quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

O incansável Umaro Djau

 A ONU NÃO FALHOU NA GUINÉ-BISSAU 

Eu já ouvi e li várias declarações sobre o fim da missão da ONU na Guiné-Bissau. 

Muitos políticos e analistas dizem que a missão da UNIOGBIS falhou, mas são poucos os que conseguem enumerar factores convincentes sobre as tais falhas.

A ONU não falhou. 

A ONU fez o que podia fazer, dentro das circunstâncias do país e dos limites do seu mandato. 

A missão da ONU não era para gerir o país constitucional, administrativa e tecnicamente. 

Quem falhou nestas duas décadas (1999 - 2020) é a própria Guiné-Bissau que não teve interlocutores à altura dos seus desafios (e da própria missão da ONU). 

Tivemos um país que não conseguiu falar numa única voz;

Um país que não conseguiu olhar para uma direcção;

Um país que não conseguiu se sentar numa mesa;

Um país onde individualidades se confundiram com o Estado;

Um país onde alguns partidos foram (e continuam) mais fortes que o próprio Estado;

Um país onde os egos individuais foram sinônimos dos interesses da nação;

Um país que não quis (ou não soube) se entender, simplesmente. 

Os críticos da ONU devem compreender que o trabalho da liderança "adaptativa" nunca devia ser transferido para uma organização, seja ela regional ou internacional. 

Como sabiamente articula o académico e o Professor Ronald Heifetz, o acto de mobilização de um grupo de pessoas para confrontar desafios difíceis (e sair vitorioso no processo) requer uma percepção profunda de uma sociedade.

A Guiné-Bissau precisa de fazer um trabalho profundo para se compreender o que está mal. E esse trabalho será lento, penoso e em incrementos. Ele nunca poderá ser encomendado ou exportado para um gabinete de consultoria internacional. Ele terá que ser desenvolvido por guineenses, preparados e prontos para confrontar todas as adversidades sociais, culturais, religiosas e políticas.

E ele certamente não será um trabalho meramente técnico. 

Um tal trabalho não é (e nunca será) da responsabilidade da ONU. 

Quanto mais cedo reconhecermos esta realidade, mais cedo podemos começar o desafio de auscultação e da construção da nossa nação, contando, claro com os bons ofícios dos nossos parceiros bilaterais e multilaterais. 

-Mestre Umaro Djau

31 de Dezembro de 2020

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