terça-feira, 20 de junho de 2017

GUINÉ CANSA!
Sinceramente, não sei definir o que sinto, neste momento, em relação aos políticos, politiqueiros, opinião pública e nível da Medicina do meu país (Guiné-Bissau), em relação à detenção do ex-combatente da liberdade da pátria Manuel dos Santos, mais conhecido por Manecas...

Li várias intervenções, a maioria de indignação em relação à essa detenção, quer pela forma como pelo facto do detido ser um combatente de liberdade da pátria...

Das leituras, só posso concluir que o PAIGC tem neste momento montado dentro e fora da Guiné-Bissau, uma autêntica máquina de (des)informação e manipulação da opinião pública, de longe superior ao do aparelho do Estado guineense, que nada informa e vai permitindo a infestação da opinião pública com a propaganda PAIGCista!

Li tanta coisa, mas ainda não vi ninguém a falar da matéria processual. Gostava de ouvir, de um lado ou de outro esclarecimentos em relação à matéria processual. Dentro do quadro legal guineense, dO que é acusado Manuel dos Santos?

Que argumentos apresentou Manecas para se defender judicialmente dessas acusações? Foi detido para interrogatório ou preventivamente pelo risco de inquinação das investigações relacionadas com as declarações que fez na sua entrevista? Será que Manecas não estará a ser acusado de incitamento a um golpe de Estado?

Só Manecas, o seu advogado e as autoridades judiciais guineense é que podem e deviam esclarecer os guineenses. Li o relatório médico da Alta de Manecas e afirmo que quem o elaborou precisa seriamente de voltar a fazer uma recertificação para trabalhar como médico! Como médico e guineense, esse relatório envergonha-me profundamente, por expor o estado da Medicina que se pratica na Guiné-Bissau.

E, com os dados expostos nesse relatório, fico na dúvida se o internamento de Manecas não se tratava de uma manobra, já mais que conhecida entre os PAIGCCistas, para evitar uma detenção anunciada!

Já é moda entre os dirigentes do país e do PAIGC em particular, alegarem questões de saúde ou para não acartarem com as consequências dos seus actos, ou para fugirem às suas responsabilidades políticas ou criminais!

Vi as declarações do Presidente do PAIGC a insinuar que a detenção do ex-combatente trata-se de uma estratégia do Presidente da República de perseguir as pessoas da sua "entourage"!

O mesmo que já vi e ouvi do mesmo protagonista, aquando dos processos judiciais contra os membros do seu governo!

Vi, e fiquei chocado, a manifestação de indignação de uma figura quase consensual entre os guineenses (Carlos Lopes), em relação à essa detenção.

Fiquei chocado porque, pareceu-me (pelo menos não foi exposto), essa indignação foi demasiado superficial, uma vez que não aprofundou sobre os reais motivos de detenção de Manecas e insinua ou sugere que num Estado que se quer de direito, pode haver pessoas intocáveis, apenas pelo facto de terem participado na luta de libertação do país!

É certo que essas individualidades devem ter um tratamento equivalente ao seu estatuto de antigo combatente de liberdade da pátria, mas esse estatuto não lhe iliba de responder perante a justiça, de eventuais crimes públicos, políticos, económicos ou de qualquer índole.

Não me lembro de ter visto Carlos Lopes a mostrar-se indignado com os vários golpes de Estado, torturas e assassinatos que ocorreram no país, do qual o PAIGC tem grande dose de culpa!  

Também vi a LGDH, reagir à essa detenção, com insinuações em forma de conselho às autoridades judiciais, para não agirem a mando de ninguém! 

Onde estamos?! Sabemos? Sabemos para onde queremos ir na Guiné-Bissau? É importante termos senso, como cidadãos, como políticos, como profissionais (no caso do médico que elaborou o relatório de alta ou dos advogados envolvidos no processo) quando temos de nos pronunciar sobre um assunto tão grave e tão delicado! 

Preocupa-me muito, se a detenção de Manecas foi feita de forma ilegal e como forma de cumprir uma agenda presidencial, como sugerido pelo presidente do PAIGC, mas mais preocupado fico e ficarei, se efetivamente houve matéria para a sua detenção e ver tantos comentários e comunicados desproporcionais e desenquadrados da realidade democrática!

POr outro lado, havendo matéria de facto para a detenção de Manecas, regozijo-me pela demonstração de independência da justiça guineense e para mim seria um forte indicador do início da eliminação da impunidade na Guné-Bissau.

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