“AMIGOS DA ONÇA”…
O novo Presidente da Guiné-Bissau, José Mário Vaz, viajou, ontem, quarta-feira para a Guiné-Equatorial para participar na cimeira da União Africana (UA) que decorre na quinta e sexta-feira em Malabo (Guiné-Equatorial). O chefe de Estado guineense tinha saída de Bissau marcada para às 23:00 (meia-noite em Lisboa) num avião cedido pelo presidente do Senegal, Macky Sall. Diz-se que José Mário Vaz pondera a hipótese de passar ainda por Luanda (Angola), na ida ou no regresso da Guiné-Equatorial.
Parece confirmar-se o fato de que a nossa “falta de sorte” estar diretamente ligada aos atributos políticos das nossas lideranças do período pós-independência. Queria dizer na visão política global das personagem que encarnaram estas funções. Pergunto: como é que um chefe de Estado, dois dias após o empossamento, tem veleidade de partir para uma missão definida e depois “dar o jeito” de juntar agenda controversa? Mesmo que não viajasse de pendura, quanto mais à custa do Presidente do Senegal.
Estranhamos a emergência da visitar a Angola. Fala-se em amizades antigas dos tempos da luta anticolonial. Mas o que temos visto é que Angola virou-se “amigo da onça”. Recordo bem que participamos, militarmente, na guerra fratricida em Angola.
Sobretudo, no confronto entre os beligerantes no Coito Cuanavale, envolvendo o exercito sul-africano. Mas, acontece que o executivo angolano ao evocar a nossa contribuição, de uma forma quadrada, restringe-a a aliança entre os partidos amigos (PAIGC e MPLA), e nunca numa visão mais ampla de amizade entre os dois povos. As suas implicações, ultimamente, nas contendas políticas partidárias e militares na nossa terra, explica essa realidade.
Duranta a campanha eleitoral, os candidatos do PAIGC (tanto Domingos Simões Pereira como José Mário Vaz) insinuaram de que iriam “disciplinar” as Forças Armadas da Guiné-Bissau. José Mário Vaz, na sua investidura, no que concerne à reforma das Forças da Defesa e Segurança, disse:
“Prosseguiremos, com diálogo permanente na base de consensos com a sociedade castrense às reformas e modernizações em curso no Sector da Defesa e Segurança, assim como na abordagem que faz do serviço militar uma das forjas da Unidade Nacional e da consciência patriótica dos jovens. Ele será complementado pelo serviço cívico, com a virtude de reforçar o espírito de voluntariado da nossa juventude e do seu amor pelo nosso maravilhoso Povo.” Portanto, não sabemos se tem na sua agenda escondida o desejo de reeditar a “Missang”.
A presença do Ministro das Forças Armadas de Angola, João Lourenço, na cerimónia da investidura do novo Presidente guineense, prenuncia esta predisposição por parte de José Eduardo dos Santos, que teima em olhar para o guineense como alguém que precisa de remir os pecados pelo assassinato de Nino Vieira. O problema é que alguns angolanos não admitem a analogia entre alguns acontecimentos na nossa terra e as circunstancias que levaram a morte do líder da UNITA, Jonas Malheiro Savimbi.
Portanto, como se pode constatar, é por estas e outras razões que até é do conhecimento público e internacional, não nos resta outra chance que não seja de vigiar os “amigos da onça”.
A pretensão, do Presidente guineense, em chegar a Luanda, só pode ser vista como uma paródia! Não contribui para o desanuviamento do clima de constrangimento existente, entre executivo angolano e o povo guineense. Posso afirmar que se vivia uma certa anarquia no relacionamento entre a Guiné-Bissau e Angola, no consulado do falecido Presidente Malam Bacai Sanha. A Guiné-Bissau parecia esfera de ação do Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos. Por tudo e por nada mandava avião transportá-lo para Luanda, para as conversações.
Mas ele nunca pisava o solo guineense. Tinha moços de recado que fazia o trabalho por ele. Agora, se José Mário Vaz entende que não está na altura de dignificar o cargo para que foi investido, vai a tempo de o renunciar.
“Presidência da República” não é para “experimentalismos” ou lugar para estagiários. O Estado guineense dispões de poder mais alto que traduz no exercício pleno da sua soberania e não verga perante nenhum outro Estado, no planeta terra. As relações entre Estados são geralmente pacíficas, mas as nossas com alguns países da CPLP (Angola, Portugal e Cabo Verde) estão afetadas por ressentimentos, praticamente insanáveis, e que a História registou, a conta do golpe de Estado de 12 de Abril de 2012, que destituiu o governo de Carlos Gomes Júnior. O povo recomenda ciência e arte na condução da nossa política externa.
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