TEORIA VS PRAXE
O discurso do dia 23 de Junho, ontem, do novo Presidente da República da Guiné-Bissau, Dr. José Mário Vaz, faz recordar a velha máxima que diz: “Faz o que te digo, mas não olhes para o que eu faço”.
O impacto foi retumbante. Foi uma colisão entre o perfil político do personagem que encarna o lugar de Presidente e o discurso por ele proferido. A oratória soava como uma “canção de embalar”.
O senhor Domingos Simões Pereira, o atual Primeiro-ministro, até ficou entorpecido, enquanto a sua esposa o abanava. O Presidente José Mário Vaz parecia um “estranho” vestido de sacerdote pregando no altar. Exprimia o que queria que o povo e o mundo escutassem.
Confessou em meios restritos que apenas trabalharia com os militantes do PAIGC, mas no dia do seu juramento disse: “(…) Assim, com este capital de confiança e de legitimidade, queremos exortar a Nação Guineense que assuma que é chegado o momento de secundarizarmos as diferenças políticas que caracterizaram a competição pelo voto e dedicarmo-nos à luta contra a pobreza, com todas as nossas energias.
E reafirmou dizendo: “(…) serei o Presidente de todos os guineenses e que tudo farei para que os diferentes Órgãos de Soberania respeitem e façam respeitar o Estado de Direito Democrático e de Justiça Social, baseado no pluralismo político e de expressão, no respeito e garantia dos direitos e liberdades fundamentais de todos os cidadãos, independentemente de qualquer circunstância que os diferencie, assegurando igualdade de oportunidades.”
O novo Presidente da República foi ministro das finanças do governo de Carlos Gomes Júnior, derrubado em 12 de Abril de 2012. È constituído arguido no processo sobre o desvio de 12 milhões de dólares. Sobre a corrupção disse: “ (…), será fundamental instituir na nossa sociedade uma verdadeira cultura de tolerância zero e de combate sem tréguas à corrupção. Pilar fundamental para a afirmação do Estado de Direito democrático. Cultura que constitua uma poderosa base de partida para este combate que a todos deve mobilizar.”
A “má coabitação” político-institucional tem sido um dos fatores da instabilidade política. Nino Vieira punha as mãos e os pés no “barkafon” do governo. Espiava e interferia em tudo que era da competência do governo. Será que José Mário Vaz pretende imitar essa postura em relação às ações que seriam da estrita competência do atual Primeiro-ministro?
O filho do atual Presidente da República é portador de alvará de abate das árvores. Sobre essas questões, o Presidente esclareceu: “Ainda neste quadro prometi durante a campanha, que após a minha tomada de posse iria estar atento e vigilante no que se refere ao flagelo do fenómeno da corrupção e sobretudo que chamaria ao meu gabinete todos os dossiers relacionados com o abate das árvores e exploração ilegal dos nossos recursos naturais a bem da nossa querida Guiné e das gerações vindouras.”
O bom exemplo começa em casa!
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