segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Uma linda história de amor a pátria

 *A HISTÓRIA  DE  KUMBA YALA: UM EXEMPLO PARA  JOÃO LOURENÇO*

A denuncia  do Presidente João Lourenço feita na  última reunião do CC do MPLA, segundo a qual  a estratégia da manifestação de  24 de Outubro, seria para “tornar o país ingovernável para forçar negociações bilaterais no actual contexto político”, que em outras palavras significa derrubarem lhe do poder, remete-nos a duas analises. Que o  Presidente  está   vulnerável a  informações de alegados “derrubes”, tal como esteve o seu antecessor JES.  A segunda analise, remete-nos a olhar o que aconteceu com o Presidente  Kumba Yala, da Guiné Bissau.

Em  Setembro de 2003, o então Chefe de Estado Maior da Guiné Bissau,  general Veríssimo Correia Seabra  avisou ao Presidente  Kumba Iala que estava em curso um levantamento militar e que precisavam leva-lo  para um local seguro. Kumba foi levado e  guardado   numa sala  no Quartel Geral. Quando o  levantamento militar  terminou, os militares, segundo uma descrição  do jornalista Luís Castro (no seu livro repórter de guerra),  perguntaram ao Presidente:  “Quer ficar aqui, no quartel-general ou ir para casa?”, Kumba respondeu: “Prefiro ir para casa, estou cansado”. Os militares formaram um coluna e levaram-no. Quando viu que estava a ser levado para casa, perguntou a um dos seus oficiais: “Para onde vamos? Eu quero ir para a Presidência.”. Seguiu-se um diálogo hilariante: “Não podes”. “Mas não posso porquê?”. “Porque houve um golpe.”. “Um quê?”. “Um golpe de Estado”. “Contra quem?”. “Contra ti”. “Contra mim?”. “Sim. E já não és Presidente!”. “Então quem é?”. “É o Veríssimo”. “O Veríssimo?”. “Sim, o Veríssimo. Tu já não mandas!”. “Ai o filho da puta, cabrão, vou matar-te!”. Foi preciso metê-lo à força dentro de casa. 

Sem ter havido  derramamento de sangue, o general  Veríssimo Correia Seabra, depôs Kumba Yala, numa brincadeira e   tornou-se no 8.º Presidente da Guiné-Bissau. 

Trazemos esta historia de Kumba Iala, para manifestar preocupação sobretudo quando vemos o Presidente João Lourenço, a chamar de emergência o ex-líder da UNITA, os Bispos e de seguida   reportar ao CC do  seu partido  que os jovens manifestantes pretendiam  tornar “o país ingovernável para forçar negociações bilaterais”. Torna-se ainda preocupante ainda  quando vemos o Secretário do Estado do Interior, Salvador Rodrigues  apresentar dados  empolados sobre a tal manifestação,  e mais ao sul,  o comissário Francisco Ribas a anunciar dados falsos para reprimir militantes da UNITA e do PRS, na cidade do Huambo.  Fica-se com a ideia que os comandantes da Polícia Nacional  estão a brincar aos “derrubes” com o Presidente da República. 


José Gama

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