UMA DECISÃO CONSTITUCIONAL
PARA UMA COABITAÇÃO IMPOSSÍVEL
A decisão de
exonerar um Governo democraticamente eleito, é reconhecidamente difícil, de
contornos muito sofisticados, que exige muita ponderação, consultas, acertos e
consertos, e sobretudo um fundamento plausível, baseado numa rigorosa
observação dos parâmetros constitucionais à ela afectos.
Na Guiné-Bissau
esse exercício apresenta-se muito complicado, em virtude da leviandade com que
se violam os segredos do Estado, tornando património público informações
altamente confidenciais, ainda no decurso da compilação de dados que
justifiquem a tomada duma decisão tão delicada e desagradável, como é a de
exonerar um Governo. Sempre que o imperativo da situação não nos deixa outra
alternativa, senão recorrer à decisões dessa amplitude, as nossas
particularidades culturais se fazem sentir: todas as forças vivas do País
(Forças Armadas, Forças de Defesa e Segurança, Régulos, Chefes de Tabanca,
Líderes Religiosos, familiares, amigos, simplesmente conhecidos, etc.), se
envolvem no esforço de anunciar o veredicto que mais se adequa aos seus
interesses imediatos, dividindo a população e complicando ainda mais um
processo já por si muito complicado, elevando-o, artificialmente, ao grau de
crise institucional e instabilidade política.
A crónica
dependência económica do nosso País em relação ao Mundo Exterior, associada a nossa
manifesta incapacidade e indisponibilidade de encontrar no diálogo uma
inesgotável fonte de soluções consensuais para os atritos inerentes à
interacção humana, constituem um solo fértil, muito atractivo à ingerência
estrangeira nos nossos assuntos internos. A Guiné-Bissau não consegue eleger
líderes capazes de falar e de se entender, sem imiscuir meio Mundo (CPLP,
CEDEAO, UA, ONU, etc.,). Por conseguinte, todos os outros povos acabam por conhecer
melhor a génese dos nossos problemas e se revelarem melhor preparados para
lidar com uma situação que parecia ser exclusivamente nossa. E todos eles sem
excepção (portugueses, caboverdeanos, angolanos, timorenses, nigerianos,
senegaleses, gambianos, etc.), se envolvem no esforço de nos impor as soluções
que mais se ajustam aos seus interesses e indicar-nos “ o líder ideal”, para
conduzir os nossos destinos e assegurar a defesa intransigente dos seus
propósitos no nosso País.
Pela
primeira vez na história da nossa democracia a Comunidade Internacional reagiu
positivamente à uma decisão tão importante como esta de demitir um Governo,
considerando-a DEMOCRÁTICA, SOBERANA E CONSTITUCIONAL, dando a
entender que todas as diligências que a precederam respeitam plenamente os
parâmetros previstos na constituição, deixando contudo antever que estaria
atenta ao posterior desenrolar dos acontecimentos, exortando o Presidente da
República a observar intransigentemente os trâmites legais previstos para este
caso (o PAIGC, enquanto Partido vencedor
das últimas eleições legislativas, tem a prerrogativa de propor e submeter à
apreciação e aprovação do Presidente da Republica, o candidato à chefia do novo
Governo).
O
reconhecimento pela Comunidade Internacional do carácter Democrático, Soberano
e Constitucional desta decisão, constitui um importante barómetro, indicador do
grau de maturidade política, pragmatismo e ponderação do Chefe de Estado, que
em nenhuma circunstância se deixou guiar pela emoção, pelo populismo e infantilismo
político, privilegiando as instituições na hora de decidir, ciente da enorme
responsabilidade histórica e do carácter irreversível da decisão a ser tomada. Desta
forma, na ausência duma oposição esclarecida, descomprometida e assumidamente
capaz de propor uma visão estratégica alternativa de governação, coube ao
Presidente da República o importante papel de evitar que o Poder do Estado
fosse alienado pelo caos e pela anarquia popular, decorrentes da vergonhosa
submissão da Assembleia Nacional ao poderio financeiro do Governo.
Antes de se
posicionar relativamente a decisão de Sua Excelência o Sr. Presidente da
República, Dr. José Mário Vaz (JOMAV)
de demitir o Governo, a Comunidade Internacional baseou-se em informações muito
precisas sobre o historial do diferendo que opõe os dois estadistas (o Presidente e o Primeiro-ministro) e
chegou as seguintes conclusões:
1. Neste momento a Guiné-Bissau precisa tanto de JOMAV, como de
Domingos Simões Pereira. Entretanto, a profundeza e a gravidade das
contradições pessoais existentes entre eles, torna IMPOSSÍVEL A SUA COABITAÇÂO INSTITUCIONAL. E uma vez que a
Constituição confere ao Presidente da República a prerrogativa de demitir o
Primeiro-ministro, urge acatar a decisão e exortar à calma e ao sentido de
Estado;
2.
Numa altura
em que o COMBATE À CORRUPÇÂO, EM TODAS
AS SUAS FORMAS DE EXPRESSÃO, figura no topo da agenda política Mundial (fenómeno
que Barack Hussein Obama apelidou de cancro do Progresso e desenvolvimento em
África), um Primeiro-ministro que obstrui e ataca a justiça para proteger e
defender membros do seu Governo, indiciados por crimes de corrupção activa, branqueamento
de capital e enriquecimento ilícito, deixa de ter condições para se manter no
cargo e de permanecer no convívio dos líderes mundiais. POR ISSO A DECISÃO DE O DEMITIR FOI UMA DECISÃO ACERTADA.
As
manifestações populares constituem parte inalienável do sistema democrático. Ou
seja, constituem instrumentos muito poderosos que a democracia coloca ao
serviço das massas, na sua luta colectiva pela defesa dos direitos que lhes
assistem, enquanto cidadãos que almejam a uma sociedade mais justa e mais livre
do ponto de vista humano. Por isso, apesar de tudo, qualquer manifestação deve
ter como objectivo uma conquista nobre, que visa a melhoria das condições de
vida das pessoas.
Neste
momento, aqui no nosso País, membros do Governo, seus familiares e amigos,
assim como outros ilícitos beneficiários da actual governação, instigam uma
população mal informada à manifestar-se contra a soberana decisão do Presidente
da República de demitir o Governo. E coloca-se as seguintes questões quanto aos
objectivos dessas manifestações:
1.
Para obrigar o Presidente da República e o Primeiro-ministro a
Coabitarem institucionalmente, embora estamos cientes que isso nunca será
possível?
2.
Para defender um Governo de corruptos, embora estamos cientes que
a corrupção foi e continua a ser a causa principal do profundo atraso
socioeconómico do nosso País e da miséria em que estamos a viver?
3.
Para permanecermos por mais três anos nessa situação de
precariedade institucional que ameaça a Paz, a Instabilidade e a Segurança
Nacional?
4.
Para mais uma vez transmitirmos ao Mundo a vergonhosa mensagem de
que na Guiné-Bissau, Domingos Simões Pereira é o único capaz de dirigir um
Governo e o resto do povo é lixo?
A verdade é que quando elegemos os Órgãos de
Soberania, conferimos-lhes poderes para nos representarem e para decidirem em
prol dos nossos interesses colectivos, tendo sempre em consideração que nenhuma
Lei ou decisão seja universalmente aceite. Entretanto, se nos dispusemos a
manifestar contra todas as Lei e/ou decisões, aprovadas/tomadas com base na
intransigente observação de todos os parâmetros legais, pelo simples facto de
não concordarem com os nossos interesses pessoais, familiares e/ou
corporativos, ou ainda com o modelo social que preconizamos, então as eleições
deixam simplesmente de fazer sentido.
Nós guineenses, devíamos congratular com o
facto de, após trinta e cinco anos do primado da força e da violência na
resolução de diferendos políticos, assistimos finalmente à um novo começo na
Guiné-Bissau, à uma nova Era – A ERA PACIFISMO DEMOCRÁTICO, DA PRIMAZIA DA LEI,
DE SOLUÇÕES POLÍTICAS PARA PROBLEMAS POLÍTICOS.
A forma
sábia como o Presidente da República conduziu todo esse processo que veio
desembocar na exoneração do Governo, sem por em causa a Paz, a Estabilidade, a
Segurança do cidadão, a Legalidade Institucional e sobretudo a Soberania
Nacional, foi aclamado com esperança tanto pelo nosso povo mártir, como pela
Comunidade Internacional e será escrita com letras de ouro na história da nossa
jovem Democracia.
A IMPOSSIBILIDADE DE COABITAÇÂO PESSOAL E
CONSTITUCIONAL entre JOMAV
e DSP é um dado adquirido e reconhecido por todos, inclusive por Domingos
Simões Pereira. Por isso a situação exige um virar de páginas e que a história
continue tranquilamente o seu curso. Cabe agora ao PAIGC colocar em evidência
toda a sua maturidade, ultrapassar as contradições internas e situar os
interesses nacionais acima de qualquer outro interesse instalado, garantir
estabilidade governativa ao novo Governo imergido dessa conjuntura e desta
forma, assegurar a sua própria continuidade no Poder.
Um grande
abraço à todos e que Deus vos abençoe!
EPI
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