A
SOLUÇÃO FINAL
As supostas divergências entre o Dr. José Mário
Vaz (Presidente da República da Guiné-Bissau) e o Eng.º Domingos Simões Pereira
(Presidente do PAIGC) têm servido de tema para as mais variadas especulações.
Efectivamente, representantes das mais diversas tendências políticas e representativas
da Sociedade Civil têm-se debruçado sobre o assunto, tecendo considerações
especulativas sempre impregnadas da mais viva parcialidade, intrinsecamente
comprometidas com os seus interesses pessoais, familiares ou corporativos.
Surgiu assim uma volumosa bibliografia sobre esta problemática, marcada por um
certo subjectivismo que dificulta a análise concreta e objectiva da evolução
real dos acontecimentos.
Quem quer que se preocupe com o indagar das
causas que provocaram a ruptura entre estas duas personalidades da vida
política guineense esbarrará naturalmente com enormes dificuldades.
Ver-se-á
constrangido pelos liames da panaceia ideológica que tentarão captá-lo para um
dos pólos de atracção, coarctando- lhe a possibilidade de uma análise objectiva
e imparcial, conducente à uma ilação justa, impregnada das ferramentas
necessárias à busca de soluções mais adequadas à resolução dos conflitos
institucionais que têm afligido a nossa sociedade nas últimas duas décadas.
Ou
seja, encontrará, por um lado, os correligionários do Dr. José Mário Vaz à
atirar toda a culpa da situação vigente ao comportamento arrogante, prepotente
e ausência de sentido de Estado e de espírito de cooperação institucional do
Presidente do PAIGC. Por outro lado, deparar-se-á com os simpatizantes e fiéis
seguidores do Eng.º Domingos Simões Pereira apontando o dedo acusador ao
Presidente da República.
Obviamente, o diferendo JOMAV-DSP tem sido
utilizado como pano de fundo para a exacerbação da ruptura institucional, que
nas últimas duas décadas tem caracterizado as relações entre os sucessivos
chefes de Estado e de Governo e que, na realidade, tem a sua génese na nossa retrógrada cultura de liderança
(desrespeitando às Leis e Normas que regem a sociedade) e exercício do Poder (excluindo o diálogo e a tolerância, enquanto
instrumentos imprescindíveis à obtenção de consensos que visam a envolvência
nacional (acção concertada dos Órgãos de Soberania) na tomada de decisões de envergadura
nacional e a assunção colectiva de responsabilidades pela sua implementação,
atenuando, por conseguinte, as divergências políticas e sociais que estão na
origem da famigerada instabilidade sociopolítica, que infelizmente constitui “imagem
de marca” do nosso País).
Domingos Simões Pereira, cuja chegada ao poder
foi saudada com muita esperança, tanto pelo nosso povo, como pela comunidade
internacional, defraudou todas as expectativas – dividindo tudo e todos, numa
desesperada tentativa de reforçar o seu Poder pessoal e estabelecer controlo
absoluto sobre o todo nacional, quando a situação apela à unidade e a coesão de
um povo que tanto sacrifício consentiu ao longo da sua história, sempre na
esperança de um dia beneficiar da merecida oportunidade de construir a
sociedade idealizada por Amílcar Cabral e por todos aqueles que, em nome da
liberdade colectiva e da inserção da nossa Pátria Africana no contexto das
Nações Livres e Progressistas do Mundo, hipotecaram a sua juventude, o seu
projecto individual, para participar directa ou indirectamente, naquela que é unanimemente
considerada uma das mais belas epopeias de libertação dos povos oprimidos, pela
sua autodeterminação e independência – a
Luta de Libertação Nacional dos Povos da Guiné e Cabo Verde, sob a égide do
Partido Africano para a independência da Guiné e Cabo Verde (o PAIGC).
Entretanto, uma análise paciente sobre o
desenrolar dos acontecimentos no panorama político da Guiné-Bissau, deixa
perceber que na realidade, não existe nenhuma divergência pessoal ou
institucional entre o Dr. José Mário Vaz e o Eng.º Domingos Simões Pereira, que
nos podia conduzir à uma situação tão desesperante.
Ou seja, a Guiné-Bissau
encontra-se simplesmente refém das profundas contradições entre as ambições
políticas de Domingos Simões Pereira e a sua personalidade, a sua forma de
estar na vida e consequentemente o seu estilo autocrático de liderança (prima pelo estabelecimento do controlo pessoal
sobre todas as decisões governativas e afins, remetendo à insignificância as
opiniões dos demais membros do Governo e da sociedade em geral), pois só assim se explica o ressentimento que levou alguns membros do seu Governo
à se disponibilizarem prontamente para integrar o Governo do Dr. Baciro Djá.
O Presidente do PAIGC é reconhecidamente um bom orador (o que não basta
para ser um bom Líder)
e um implacável manipulador da opinião pública, que entretanto peca por ser alérgico ao diálogo e desprovido da incapacidade
de, em nome dos interesses nacionais e da boa governação, reconciliar com os
que não partilham as suas ideias e opiniões, incluindo os que investiram na sua
ascensão política (Baciro Djá, Abel da
Silva, Aristides Ocante Silva, Hadja Satú Camará, Manuel Saturnino da Costa,
Luís Sanca, Doménico Sanca e muitos
outros que acreditavam ser ele a melhor opção para o nosso País e
consequentemente deram o seu melhor para o colocar no topo da hierarquia do
Poder, mesmo a custa de intrigas e manipulações de que hoje se arrependem).
Por não ter apreendido devidamente a lição do passado, um ano depois de
assumir o Poder, Domingos Simões Pereira perdeu todas as bases da sua
sustentabilidade (tanto no seu Partido, como na sociedade em geral). Os
episódios de corrupção activa e branqueamento de capital que assolaram o seu
Governo, desgastaram tanto a sua imagem que a Comunidade internacional
(principais parceiros de desenvolvimento da Guiné-Bissau) demarcou-se
simplesmente dele, ficando a espera da constituição dum novo Governo com quem
possa analisar, discutir e resolver os problemas do nosso País – E
QUANTO MAIS RÁPIDO ISTO ACONTECER, MELHOR!
E, apesar dos enormes esforços que tem envidado para se agarrar ao
Poder, tudo deixa transparecer a irreversibilidade da iminência do seu colapso,
porque neste Século XXI, tanto o PAIGC como a Guiné-Bissau dispensam líderes
corruptos e autoritários, cujas práticas se baseiam no ódio, no rancor, no
nepotismo e no revanchismo; líderes que perseguem e expulsam os militantes que
pensam de forma diferente; líderes que perseguem, excluem, isolam e humilham os
seus súbditos; líderes que corrompem e subornam outros Órgãos de Soberania;
líderes que para se sentirem livres e isentos de quaisquer controlo de
auditoria, são capazes de tudo, excepto de exercer as funções por que foram
eleitos – GOVERNAR O PAÍS.
A Guiné-Bissau continua a sofrer da “Síndrome
das Trafulhices do Congresso de Cacheu”, no qual, se os critérios fossem justos e transparentes, Domingos
Simões Pereira não teria condições para ascender a liderança do Partido.
Entretanto, mais uma vez, em nome de mesquinhos interesses pessoais e
corporativos, numa atitude de descaramento e maquiavelismo sem precedentes
(prática corrente no PAIGC e que tem constituído um foco de instabilidade
nacional), tudo foi artificialmente invertido, como se o Mundo se limitasse à
Cacheu - para a desgraça do nosso País e
do nosso Povo Mártir.
A desgastante novela de análise, discussão e aprovação do Programa do
Governo, posterior e inesperadamente transformada por Domingos Simões Pereira
em voto de confiança à pessoa do Primeiro-Ministro com o intuito de provocar um
novo braço-de-ferro, desnecessário e tendente a adiar indefinidamente a
Guiné-Bissau, como se estivéssemos no “País das Maravilhas” está-se tornando
intolerável e exige de cada um de nós e de todos juntos, uma tomada de posição
firme e coerente, para não permitir que a Guiné-Bissau seja mais uma vez (à
semelhança do que aconteceu no passado), refém dos caprichos e das ambições de
um homem que quer a todo o custo permanecer no Poder, para abafar as lesões
financeiras que tem provocado ao nosso País e continuar na sua senda de enriquecer
ilicitamente a custa do erário público.
De herói á vilão, de esperança de um povo á desgraça nacional, Domingos
Simões Pereira constitui hoje o maior problema do nosso País, o maior entrave
ao diálogo, entendimento e desenvolvimento nacional. Normalmente quando é assim, quando um político que se preza, deixa de
fazer parte da solução, para fazer parte do problema, deve bater com a porta e
proporcionar ao seu povo uma nova oportunidade de recorrer às alternativas
existentes – E ELAS EXISTEM!
Um feliz Natal para todos!
Tony Sequeira
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