O Roteiro apresentado na 52ª Conferência dos
Chefes de Estado e do Governo, para além de ser razoável, pode acabar de vez
com o impasse político
A
estratégia da distracção adoptada pela Direcção Superior do Partido Africano
para Independência da Guiné e Cabo-Verde (PAIGC) e os seus séquitos, em
conivência com o Presidente da ANP, contribuiu significativamente para a
estagnação do país. Os planos maquiavélicos e sinistros que têm vindo a ser
delineados acentuaram, ainda mais, a crise político/institucional que parece
ser insanável e sem fim à vista.
Todas
as tentativas, que foram feitas, tanto endógena como exogenamente, no sentido
de encontrar uma saída plausível e coerente para ultrapassar a actual e
alarmante crise política caíram em desuso, devido ao egocentrismo e arrogância
que tem vindo a imperar nos últimos tempos: se não
for eu, também não serás tu a mandar.
O
vale tudo passou a ser o método
escolhido para afastar ou aniquilar os que ousam pensar diferente e manter-se
fiéis aos princípios ancorados nos estatutos internos do Partido e do Estado de
Direito Democrático. Segundo Nicolau Maquiavel, no seu clássico “O Príncipe”,
diz que “aquele que ascende ao principiado com a ajuda dos grandes tem maior
dificuldade em permanecer nessa posição do que aquele que lá chega com a ajuda
do povo, porque como se vê príncipe com muitos à sua volta que se acham seus
iguais, não os pode comandar nem dirigir ao seu modo”.
Ao
ser um outsider e sem qualquer
ligação umbilical ao partido, Domingos Simões Pereira, com a ajuda de alguns
veteranos e de forma fraudulenta, conseguiu alcançar a liderança do partido que
passou a conduzir com uma autoridade excessiva. Mais que dirigir o partido
dedicou-se a defraudá-lo e a provocar desunião em vez de união.
Assim,
uma das soluções encontradas pelos engenheiros, Domingos Simões Pereira,
Presidente do PAIGC e Cipriano Cassamá, Presidente da ANP (o primeiro possui um curso superior, mas o
segundo nem do curso médio tem), para continuar o crime de lesa a
pátria através do saque ao erário público, foi transformar as instituições do
Estado à semelhança das suas imagens, o que tornou perene a anarquia no país.
Criaram anarquia através de movimentos cívicos encomendados, tiveram a
veleidade de expulsar do PAIGC e retirar o mandato aos deputados que tiveram a
audácia e a hombridade de se abster de votar o Programa do Governo apresentado
pelo então Primeiro-Ministro Carlos Correria.
O
referido programa não obedecia às regras estatutárias do PAIGC, segundo as
quais, antes de serem apresentados no Parlamento, todos os programas devem
passar pelo crivo do Comité Central, que enquanto órgão deliberativo, os devem
analisar e aprovar. Este procedimento não ocorreu e à revelia o programa foi
apresentado na ANP.
Perante
a ausência de um Regulamento Disciplinar e não observância estrita do princípio
do contraditório, os 15 deputados e mais alguns militantes que integraram o
Governo do Dr. Baciro Djá, deram as suas modéstias contribuições em prol do
desenvolvimento do país, após a queda do Governo do Engenheiro Carlos Correia.
A este ato contínuo de humilhação e para os obrigar a ceder perante o Conselho
Nacional de Jurisdição (CNJ), solicitaram que a Polícia de Ordem Pública
entregasse uma notificação nas suas residências, como se os mesmos tivessem recusado
comparecer perante tal órgão.
Convém
salientar que o próprio Presidente do CNJ não tem moral, nem ética para julgar
ninguém, porque violou flagrantemente as regras estatutárias do Partido, ao
aceitar desempenhar funções de Conselheiro do então Primeiro-Ministro
Engenheiro Domingos Simões Pereira, com o objectivo de o isentar de tomar
decisões na resolução de litígios. Esta estratégia foi a ponta do iceberg para mergulhar o país numa crise
sem precedentes, desde a abertura política.
Não
obstante o STJ ter reconhecido que a perda do mandato dos deputados viola
grosseiramente o Regimento Interno da ANP e constitui uma atitude obtusa,
ordenou o retorno imediato dos mesmos ao seu respectivo lugar na bancada. Como
não aceitaram esta decisão e para agravar ainda mais a crise, o Presidente da
ANP e os seus colaboradores decidiram unilateralmente bloquear o parlamento e
não convocar sessões, ignorando assim o requerimento elaborado pela maioria dos
deputados em exercício.
Quase
todas as possibilidades para se encontrar uma solução pacífica e viável a nível
interno para ultrapassar a dita crise foram esgotadas. Não obstante, a detenção
do monopólio do uso da força, que lhe possibilitava responder na mesma
proporção à falta de respeito a que foi sujeito enquanto Primeiro Magistrado da
nação, o Presidente da República pediu a mediação a nível sub-regional, para
que o país possa voltar à normalidade, por ser um homem com bom senso e que se
pauta sempre pelo diálogo e reconciliação, sem descurar o combate à corrupção.
Nesta
sequência, foi nomeado o Presidente da Guiné-Conacri, Professor Alfa Condé, na
qualidade de mediador da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental
(CEDEAO) para ajudar a resolver a crise.
Importa
referir que o encontro teve lugar na vizinha República da Guiné Conacri e após
várias rondas intensas de negociações, entre as partes desavindas, finalmente
conseguiu-se chegar a um acordo, que todos acreditavam que poderia resolver de
vez esta crise.
No
referido acordo constam dez pontos, porém apenas me irei debruçar sobre os dois
que considero fundamentais para solucionar o problema e devolver aos guineenses
a paz que merecem, nomeadamente:
1. A nomeação de
um Primeiro-Ministro que reúna o consenso de todos os intervenientes e que,
principalmente, mereça a confiança do Presidente da República;
2. A reintegração
integral dos 15 deputados a quem foi retirado compulsivamente o mandato, em
consonância com as regras em vigor no Partido.
Após
o regresso a Bissau, a tentativa de implementar o acordo de Conacri falhou
totalmente, porque a escolha de um Primeiro-Ministro da confiança do Presidente
da República recaiu sobre Umaro Sissoko, contrariamente do desejo do PAIGC que
pretendia que fosse o Dr. Olivais. Esta situação foi fortemente contestada pelo
PAIGC, que reitera a escolha consensual do seu candidato. Toda esta situação
mergulhou, novamente, o país numa crise profunda que veio minar todos os
esforços realizados.
Relativamente
ao ponto um, todos sabemos que a última palavra cabe ao Presidente da República,
porque se subentende que independentemente da escolha consensual do
Primeiro-Ministro, que venha a ser feita pelos signatários do referido acordo,
um dos três nomes propostos deve merecer a confiança do Presidente da República
e ser capaz de garantir a estabilidade parlamentar e governativa.
Desde
que o líder do PAIGC, Domingos Simões Pereira, ousou comparar-se ao nosso
saudoso e imortal líder Amílcar Cabral, e foi afastado legalmente do poder, que
o PAIGC age de má fé e compromete todo um projecto de unidade nacional, sendo
esta situação reconhecida pelo próprio durante uma entrevista. E mesmo que a
escolha recaísse na pessoa do Dr. Olivais, o afastamento dos 15 deputados e
altos dirigentes da estrutura do partido, iriam incentivar a abstenção de votar
de novamente no Programa do Governo.
Quanto
ao segundo ponto, se os dirigentes em causa não forem reintegrados na posição
que ocupavam no Partido, uma vez que o acórdão do STJ lhes dá razão e ordena
que retomem os seus mandatos enquanto deputados da Nação, ninguém os inibe de
continuar a ter a mesma posição e votar contra qualquer programa que seja
apresentado. Perante esta situação, o Presidente da República não teria outra
escolha se não nomear um dos três nomes que lhe irá garantir a estabilidade no
parlamento.
Face
ao exposto, o Roteiro que foi apresentado pelo PR durante a última Conferência
dos Chefes de Estado, só veio a reforçar o acordo de Conacri, para acabar de
vez com a crise, o que poderia ser possível se o PAIGC e os seus apoiantes
agissem de boa fé.
Pedir
o regresso ao Partido dos militantes, desde a base até ao topo, é a melhor
forma de facilitar o diálogo interno e evitar consequências imprevisíveis.
Todavia, não significa que Presidente da República esteja a imiscuir-se nos
assuntos internos do PAIGC.
É
no mínimo caricato e contraproducente exigir o respeito pela Constituição da
República, quando se nomeia um elemento da actual direcção do PAIGC, após a
expulsão dos 15 deputados, uma situação que viola a Constituição da República e
o Regimento da ANP, uma irregularidade que ainda veio a ser confirmada pelo
acórdão do STJ.
Importa
lembrar que desde que foi estabelecido o acordo do Conacri, todos os
dispositivos constitucionais foram temporariamente desligados e aguardam as
novas eleições. Esta solução precária surgiu para resolver a interrupção da
Constituição a que o PAIGC e o Presidente da ANP nos conduziram.
No
actual momento, a melhor solução não seria a realização de eleições, porque as
mesmas não constituem uma panaceia, nem resolveriam o impasse político, apenas
tendem a piorar a situação. Isto seria o mesmo que imaginar que um PAIGC
fracturado e sequestrado fosse capaz de ganhar as eleições.
O
Roteiro é no mínimo razoável e fácil de pôr em prática, pelo que encorajamos o
Presidente da República a não desistir da Guiné-Bissau, que continua firme em
defender os interesses da maioria.
Poeta Romântico
ISS
Está reflexão e de tal modo esclarecedor que devia passar por todos os meios da comunicação social e todos os dias até que os na entendidos compreendessem que este País está cansado do PAIGC, os principais responsáveis por aquilo que tem passado nesta martirizada Pátria. Foram eles que criaram os piores hábitos sociais e de governação desde a Independência. Já chega. Que deixem o Jomav trabalhar porque teve coragem de meter o dedo na ferida mesmo sendo do PAIGC, mas renovador. Com ele está muita boa gente tanto no PAIGC como fora dele.
ResponderEliminarParabéns então para o autor deste artigo que comprometo me a divulgar.