Caro Doka sei que hoje você sabe que guineenses leem sua informação. Mas não sei qual a dimensão que você sabe realmente que sua informação tem.
Quero te dizer que eu sou um dos que você leva a entender o que passa e como as coisas estão no nosso país.
Eu moro no Brasil, mas todos os dias procuro saber através de sua fala o que passa.
Não sou de falar muito, mas quando falo, procuro falar o que sei e procurar informar da melhor forma possível.
POR FAVOR, PUBLIQUE A SEQUENCIA DO QUE PROPUS A FALAR DURANTE ESSE TEMPO.
Vou falar bastante sobre ANTIGOS COMBATENTES e de sacrifícios que passaram na luta. Nomeadamente no Sul. Região da Guiné em que nasci. A começar por esse artigo. Ninguém deve achar que sabe mais de que ninguém na Guiné Bissau sobre a nossa luta.
Todos sabemos alguma coisas sobre a nossa luta e da independência daquele país. Decidi falar porque entendo que algumas pessoas estão preparando matar a história do nosso país para sempre como por exemplo, Aly Silva e seus neu-colonizadores.
Grato M'bana N'tchigna
24 de setembro de 1973
24 de setembro de 2014
41 anos da independência.
HOUVE
VENCEDOR OU NÃO NA LUTA DA LIBERTAÇÃO DA GUINÉ BISSAU?
Quando se depara com afirmação
como a que eu vi quando se “comemorou” 41 anos da independência da Guiné Bissau
através de blog de Aly Silva o que se subentende..? É uma pena
em ver alguém como Aly
Silva a publicar em seu blog no Setembro passado, data da nossa
independência que, a
guerra da Guiné Bissau não teve vencedor e que os dois lados; força armada portuguesa
e os guerrilheiros do PAIGC, ambos decidiram parar de apertar gatilhos; pronto,
por isso à guerra teria acabado e logo se conquistou a independência da Guiné
Bissau! É revoltante ouvir uma afirmação de alguém que afirma ser filho da
Guiné a publicar uma afirmação desse gênero!
O que será
que essa afirmação pretende incutir na cabeça das pessoas..?
Ao meu entender essa afirmação
subestima a nossa força, sacrifício, a nossa inteligência e vitória como um
povo. Desconsidera vidas perdidas ao longo de 11 anos na luta contra
colonialistas portugueses. E não reconhece e nem devolve o mérito ao povo
guineense. Principalmente aos nossos combatentes que tanto lutaram e muitos
tombaram em prol da independência da Guiné Bissau.
Para responder essa afirmação do
blog do Aly Silva quero destacar um dos cenários entre vários que testemunharam
em solo guineense e provam que a independência da Guiné Bissau foi conquistada
com luta, suor e vidas perdidas de próprios filhos da nossa terra. Portanto, a
vitória foi, é e será nossa sempre! Rejeite-a quem quer que seja.
EIS O CENÁRIO NARRADO
Ao pé de arvore de nome Baubá (em português
brasileiro). Arvore milenar na Guiné e comum em varas parte da África
semidesértica e savanas. Este árvore os guineenses chamam-no de KABACERA (em
crioulo, língua mais fala nacionalmente).
Até hoje creio eu que essa árvore KABACERA está no
local. Pois até 2011 passei pelo local e continuava intacta. Já tem um povoado
morando ao redor. Kabacera localiza-se entre três estradas. A saber: estrada
que liga Catió, Cufaar e Quibumban no sul da Guiné Bissau região de Tombali.
Entre cruzamento dessas tri-estradas brotou e cresceu arvore de kabacera.
A
100 metros aproximadamente da kabacera havia barraca (acampamento) dos
guerrilheiros de PAIGC que reclamavam a independência e exigiam a retirada da
força português da nossa terra.
Um dos comandantes do acampamento
no momento era Sana Na Láza. Entre seus poucos soldados que não ultrapassava 15
homens havia soldado Kyméh Na Bágue. Soldado Kyméh é meu primo irmão.
Kyméh estava de serviço no dia.
Sabiam que tugas (portugueses) de aquartelamento de Cufaar estavam para fazer
patrulha entrando mato adentro a pé em busca de seu acampamento. O que
raramente fazem, pois sempre que o fizeram se deram mal por causa de emboscada
que guerrilheiro impunha a eles. Mas mesmo assim o informante garante que tugas
estão determinados a fazê-lo. Nesse sentido soldado Kyméh Na Bágue mais um do
seu colega deslocaram em direção ao corredor que liga Cufaar a Botche-M’mindy e
Kabilôn, tabancas (vilas) habitadas majoritariamente pela etnia Balantas que
portugueses acusam de abrigar guerrilheiro de PAIGC.
Era 07hs de manhã. A neblina
estava muito intensa e a visão que se podia ter era apenas de 10 a 13 metros ao
redor. Quando chegaram ao corredor entre Bothe-M’mindy e Kablôn, ficaram por
uns minutos a margem de um dos braços de rio do lado de Botche-M’mindy tentando
achar vestígios que poderia ser deixados pela marca das botas do inimigo.
O colega de Kyméh que estava na
frente sugere que se separem. Kyméh aceitou sugestão e se separam. Alguns
minutos depois da separação Kyméh viu pisadas frescas de botas. O vestígio é
sinal de alerta de que o inimigo, tuga
está por perto. Kyméh tentou subir encima de cupim (bagabaga)- em
crioulo guineense para tentar ter uma boa visão, mas a neblina continua
intensa, portanto, não deu para ver nada de longe. Agora continuar a caminhar é
um risco. Pois a qualquer momento poderia encontrar com o inimigo.
Resolveu voltar para avisar o
colega que seria melhor votar no acampamento avisar que tugas estão por perto.
Quando estava chegando ao local em que se separou com o colega sentiu barulho
de algo que vinha do lado esquerdo e se escondeu para esperar ver o que era.
Era de se esperar soldados inimigos com armas impunhas pronto a disparar.
Passaram a alguns metros em relação ao Kyméh deixando-o apavorado de medo.
Voltou agora correndo em direção ao seu colega. De repente escutou disparo de
metralhadora. Mesmo assim continuou a correr. Para sua surpresa escutou voz que
o dizia: alto, mão para cima..! Não obedeceu caiu no chão lançando a granada
que tinha na mão e se rastejou para se esconder atrás de cupim-bagabaga. Em
seguida disparado rajadas em direção ao inimigo novamente. Nessa confusão
percebeu que o inimigo se intimidou e saiu da bagabaga e foi correndo agora em
direção ao acampamento.
Antes de chegar ao acampamento
encontrou seus colegas inclusive comandantes Sana Na Láza que corriam, porém,
Na Láza segurando várias granadas na mão e algumas penduradas pelo pescoço
perguntando de que disparo se trata. Logo que o avistaram perguntaram do seu
colega, respondeu que não sabia o porquê se separam. Voltaram agora procurando
as duas coisas. Seu colega de arma e o inimigo. Por uma hora de andar cauteloso
avistaram o grupo de tropa colonial subindo de volta ao Cufaar. Mas onde está o
colega de arma..? A busca continua agora com preocupação até que uma hora
depois, veio a dura verdade. Foi alvejado e morto próximo ao pé de palmeira.
Levaram corpo de volta ao acampamento. Engoliram a seco a perda de um de seus
homens.
Pronto, começa inicio duma semana
que Sana Na Láza junto ao seu grupo de menos de 16 homens iria vingar e deferir
golpe amargo aos tugas. Tugas sabiam muito bem que viria retaliação. Na Láza e
seu grupo bloqueia a passagem de tugas tanto de Cufaar e Catió em direção a
Quibumban. Tugas inconformado com bloqueio decidiram atacar acampamento de Na
Láza. Objetivo era de destruir o acampamento e acabar de vez por toda com o
bloqueio imposto e a posição dos guerrilheiros de PAIGC na encruzilhada de Kabacera.
Para isso a investida tinha que ser pesada e duradoura de que costumava a ser
antes.
A força portuguesa se mobilizou:
infantaria de Catió e de Cufaar, canhões posicionados de: Catió, Bedanda, e
Quibumban em direção ao acampamento de Kabacera. Sendo Kufaar mais próximo do
Acampamento era à base de tropa portuguesa que mais armazena armamento e
munição no sul da Guiné Bissau. Alem de avião a jato que dominou espaço aéreo.
O plano em ação bombardeou de canhões e depois com avião a jato aparentemente surtiu
efeito. Guerrilheiros de Sana Na Láza sentiram a força e a violência do ataque
pelo avião e canhões e recuaram do acampamento que foi totalmente destruído e
as árvores ao redor sobraram apenas troncos sem a folhagem e nem ramos. Cheiro
de pólvoras e fumaça de queimado tomava conta de todo local. Acampamento de
Kabacera estava “acabada e nas mãos de tugas”. Dois dias sob intensa investida
pesada do inimigo.
Terceiro dia a infantaria
entraria para desalojar o que sobrava do resto. Quem disse que este cálculo da
força português funcionou. Quando a infantaria portuguesa começou avançar do
lado de Kufaar o comandante Na Láza impõe e coordena a resistência. Disse em
tom bravo de desafio em sua língua nativa: Bekeya
yanta ka Bláthe –“não sairemos da Kabasera”. Nessa hora de decidir,
comandante Na Láza pede bazuca. Descartando assim uso de arma ligeira. Correu e
encostou-se numa bagabaga-cupim. Pediu aos seus assistentes que não lhe falte
munição. Foi o dia inteiro numa guerra que revelaria aos portugueses que não se
deve subestimar a força dos guerrilheiros instalados em Kabacera. E que
Kabacera ainda não está ganha pela força colonial. Quando deu 17h e 43min a bazuca
que Na Láza estava usando por disparo intenso que fizera o cano de bazuca
esquentou tanto que decepou e caiu no chão. O Que guerilheiro M’bana Na N’heetá
viu e disse: Um dia essa história será
contada para nossos filhos e não acreditarão. Na Láza pede uma nova bazuca
e disse: abinan khér, bo ma tétchi kin
nan...- “se querem a guerra, nós ainda queremos mais...”
Quando deu 18hs tugas perceberam
que tinham que retirar depressa antes que
anoitece. Saíram em retirada voltando para Kufaar e Catió reciprocamente.
A noite foi de festa dos guerrilheiros. Deferiram golpe ao inimigo como
queriam. Divertiram tocando instrumentos confeccionados com a pele de cabrito
que chama de “ksicó” no idioma Balanta. O gosto da resistência a uma força
superior a deles os anima que seu acampamento não será destruído e nem sairão
dali.
O dia segunte portugueses fizeram
nova investida avançando por dois lados principais; Catió e Kufaar. Mas sem
sucesso. A batalha arrastou se por uma semana. A força portuguesa perdeu a
guerra. Soldado Kyméh Na Bágue como se duvidasse, porém alimentando uma
esperança mista de convicção, finaliza dizendo: eu não acredito. Eles nos bombardearam durante uma semana de avião,
canhões. Têm munições que nunca acabam, mesmo assim vencemos essa batalha e não
nos derrotaram..? Não há como não libertar essa terra, tirando-a nas mãos dos
colonizadores.
Portanto, baseado nesse cenário que aconteceu no
sul da Guiné Bissau. Essa não é uma história inventada quem lutou ali está vivo
como meu primo irmão Kyméh Na Bágue, por exemplo. Mora no Bairro Quilele em
Bissau! Que esse blog não incuta na cabeça de ninguém a idéia falca da
realidade da independência da Guiné Bissau.
Nunca mas nunca
mesmo... E que fica claro para quem quer que seja que colonialistas portugueses
não deram independência a Guiné Bissau. Fomos nós quem conquistou a nossa.
Fomos vencedores.
Como Amilcar L. Cabral dizia. Empresto sua fala
para dizer o mesmo: saúde, longa vida eis
cada vez maior aos nossos gloriosos combatente... -Amilcar L. Cabral.
Mesmo que alguém negue seus feitos gloriosos hoje!
Eu vos homenageio e sempre vos reconhecerei enquanto eu viver.
Licenciado em filosofia: M’bana N’tchigna
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