segunda-feira, 12 de outubro de 2020

UMARO DJAU, HUM HUM

 UMA HERANÇA APARTIDÁRIA, SAGRADA E NACIONAL

Cada vez que desaparece um Combatente da Liberdade da Pátria, ou seja, um notório antigo combatente, as cerimónias fúnebres quase que se realizam sempre na sede do PAIGC, em Bissau.

Compreende-se que essas pessoas (e as suas famílias) merecem todo o enaltecimento e todas as honras e as glórias por parte do PAIGC;

Compreende-se também que ao PAIGC fica bem a simbologia desses tipos de eventos que reforçam o seu inegável papel histórico;

Compreende-se também as razões das tentativas políticas de perpetuação dessa realidade histórica no consciente e subconsciente do povo guineense;

E, por último, compreende-se até a inevitabilidade de tais actos organizacionais por parte do PAIGC, na ausência de outras estruturas vocacionadas para o efeito.

Mas, permitam-me prosseguir com o meu raciocínio, em defesa de uma herança que nos é comum.

Enquanto nunca será possível desassociar o PAIGC dos antigos combatentes (e do processo da luta de libertação nacional), já passou da altura quando o Estado guineense devia assumir a sua responsabilidade moral e histórica e a função de elogiar e acompanhar essas heróicas almas para as suas últimas moradas.

Assim, as vidas, as lutas, os percursos e as conquistas desses heróis teriam significados e dimensões nacionais mais profundos, lá para além de uma perceptível partidarização, nos delicados momentos de consternação.

Aliás, os antigos combatentes da liberdade da pátria são heróis nacionais da Guiné-Bissau e de Cabo Verde, uma titularidade que devia ultrapassar os limites ou a grandiosidade de qualquer organização político-partidária.

Assumir uma tal responsabilidade moral, histórica e apartidária devia passar pela construção de um Palácio de Combatentes da Liberdade da Pátria que correspondesse ao espírito de uma inteira nação e não simplesmente de uma organização partidária.

E assumir uma tal linha de pensamento iria permitir a inclusão de todos os combatentes, entre àqueles que ora são anónimos (e residentes em todas as regiões do país), ora optaram pela neutralidade política, ou optaram por se militar noutras formações partidárias após a abertura política ou recentemente.

Sabendo que quase todos os organogramas governamentais na Guiné-Bissau incluem um ministério ou um secretariado de estado dos antigos combatentes, a priori, há ou pode ser criada uma estrutura para a efectivação, implementação e a gestão de assuntos desta natureza.

E juntos podemos eterna, agradecida e nacionalmente honrar os nossos combatentes e, consequentemente, renovar o nosso comprometimento com o nosso glorioso passado histórico -- estampado com sangue e suor -- durante a luta de libertação da Guiné e de Cabo Verde. 

Os Combatentes da Liberdade da Pátria são uma pertença comum de todos os guineenses. E assim deviam ser tratados – uma herança apartidária, sagrada e nacional.

--Umaro Djau 

12 de Outubro de 2020

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.