sábado, 1 de novembro de 2014

Caro Doka sei que hoje você sabe que guineenses leem sua informação. Mas não sei qual a dimensão que você sabe realmente que sua informação tem.

Quero te dizer que eu sou um dos que você leva a entender o que passa e como as coisas estão no nosso país. 
Eu moro no Brasil, mas todos os dias procuro saber através de sua fala o que passa.

Não sou de  falar muito, mas quando falo, procuro falar o que sei e procurar informar da melhor forma possível. 
POR FAVOR, PUBLIQUE A SEQUENCIA DO QUE PROPUS A FALAR DURANTE ESSE TEMPO.
Vou falar bastante sobre ANTIGOS COMBATENTES e de sacrifícios que passaram na luta. Nomeadamente no Sul. Região da Guiné em que nasci. A começar por esse artigo. Ninguém deve achar que sabe mais de que ninguém na Guiné Bissau sobre a nossa luta.

Todos sabemos alguma coisas sobre a nossa luta e da independência daquele país. Decidi falar porque entendo que algumas pessoas estão preparando matar a história do nosso país para sempre como por exemplo, Aly Silva e seus neu-colonizadores.

Grato M'bana N'tchigna

24 de setembro de 1973
24 de setembro de 2014
41 anos da independência.

HOUVE VENCEDOR OU NÃO NA LUTA DA LIBERTAÇÃO DA GUINÉ BISSAU?

Quando se depara com afirmação como a que eu vi quando se “comemorou” 41 anos da independência da Guiné Bissau através de blog de Aly Silva o que se subentende..? É uma pena em ver alguém como Aly Silva a publicar em seu blog no Setembro passado, data da nossa independência que, a guerra da Guiné Bissau não teve vencedor e que os dois lados; força armada portuguesa e os guerrilheiros do PAIGC, ambos decidiram parar de apertar gatilhos; pronto, por isso à guerra teria acabado e logo se conquistou a independência da Guiné Bissau! É revoltante ouvir uma afirmação de alguém que afirma ser filho da Guiné a publicar uma afirmação desse gênero!
O que será que essa afirmação pretende incutir na cabeça das pessoas..?
Ao meu entender essa afirmação subestima a nossa força, sacrifício, a nossa inteligência e vitória como um povo. Desconsidera vidas perdidas ao longo de 11 anos na luta contra colonialistas portugueses. E não reconhece e nem devolve o mérito ao povo guineense. Principalmente aos nossos combatentes que tanto lutaram e muitos tombaram em prol da independência da Guiné Bissau.
Para responder essa afirmação do blog do Aly Silva quero destacar um dos cenários entre vários que testemunharam em solo guineense e provam que a independência da Guiné Bissau foi conquistada com luta, suor e vidas perdidas de próprios filhos da nossa terra. Portanto, a vitória foi, é e será nossa sempre! Rejeite-a quem quer que seja.

EIS O CENÁRIO NARRADO

Ao pé de arvore de nome Baubá (em português brasileiro). Arvore milenar na Guiné e comum em varas parte da África semidesértica e savanas. Este árvore os guineenses chamam-no de KABACERA (em crioulo, língua mais fala nacionalmente).

Até hoje creio eu que essa árvore KABACERA está no local. Pois até 2011 passei pelo local e continuava intacta. Já tem um povoado morando ao redor. Kabacera localiza-se entre três estradas. A saber: estrada que liga Catió, Cufaar e Quibumban no sul da Guiné Bissau região de Tombali. Entre cruzamento dessas tri-estradas brotou e cresceu arvore de kabacera.
            A 100 metros aproximadamente da kabacera havia barraca (acampamento) dos guerrilheiros de PAIGC que reclamavam a independência e exigiam a retirada da força português da nossa terra.
Um dos comandantes do acampamento no momento era Sana Na Láza. Entre seus poucos soldados que não ultrapassava 15 homens havia soldado Kyméh Na Bágue. Soldado Kyméh é meu primo irmão.

Kyméh estava de serviço no dia. Sabiam que tugas (portugueses) de aquartelamento de Cufaar estavam para fazer patrulha entrando mato adentro a pé em busca de seu acampamento. O que raramente fazem, pois sempre que o fizeram se deram mal por causa de emboscada que guerrilheiro impunha a eles. Mas mesmo assim o informante garante que tugas estão determinados a fazê-lo. Nesse sentido soldado Kyméh Na Bágue mais um do seu colega deslocaram em direção ao corredor que liga Cufaar a Botche-M’mindy e Kabilôn, tabancas (vilas) habitadas majoritariamente pela etnia Balantas que portugueses acusam de abrigar guerrilheiro de PAIGC.

Era 07hs de manhã. A neblina estava muito intensa e a visão que se podia ter era apenas de 10 a 13 metros ao redor. Quando chegaram ao corredor entre Bothe-M’mindy e Kablôn, ficaram por uns minutos a margem de um dos braços de rio do lado de Botche-M’mindy tentando achar vestígios que poderia ser deixados pela marca das botas do inimigo.

O colega de Kyméh que estava na frente sugere que se separem. Kyméh aceitou sugestão e se separam. Alguns minutos depois da separação Kyméh viu pisadas frescas de botas. O vestígio é sinal de alerta de que o inimigo, tuga  está por perto. Kyméh tentou subir encima de cupim (bagabaga)- em crioulo guineense para tentar ter uma boa visão, mas a neblina continua intensa, portanto, não deu para ver nada de longe. Agora continuar a caminhar é um risco. Pois a qualquer momento poderia encontrar com o inimigo.

Resolveu voltar para avisar o colega que seria melhor votar no acampamento avisar que tugas estão por perto. Quando estava chegando ao local em que se separou com o colega sentiu barulho de algo que vinha do lado esquerdo e se escondeu para esperar ver o que era. Era de se esperar soldados inimigos com armas impunhas pronto a disparar. Passaram a alguns metros em relação ao Kyméh deixando-o apavorado de medo. Voltou agora correndo em direção ao seu colega. De repente escutou disparo de metralhadora. Mesmo assim continuou a correr. Para sua surpresa escutou voz que o dizia: alto, mão para cima..! Não obedeceu caiu no chão lançando a granada que tinha na mão e se rastejou para se esconder atrás de cupim-bagabaga. Em seguida disparado rajadas em direção ao inimigo novamente. Nessa confusão percebeu que o inimigo se intimidou e saiu da bagabaga e foi correndo agora em direção ao acampamento.

Antes de chegar ao acampamento encontrou seus colegas inclusive comandantes Sana Na Láza que corriam, porém, Na Láza segurando várias granadas na mão e algumas penduradas pelo pescoço perguntando de que disparo se trata. Logo que o avistaram perguntaram do seu colega, respondeu que não sabia o porquê se separam. Voltaram agora procurando as duas coisas. Seu colega de arma e o inimigo. Por uma hora de andar cauteloso avistaram o grupo de tropa colonial subindo de volta ao Cufaar. Mas onde está o colega de arma..? A busca continua agora com preocupação até que uma hora depois, veio a dura verdade. Foi alvejado e morto próximo ao pé de palmeira. Levaram corpo de volta ao acampamento. Engoliram a seco a perda de um de seus homens.

Pronto, começa inicio duma semana que Sana Na Láza junto ao seu grupo de menos de 16 homens iria vingar e deferir golpe amargo aos tugas. Tugas sabiam muito bem que viria retaliação. Na Láza e seu grupo bloqueia a passagem de tugas tanto de Cufaar e Catió em direção a Quibumban. Tugas inconformado com bloqueio decidiram atacar acampamento de Na Láza. Objetivo era de destruir o acampamento e acabar de vez por toda com o bloqueio imposto e a posição dos guerrilheiros de PAIGC na encruzilhada de Kabacera. Para isso a investida tinha que ser pesada e duradoura de que costumava a ser antes.
A força portuguesa se mobilizou: infantaria de Catió e de Cufaar, canhões posicionados de: Catió, Bedanda, e Quibumban em direção ao acampamento de Kabacera. Sendo Kufaar mais próximo do Acampamento era à base de tropa portuguesa que mais armazena armamento e munição no sul da Guiné Bissau. Alem de avião a jato que dominou espaço aéreo. O plano em ação bombardeou de canhões e depois com avião a jato aparentemente surtiu efeito. Guerrilheiros de Sana Na Láza sentiram a força e a violência do ataque pelo avião e canhões e recuaram do acampamento que foi totalmente destruído e as árvores ao redor sobraram apenas troncos sem a folhagem e nem ramos. Cheiro de pólvoras e fumaça de queimado tomava conta de todo local. Acampamento de Kabacera estava “acabada e nas mãos de tugas”. Dois dias sob intensa investida pesada do inimigo.

Terceiro dia a infantaria entraria para desalojar o que sobrava do resto. Quem disse que este cálculo da força português funcionou. Quando a infantaria portuguesa começou avançar do lado de Kufaar o comandante Na Láza impõe e coordena a resistência. Disse em tom bravo de desafio em sua língua nativa: Bekeya yanta ka Bláthe –“não sairemos da Kabasera”. Nessa hora de decidir, comandante Na Láza pede bazuca. Descartando assim uso de arma ligeira. Correu e encostou-se numa bagabaga-cupim. Pediu aos seus assistentes que não lhe falte munição. Foi o dia inteiro numa guerra que revelaria aos portugueses que não se deve subestimar a força dos guerrilheiros instalados em Kabacera. E que Kabacera ainda não está ganha pela força colonial. Quando deu 17h e 43min a bazuca que Na Láza estava usando por disparo intenso que fizera o cano de bazuca esquentou tanto que decepou e caiu no chão. O Que guerilheiro M’bana Na N’heetá viu e disse: Um dia essa história será contada para nossos filhos e não acreditarão. Na Láza pede uma nova bazuca e disse: abinan khér, bo ma tétchi kin nan...- “se querem a guerra, nós ainda queremos mais...”  

Quando deu 18hs tugas perceberam que tinham que retirar depressa antes que  anoitece. Saíram em retirada voltando para Kufaar e Catió reciprocamente. A noite foi de festa dos guerrilheiros. Deferiram golpe ao inimigo como queriam. Divertiram tocando instrumentos confeccionados com a pele de cabrito que chama de “ksicó” no idioma Balanta. O gosto da resistência a uma força superior a deles os anima que seu acampamento não será destruído e nem sairão dali.

O dia segunte portugueses fizeram nova investida avançando por dois lados principais; Catió e Kufaar. Mas sem sucesso. A batalha arrastou se por uma semana. A força portuguesa perdeu a guerra. Soldado Kyméh Na Bágue como se duvidasse, porém alimentando uma esperança mista de convicção, finaliza dizendo: eu não acredito. Eles nos bombardearam durante uma semana de avião, canhões. Têm munições que nunca acabam, mesmo assim vencemos essa batalha e não nos derrotaram..? Não há como não libertar essa terra, tirando-a nas mãos dos colonizadores.

Portanto, baseado nesse cenário que aconteceu no sul da Guiné Bissau. Essa não é uma história inventada quem lutou ali está vivo como meu primo irmão Kyméh Na Bágue, por exemplo. Mora no Bairro Quilele em Bissau! Que esse blog não incuta na cabeça de ninguém a idéia falca da realidade da independência da Guiné Bissau.  Nunca mas nunca mesmo... E que fica claro para quem quer que seja que colonialistas portugueses não deram independência a Guiné Bissau. Fomos nós quem conquistou a nossa. Fomos vencedores.


Como Amilcar L. Cabral dizia. Empresto sua fala para dizer o mesmo: saúde, longa vida eis cada vez maior aos nossos gloriosos combatente... -Amilcar L. Cabral.
Mesmo que alguém negue seus feitos gloriosos hoje! Eu vos homenageio e sempre vos reconhecerei enquanto eu viver.


Licenciado em filosofia: M’bana N’tchigna

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.