irresponsáveis, imbuídos duma total ignorância, pensam que todos os males da nossa Guiné é devido a uma única etnia, ora o país é constituído por um vasto tecido étnico. 

O vírus do etnicismo, sempre conjugado com o da indiferença tem conduzido a nossa sociedade às atitudes que pisam os limites do que é tolerável, acantonando e assimilando uma classe a dos ''incultos'', ''incivilizados'' somente por ter, no seu devido direito e liberdade, uma opinião ou crença diferente. A imagem do covid-19, esse vírus obrigou irmãos, amigos e familiares à não apertarem as mãos, juntar-se no mesmo espaço e muito menos respirar o mesmo ar, um total ostracismo que não tem deixado o guineense ver o próximo como parte da mesma humanidade. 

O Guineense não precisa de nenhum destes vírus, o Cabral tinha falado em cancro da traição, ele seria surpreso ao levantar dentre os mortos, e constatar a mutação que este flagelo sofreu, e em que proporção tem dividido a sociedade e o povo guineense. 
Ao covid-19, exorto todos os guineenses a serem solidários uns aos outros, na tomada de medidas de prevenção contra esta pandemia. Juntos venceremos, nem a política, nem um político e muito menos um vírus nos fará indiferentes ao próximo.     

i si nô aprendi ba ku Cabral,
liçons di union ku danu liberdadi
ku djunta balentis di bardadi 
na luta pa dignidade nacional

Djassi bu bai, essis ku fika ka ntindi, 
kuma objetivu principal ika era guerra
mas idipendencia di povo i di nô terra
i di luta armada eh fassinu ripindi

Abel bu partidu sai di matu
mas boé ka seta sai na el.             

João Pensador 14/03/2020

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