Interessante isto..., só que não percebi a razão do artigo!!! Que o povo português seja um povo invejoso???
O livro, editado pela Relógio d´Água, transformou-se repentinamente
num best seller, pelo que não admira que os lugares tenham sido poucos
para acolher todos os que se deslocaram à livraria de Leiria nesta noite para
ouvir o escritor do momento. Contudo, a fama repentina não seduz o autor,
que promete retirar-se brevemente do palco mediático: "Os média
não estão interessados na Filosofia, mas apenas no efeito mediático da
Filosofia", justifica.
José Gil começa por explicar o que não fez com este livro: não fez uma
abordagem de Portugal do ponto de vista disciplinar ou científico. A obra não
resulta de um inquérito, de um estudo sociológico ou demográfico nem sequer uma
história das mentalidades vigentes em Portugal. Escreveu abstractamente sobre a
vida dos portugueses.
O livro toca nas pessoas, segundo alguns para mortificar, mas José Gil
assegura que não quer mortificar ninguém, nem pretende que o livro arraste
consigo forças mortíferas ou forças de parilisia, pelo contrário, deseja que o
livro desencadeie uma esperança de nascimento. Para o autor, a inveja, que tem
imensas estratégias, não é uma relação puramente psicológica, é mais do que
isso: trata-se de um sistema que tem autonomia e vive em meios fechados, que
cria entraves àqueles que têm ideias, iniciativas e empreendimentos.
"A mentira, ou seja, distorção da verdade foi levada a um ponto tal no
discurso político português que levou ao descrédito dos políticos e do discurso
político, da Esquerda à Direita", adianta o filósofo, acrescentando que
"é preciso um novo pacto, o que não implica dizer a verdade - o inverso da
mentira não é a verdade - já que não se pode ter um discurso político
verdadeiro, mas pode aproximar-se da verdade".
O sucesso editorial e social deste livro extravasou em muito os círculos
intelectuais. Segundo José Gil, "O livro toca nesses podres em que a
população portuguesa atingiu um grau de insuportabilidade. O que o livro provoca
em muitos é "vamos fazer qualquer coisa". Não se pode continuar
assim, não sabendo bem o que fazer. Quando eu falo da não-inscrição é porque
nós precisamos de respirar, o que significa criar, fazer, ver, ou seja, ter a
noção de que quando nós fazemos, escrevemos, pintamos, compomos, etc., nós
temos uma inscrição, afirmamos qualquer coisa que se marca no real, se
transforma e cria real".
O filósofo exemplificou: "Se vamos a um espectáculo de um coreógrafo
que vem a Portugal, gostamos de dança e descobrimos qualquer coisa de novo, uma
parte daquele espectáculo deveria derrubar alguma coisa na nossa vida e mudar a
nossa vida, descobrir espaços diferentes, maneiras de falar e de comunicar,
etc. mas o que acontece é que tudo isso fica para dentro. Nós gostámos muito,
tivemos mesmo em êxtase, mas ao sair do espectáculo voltamos para casa,
gostámos, mas não acontece nada... O feed back nos jornais é
geralmente uma crítica sempre descritiva porque tem-se medo de inscrever. Não
se ousa criticar porque se tem medo".
José Gil esclarece que não está a tentar caracterizar o espírito dos
portugueses, mas considera que há uma série de entraves à nossa possibilidade
de discussão que tem várias décadas. "Eu considero, por exemplo, que os
portugueses são potencialmente tão capazes de empreender e de inovar como
outros povos. Se não temos génios precisamos de condições de criação subjectiva
para criar. Por exemplo, eu gosto de admirar porque me dá força admirar. Em
Portugal não se admira, ou se faz um elogio tão grande do género «este é o
maior escritor do século», que se torna irreal, ou se entra na
fulanização", analisa.
Para o autor, "somos uma sociedade de negação do enfrentamento, de
negação do conflito por temos medo de ferir o outro e ferir o outro é
ferirmo-nos a nós próprios, por ricochete. Não acho que a inveja seja uma
característica intrínseca do povo português. A inveja, o queixume, o medo de
enfrentar as inibições, a normalização que existe há tanto tempo são traços
que, se parecem traços de uma portugalidade, é porque as condições de
subjectivização, aquelas que fazem nascer a nossa subjectividade, permaneceram
assim há décadas". No entanto, acredita que é possível mudar.
Relativamente à inveja, Gil admite que "não é uma característica
portuguesa, antes um dos sentimentos mais espalhados pelo mundo. Simplesmente
acontece que em Portugal a inveja tem uma força tal porque nós somos uma
sociedade fechada. E quando as sociedades se fecham, tudo se concentra, tudo se
paralisa, tudo se adensa e não respira. Uma universidade é um antro de inveja
em qualquer parte do mundo, seja nos Estados Unidos, em França ou na Inglaterra.
Mas vimos cá para fora e respiramos ar puro. Em Portugal não, sai-se cá para
dentro e não para fora", refere, defendendo, por isso, que a inveja
está em toda a parte no País.
O filósofo argumenta que "se nós nos abrirmos ao exterior mudamos as
condições de subjectivização e temos possibilidade de ver florescer a mudança.
Para que haja mudança, é preciso que haja desejo de mudança. Nunca uma
sociedade é completamente fechada, há sempre fracturas, linhas de fuga. Uma das
linhas de fuga pode ser a loucura. Eis alguém que não quis ser moldado. Se há
linhas de fuga, então procuremos as linhas de fuga. Elas estão sempre na nossa
singularidade. O que me impressiona no Portugal normalizado de hoje é quão
pouca diversidade existe na singularidade portuguesa".
E particulariza: "Os artistas dos anos 60 eram o que se poderia dizer
«meio passados» porque o real não era possível e eram de uma riqueza que não se
vê hoje em dia. A educação vai criando inibições e, aos 20 anos, somos mais ou
menos normalizados. Normalizam-nos porque criam condições com o medo e a inveja
para paralisar as forças que existem em nós. Temos muito mais forças do que
aquelas que manifestamos. Sentimos muito mais profundamente do que ousamos
sentir". E lança um desafio: "Rasguemos o texto e depois
inventemos".
Elogia o Brasil, pelo seu potencial criativo apesar dos problemas sociais
que atravessa: "O Brasil é um país cheio de bolsas (de criatividade)
extraordinárias e quando volto de lá venho com dez baterias carregadas",
revela. Relativamente à Europa, considera que foi ela que entrou em Portugal e
não o contrário, passando Portugal de um País disciplinar a um País de
controlo. O autor coloca também um ponto de interrogação no ideal europeu:
"Hoje ninguém sabe o que vai ser a Europa".
Quase meio século de salazarismo, segundo o autor, deixaram marcas
indeléveis: "Houve muitas gerações castradas pelo salazarismo que herdaram
o medo. A maioria dos portugueses aceitaram o salazarismo", refere. José
Gil defende que o 25 de Abril não provocou um corte com o sistema e o mesmo
aconteceu com a guerra colonial, apenas redescoberta há 5 anos, quando foram
reconhecidos, nomeadamente, os problemas causados com o stresse de guerra.
O professor é de opinião que a guerra colonial não foi inscrita no debate dos portugueses,
antes foi uma página voltada sem que tivesse sido inscrita. "Queremos
viver numa espécie de nevoeiro", conclui.
José Gil licenciou-se em Filosofia na Faculdade de Letras de Paris
(Sorbonne) em 1968. Em 1969, obteve a "maîtrise de Philosophie" e, em
1982, o "doctorat d´Etat de Philosophie". Actualmente é professor
catedrático na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de
Lisboa. José Gil tem obras publicadas no Brasil e está traduzido nos EUA,
França e Itália.
O professor da Universidade Nova de Lisboa, considerado em Janeiro
pela revista francesa Nouvel Observateur como um dos 25 grandes pensadores
do mundo, classifica Portugal como o País da não-inscrição, da negação do
conflito e da normalização, dominado pelos medos e pela inveja, herdados do
salazarismo, onde não existe um espaço público, lugar ocupado actualmente pelos
média.
esta historia esta mal contada e forçar tirar fotos para promover a sua imagem pelo mundo ai mundo vamos veres.
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