segunda-feira, 23 de junho de 2014

CARTA ABERTA AO NOVO PRESIDENTE DA REPÚBLICA DA GUINÉ-BISSAU

Excelentíssimo Senhor Presidente da República

Irmãos e compatriotas,
Minhas senhoras e meus senhores

Na qualidade de cidadão livre do meu país, Guiné-Bissau, em nome dos ideais patrióticos da libertação e da liberdade, gostaria de transmitir a Vossa Excelência os meus sinceros votos de um mandato estável, digno, saudável e competente. 

Senhor Presidente,
O Dr. José Mário Vaz, é um pedaço nascido do ventre da nossa terra mãe. Conhece os tormentos deste povo desde os tempos da colonização portuguesa até hoje. Decidiu ele próprio entrar na luta com os seus irmãos para carregar sobre os seus ombros a dura tarefa de liderança. Ganhou! É um homem com as suas virtudes e fraquezas. Hoje, será investido nesse lugar onde o seu nome e do grupo que o apoiou desaparecerá, tornando-se Presidente de todos os guineenses, sem exceção.

Senhor Presidente, a pátria de Cabral forjada na luta virou-se como a serpente que come os seus próprios ovos, o trabalhador virou vilão, o criminoso e corrupto honrado. Esta situação nos trouxe desgraça. Por isso, permita-me recordar a Vossa Excelência as palavras do deputado Luís Nantam, do PRS, dizendo-lhe que: “As pessoas devem aprender com os erros do passado e não voltar a comete-los no futuro”. Ou seja, não queremos mais que a legitimação pelo voto se transforme na “carta-branca” para matar. Não queremos mais a mão invisível do gang do “navio Bolama” afundado em 1991 perto de lisboa interfira na condução do nosso destino.


Senhor Presidente,
Atrás de si, está um povo humilde e trabalhador, mas enxovalhado no mundo. Gostaríamos, por isso, que na sua função de mais alta magistratura da nação usasse a sua reputação para mostrar ao mundo o povo que, na verdade, somos, arredando, de vez, os boatos imundos despejados sobre nós dos mensageiros da desgraça que nada fazem mais que dividir para melhor reinar.

Nenhum povo no mundo “compra saninho (esquilo) na coba (toca) ”. Ou seja, pelas promessas de paz, liberdade, unidade e desenvolvimento, na campanha eleitoral, Vossa Excelência ganhou votos para dirigir o nosso país. Estou certo que se essas premissas fossem cumpridas o povo sentir-se-á galvanizado, os cidadãos transformarão em seus soldados e a prosperidade chegará.  

Senhor Presidente, na nossa visão, a emigração guineense não pode continuar a ser encarada como uma fatalidade. Ela é consequência direta do desemprego, perseguições políticas e falta de liberdade no nosso, desde o tempo do colonialismo, passando pelo de partido único até aos dias da democracia aparente em que vivemos. O senhor é formado em economia e faz política, por isso sabe do que estou a referir. A sangria de mão-de-obra e de talentos para o estrangeiro não pode continuar a ser uma “equação impossível” dos nossos dirigentes. O fenómeno encontra explicação na forma de condução política dos nossos países.   

Para terminar, aceita, senhor Presidente, que lhe dedique uma parábola do discurso do Presidente Obama, em 2009, no parlamento do Gana, sobre a tirania, onde dizia: a "Democracia é muito mais do que realizar eleições. Tem também a ver com o que acontece entre essas eleições. A repressão assume muitas formas e demasiadas nações são afetadas por problemas crónicos, que condenam os seus povos à pobreza. Nenhum país irá criar riqueza, se os seus líderes explorarem a economia para se enriquecerem a si próprios, ou se a polícia puder ser comprada por traficantes da droga. Nenhuma empresa quer investir num país onde o governo retira para si 20 por cento dos lucros, ou onde o diretor das alfândegas seja corrupto. Ninguém vai querer viver onde o primado da lei abra caminho a um regime de brutalidade e subornos. Isso não é democracia, isso é tirania! E chegou agora a altura de pôr fim a tudo isso!".
Deus abençoe Guiné-Bissau!
Lisboa, 23 de Junho de 2014

Por: Nababu Nadjinal

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