quinta-feira, 19 de agosto de 2021

 IMAME BUBACAR DJALÓ: UM HOMEM DE PAZ

Na sua capacidade oficial, ele era conhecido como o Presidente da União Nacional dos Imames da Guiné-Bissau. Entre a maioria dos guineenses ele era conhecido simplesmente por Aladje Bubacar Djaló de Mansoa. Entre os mais achegados, ele era Cheikh Bubacar Djaló. E, para os mais atentos, nomeadamente entre a sociedade civil guineense, ele era simplesmente um “Homem de Paz”.

O desaparecimento de Cheikh Aladje Bubacar Djaló é uma perda irreparável para toda a Guiné-Bissau, independentemente da fé e da religião de cada um.

Antes de o conhecer pessoalmente, já tinha lido vários artigos sobre o seu envolvimento na sua comunidade de Mansoa, em termos de aproximação e de convivência pacífica entre pessoas de várias confissões religiosas.

Anos mais tarde – através do jornalista português António Pacheco – ouvi, em primeira mão, narrativas interessantes sobre a grandeza da figura de Aladje Bubacar Djaló. Foi em Setembro de 2010, durante uma Conferência sobre o “Papel das Rádios Comunitárias na Consolidação da Paz na Guiné-Bissau” promovida pela Universidade Rhode Island College, nos Estados Unidos da América. A partir desse momento, o nome de Aladje Bubacar Djaló ficou gravado na minha memória. E através de António Pacheco ficou-me patente o papel de Aladje Bubacar Djaló na promoção da paz, do diálogo e da estabilidade nacional.

E nas minhas múltiplas viagens para a Guiné-Bissau, nunca perdi uma oportunidade de me avistar com Aladje Bubacar Djaló, na sua terra, em Mansoa. Num dos nossos últimos encontros em 2018, ele me ofereceu um livro com o título “Os Muçulmanos no Brasil – a Diversão do Estrangeiro em Tudo que é Incrível” da autoria de Cheick Abdul Rahman bin Abdulah al-Baghdadi (ver a foto). O livro reconta a viagem desse sábio muçulmano, de Istambul (Turquia) ao Brasil, no ano de 1865 (ano islâmico 1282 H.) durante o califado otomano, no reinado do Sultão Abdul Aziz. Al-Baghdadi, de acordo com o livro, foi uma das pessoas mais instrumentais na implantação do islão nas terras brasileiras.

Tal como al-Baghdadi, Aladje Bubacar Djaló foi crucial na expansão do conhecimento, da mensagem e prática do islão na Guiné-Bissau. Que o digam tantos programas radiofónicos apresentados por ele na Radio Sol Mansi – sempre em nome da verdade, da justiça, da moralidade, da ética social, da rectidão, da irmandade e da união entre cidadãos de todas as etnias, raças, confissões religiosas e crenças.

Aladje Bubacar, no mês de Março deste ano, li o livro que me ofereceu. Confesso que tinha na mente a ideia de discutir o seu rico conteúdo consigo. Quem sabe, um dia, quando Allah cruzar de novo os nossos destinos.

Descanse em paz, ilustríssimo amigo e irmão, Aladje Bubacar Djaló.

Um Descanso Eterno.



--Umaro Djau

19 de Agosto de 2021

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