sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

A SOLUÇÃO FINAL

As supostas divergências entre o Dr. José Mário Vaz (Presidente da República da Guiné-Bissau) e o Eng.º Domingos Simões Pereira (Presidente do PAIGC) têm servido de tema para as mais variadas especulações.

Efectivamente, representantes das mais diversas tendências políticas e representativas da Sociedade Civil têm-se debruçado sobre o assunto, tecendo considerações especulativas sempre impregnadas da mais viva parcialidade, intrinsecamente comprometidas com os seus interesses pessoais, familiares ou corporativos. Surgiu assim uma volumosa bibliografia sobre esta problemática, marcada por um certo subjectivismo que dificulta a análise concreta e objectiva da evolução real dos acontecimentos.

Quem quer que se preocupe com o indagar das causas que provocaram a ruptura entre estas duas personalidades da vida política guineense esbarrará naturalmente com enormes dificuldades. 

Ver-se-á constrangido pelos liames da panaceia ideológica que tentarão captá-lo para um dos pólos de atracção, coarctando- lhe a possibilidade de uma análise objectiva e imparcial, conducente à uma ilação justa, impregnada das ferramentas necessárias à busca de soluções mais adequadas à resolução dos conflitos institucionais que têm afligido a nossa sociedade nas últimas duas décadas. 

Ou seja, encontrará, por um lado, os correligionários do Dr. José Mário Vaz à atirar toda a culpa da situação vigente ao comportamento arrogante, prepotente e ausência de sentido de Estado e de espírito de cooperação institucional do Presidente do PAIGC. Por outro lado, deparar-se-á com os simpatizantes e fiéis seguidores do Eng.º Domingos Simões Pereira apontando o dedo acusador ao Presidente da República.

Obviamente, o diferendo JOMAV-DSP tem sido utilizado como pano de fundo para a exacerbação da ruptura institucional, que nas últimas duas décadas tem caracterizado as relações entre os sucessivos chefes de Estado e de Governo e que, na realidade, tem a sua génese na nossa retrógrada cultura de liderança (desrespeitando às Leis e Normas que regem a sociedade) e exercício do Poder (excluindo o diálogo e a tolerância, enquanto instrumentos imprescindíveis à obtenção de consensos que visam a envolvência nacional (acção concertada dos Órgãos de Soberania) na tomada de decisões de envergadura nacional e a assunção colectiva de responsabilidades pela sua implementação, atenuando, por conseguinte, as divergências políticas e sociais que estão na origem da famigerada instabilidade sociopolítica, que infelizmente constitui “imagem de marca” do nosso País).

Domingos Simões Pereira, cuja chegada ao poder foi saudada com muita esperança, tanto pelo nosso povo, como pela comunidade internacional, defraudou todas as expectativas – dividindo tudo e todos, numa desesperada tentativa de reforçar o seu Poder pessoal e estabelecer controlo absoluto sobre o todo nacional, quando a situação apela à unidade e a coesão de um povo que tanto sacrifício consentiu ao longo da sua história, sempre na esperança de um dia beneficiar da merecida oportunidade de construir a sociedade idealizada por Amílcar Cabral e por todos aqueles que, em nome da liberdade colectiva e da inserção da nossa Pátria Africana no contexto das Nações Livres e Progressistas do Mundo, hipotecaram a sua juventude, o seu projecto individual, para participar directa ou indirectamente, naquela que é unanimemente considerada uma das mais belas epopeias de libertação dos povos oprimidos, pela sua autodeterminação e independência – a Luta de Libertação Nacional dos Povos da Guiné e Cabo Verde, sob a égide do Partido Africano para a independência da Guiné e Cabo Verde (o PAIGC).

Entretanto, uma análise paciente sobre o desenrolar dos acontecimentos no panorama político da Guiné-Bissau, deixa perceber que na realidade, não existe nenhuma divergência pessoal ou institucional entre o Dr. José Mário Vaz e o Eng.º Domingos Simões Pereira, que nos podia conduzir à uma situação tão desesperante. 

Ou seja, a Guiné-Bissau encontra-se simplesmente refém das profundas contradições entre as ambições políticas de Domingos Simões Pereira e a sua personalidade, a sua forma de estar na vida e consequentemente o seu estilo autocrático de liderança (prima pelo estabelecimento do controlo pessoal sobre todas as decisões governativas e afins, remetendo à insignificância as opiniões dos demais membros do Governo e da sociedade em geral), pois só assim se explica o ressentimento que levou alguns membros do seu Governo à se disponibilizarem prontamente para integrar o Governo do Dr. Baciro Djá.

O Presidente do PAIGC é reconhecidamente um bom orador (o que não basta para ser um bom Líder) e um implacável manipulador da opinião pública, que entretanto peca por ser alérgico ao diálogo e desprovido da incapacidade de, em nome dos interesses nacionais e da boa governação, reconciliar com os que não partilham as suas ideias e opiniões, incluindo os que investiram na sua ascensão política (Baciro Djá, Abel da Silva, Aristides Ocante Silva, Hadja Satú Camará, Manuel Saturnino da Costa, Luís Sanca, Doménico Sanca e muitos outros que acreditavam ser ele a melhor opção para o nosso País e consequentemente deram o seu melhor para o colocar no topo da hierarquia do Poder, mesmo a custa de intrigas e manipulações de que hoje se arrependem).

Por não ter apreendido devidamente a lição do passado, um ano depois de assumir o Poder, Domingos Simões Pereira perdeu todas as bases da sua sustentabilidade (tanto no seu Partido, como na sociedade em geral). Os episódios de corrupção activa e branqueamento de capital que assolaram o seu Governo, desgastaram tanto a sua imagem que a Comunidade internacional (principais parceiros de desenvolvimento da Guiné-Bissau) demarcou-se simplesmente dele, ficando a espera da constituição dum novo Governo com quem possa analisar, discutir e resolver os problemas do nosso País – E QUANTO MAIS RÁPIDO ISTO ACONTECER, MELHOR!

E, apesar dos enormes esforços que tem envidado para se agarrar ao Poder, tudo deixa transparecer a irreversibilidade da iminência do seu colapso, porque neste Século XXI, tanto o PAIGC como a Guiné-Bissau dispensam líderes corruptos e autoritários, cujas práticas se baseiam no ódio, no rancor, no nepotismo e no revanchismo; líderes que perseguem e expulsam os militantes que pensam de forma diferente; líderes que perseguem, excluem, isolam e humilham os seus súbditos; líderes que corrompem e subornam outros Órgãos de Soberania; líderes que para se sentirem livres e isentos de quaisquer controlo de auditoria, são capazes de tudo, excepto de exercer as funções por que foram eleitos – GOVERNAR O PAÍS.

A Guiné-Bissau continua a sofrer da “Síndrome das Trafulhices do Congresso de Cacheu”, no qual, se os critérios fossem justos e transparentes, Domingos Simões Pereira não teria condições para ascender a liderança do Partido. Entretanto, mais uma vez, em nome de mesquinhos interesses pessoais e corporativos, numa atitude de descaramento e maquiavelismo sem precedentes (prática corrente no PAIGC e que tem constituído um foco de instabilidade nacional), tudo foi artificialmente invertido, como se o Mundo se limitasse à Cacheu - para a desgraça do nosso País e do nosso Povo Mártir.

A desgastante novela de análise, discussão e aprovação do Programa do Governo, posterior e inesperadamente transformada por Domingos Simões Pereira em voto de confiança à pessoa do Primeiro-Ministro com o intuito de provocar um novo braço-de-ferro, desnecessário e tendente a adiar indefinidamente a Guiné-Bissau, como se estivéssemos no “País das Maravilhas” está-se tornando intolerável e exige de cada um de nós e de todos juntos, uma tomada de posição firme e coerente, para não permitir que a Guiné-Bissau seja mais uma vez (à semelhança do que aconteceu no passado), refém dos caprichos e das ambições de um homem que quer a todo o custo permanecer no Poder, para abafar as lesões financeiras que tem provocado ao nosso País e continuar na sua senda de enriquecer ilicitamente a custa do erário público.   

De herói á vilão, de esperança de um povo á desgraça nacional, Domingos Simões Pereira constitui hoje o maior problema do nosso País, o maior entrave ao diálogo, entendimento e desenvolvimento nacional. Normalmente quando é assim, quando um político que se preza, deixa de fazer parte da solução, para fazer parte do problema, deve bater com a porta e proporcionar ao seu povo uma nova oportunidade de recorrer às alternativas existentes – E ELAS EXISTEM!

Um feliz Natal para todos!


Tony Sequeira

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