terça-feira, 15 de setembro de 2020

 GUINÉ-BISSAU: SERÁ PRIORITÁRIA A CONSTRUÇÃO DE UM AEROPORTO?

Como um Governo toma as suas decisões sobre os programas ou as políticas (sociais, económicas, ambientais, etc.) a implementar num específico país, como a Guiné-Bissau, quando os recursos (financeiros) são escassos e as prioridades imensas? Esta é uma das perguntas mais comuns em qualquer país, mesmo nos países com abundantes recursos – a questão de prioridades.

Quando soube que o Governo em funções na Guiné-Bissau pretende construir uma grande obra aeroportuária, tive logo a inclinação de me perguntar se esta obra seria prioritária num país com escassos recursos. Também, fiquei sem saber se se trata de uma das maiores prioridades do programa governamental do MADEM G-15, PRS e da APU-PDGB, os partidos maioritários na actual composição governamental (e parlamentar).

Tirando uns aspectos ou outros que podem ser melhorados (fundamentalmente logísticos e técnicos), o actual Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira serve muito bem as necessidades do país. Vejam o Cabo Verde, um país com um melhor índice económico e social (comparativamente à Guiné-Bissau), mas que tem um aeroporto internacional (Nelson Mandela) relativamente pequeno. O mesmo se diz em relação ao Aeroporto da ilha de Sal (Amílcar Cabral). Comparativamente, Cabo Verde tem certamente uma maior circulação de passageiros, um número que pode provavelmente ultrapassar um milhão de passageiros por ano.

Portanto, será que é prioritária a construção de um aeroporto gigante na Guiné-Bissau à imagem do nosso vizinho, o Senegal, sabendo que o nosso país sofre de grandes carências noutras áreas sociais, tal como na saúde e na educação? O quê é que nos valerá um aeroporto gigante, quando a Guiné-Bissau não pode responder às mínimas necessidades em termos de assistência médica e hospitalar aos seus cidadãos e visitantes (i.e. turistas), em casos de situações de urgência?

O Senegal, por exemplo, só começou a apostar em grandes infra-estruturas, nomeadamente o Aeroporto Internacional Blaise Diagne, os comboios, etc., depois de ter atingido um nível desejável de desenvolvimento social e económico noutras áreas fundamentais tais como a educação, a saúde, a agricultura, a energia, as pescas, etc. As acções correntes de governação no Senegal e em Cabo Verde reflectem as suas etapas de desenvolvimento. E assim devia ser também na Guiné-Bissau.

Mesmo perante as disponibilidades financeiras externas e as boas vontades dos nossos parceiros bilateriais, o nosso Estado e governos devem ser quem determinam os sectores prioritários. Assim sendo, a Guiné-Bissau nunca deve perder em vista a utilidade pública e social de cada projecto, antes da sua contemplação e implementação. 

O nosso país precisa de hospitais, das escolas, das estradas, de água potável. E face à escassez de recursos, os nossos governantes devem adoptar uma atitude crítica de constante priorização.  

Comecemos onde devemos começar.

--Umaro Djau

15 de Setembro de 2020

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