quinta-feira, 19 de maio de 2022

CONTINUAÇÃO E DOKA INTERNACIONAL NA LUTA PELA VERDADE

ASSASSINATO DO PRESIDENTE NINO VIEIRA
“I FALADU CUMA I CA-TA MURRI, MÁ NÔ MATAL !”

2ª PARTE.

(RELATÓRIO DO ASSASSINATO DO PRESIDENTE NINO VIEIRA)

FOI ASSIM, POR VOLTA DAS 06H00 DA MANHÃ DO DIA 2 DE MARÇO DE 2009 QUE OS EXECUTORES DE NINO VIEIRA, A MANDO DE ZAMORA INDUTA E CARLOS GOMES JÚNIOR SE VANGLORIAVAM DE  TEREM ASSASSINADO COVARDEMENTE O MÍTICO COMANDANTE NINO VIEIRA.

 PUBLICAÇÃO DO DOKA INTERNACIONAL EM BUSCA DA VERDADE!

“....INQUIRIÇÃO AO DR. OSÓRIO FURTADO

fls 68 dos autos, declara que foi chamado pelo senhor Adolfo Martins, Protocolo do Presidente Nino Vieira, através do telefone por volta das 02h00 de madrugada do dia 02 de Março, para comparecer na residência do Presidente. Quando ali chegou, encontrou o Sr. Barnabé Gomes, a Srª Palmira, a esposa do Presidente D. Isabel Romano Vieira e o Sr. Adolfo lhe informou que também, mandou chamar a Srª Henriqueta Godinho Gomes e o Dr. Armindo Serqueira.

Na reunião com então Ministro da Defesa Nacional, Artur Silva, Pedro Godinho Gomes, o Presidente em diálogo com o referido Ministro, procurou inteirar- se do ocorrido que culminou na morte do General Tagme Nawaié.

Na sequência das informações recolhidas, o Presidente pediu ao Sr. Osório, para tomar nota dos pontos a constar na eventual mensagem ou discurso a ser dirigido a Nação, logo nas primeiras horas da manhã , tendo sido acordado que seria uma mensagem à Nação, em vez de discurso cujos tópicos seriam:

- Informaçao, lamentar, condenar e apelar à calma aos cidadãos nacionais e estrangeiros residentes no País;

- Manutenção da ordem e respeito pela Constituição da República e submissão ao poder político pelos militares.

Disse que terminada a reunião, o Presidente Nino, foi para o seu aposento e o então Ministro da Defesa foi levado ao Hospital Nacional Simão Mendes, pelo senhor Adolfo Martins e a senhora Henriquieta Godinho Gomes e o marido foram à respectiva residência.

Minutos depois, ouviram primeiros disparos de armas ligeiras em direcção à residência do PR e foram para a cozinha juntamente com Adolfo, Barnabé, Palmira e uma senhora que se presume ser a governante ou cozinheira da casa.

Por volta das 08h00 da manhã, foi directamente para a sua residência sempre na companhia do Dr. Armindo, vindo a saber da morte do Presidente por volta das 11h00, pelas informações que estavam a circular.

Disse que foi um militar quem abriu a porta da cozinha, onde estavam escondidos e este vestido de uniforme militar de cor verde capim e armado com AK-47.

Disse que não pode reconhecer o militar que lhes abriu a porta. Sabe que tem cor escura, pode ter 1,80m e é ligeiramente mais forte que ele.

“.... INQUIRIÇÃO AO SR. TCHIPA NA BIDOM

As fls 78 dos autos, disse que estava de serviço no dia 01 de Março de 2009, na residência privada do falecido Presidente da República, como ajudante de campo do Presidente.

Era o único em exercício de funções, pois, dentre os três, o capitão de Fragata, Biom Na Tchongo, foi afastado das funções de ajudante de campo na sequência dos factos ocorridos no dia 23 de Novembro de 2008.

O Major Manuel Sanca, do Ministério do Interior que se encontrava doente.

Declarou que esteve com o Presidente Nino, como habitualmente acontecia na sua quinta em Insalma e só voltaram à Bissau, por volta sa 13h30m.

Disse que estava ainda na residência do Presidente quando se ouviu o estrondo depois das 19h00 e deu ordem a um segurança de nome Albino Bogra, que fosse ao Ministério do Interior inteirar-se do ocorrido, visto que pensava que ali é se ocorreu o mesmo e no regresso informou-lhe de que houve uma deflagração de bomba no Estado Maior General das Forças Armadas.

Em guisa de se inteirar do ocorrido, telefonou primeiramente o então coronel António Indjai, cujo numero de telemóvel agora desconhece e depois ao coronel João Gomes, cujo telemóvel se encontrava indisponível.

Após, vários telefonemas o Coronel João Gomes, informou-lhe que ocorreu uma explosão no Estado Maior, e que o então CEMFA, se encontrava morto e o Major Fendam Nassuma, ainda se encontrava vivo.

Em consequência da explosão que vitimou o então CEMFA, grande parte das chefias militares se encontrava na Base Aerea de Bissalanca, acompanhando o corpo do malogrado.

Foi nesta base que o Sr. Duarte Cabral, sugeriu ao Presidente Nino, que convocasse as chefias militares para um encontro com ele, o que achou inoportuno naquela altura pelo perigo que poderia advir.

E decidiu telefonar mais uma vez ao Coronel João Gomes que entretanto, passou o telemóvel ao tenente coronel Lassana Mansal e este por sua vez ao General Mamadú Turé, vulgo N’Krumah.

Disse que ficou na residência privada do Presidente Nino, até por volta das 04h00 de madrugada, altura em que ouviu o malogrado Lourenço Djeme a dizer que vai comunicar o Presidente de que já enviaram reforço, embora, o Djeme não lhe disse a ordem de quem foi enviado o dito reforço.

Declarou que quando encontrou o Senhor Djibe Candé, então Chefe de Companhia de Escolta Presidencial, este informou-lhe da vinda de reforços que já se encontravam nas periferias da residência privada do malogrado Presidente.

Disse que após ter tido conhecimento da referida chegada dos reforços, dirigiu-se em direcção à Embaixada da Líbia, com intenção de poder eventualmente encontrar-se com alguns dos militares enviados como reforços à casa do Presidente.

No sentido de certificar quem teria dado ordens neste sentido que mesmo ao pé da Embaixada Líbia, começou a ouvir tiros de armas, designadamente, de bazucas em direcção à casa do Presidente Nino.

Que continuou a caminhada e não muito longe da sede do Sporting, na escuridão ouviu a voz de comando de alguém a dizer-lhe “ não volte para trás, continue para a frente”!

Foi o que fez caminhar em direcção ao sítio donde saia a voz. Quando lá chegou, foi-lhe retirado a arma que trazia consigo AK-M47, por um militar tenente e depois foi conduzido às instalações da Marinha de Guerra Nacional.

.., Disse ainda que foi mensageiro entre o General Tagme Nawaié e o Presidente Nino Vieira. Foi através dele que o primeiro soube de rumores que circulavam de que havia intenção deste ùltimo matar o primeiro e que o General Tagme Nawaie disse literalmente esta palavra ao Presidente Nino.

Disse que é cunhado do General Tagme Nawaié, porque a sua mulher é prima do General e mantinha com o Presidente Nino, uma relação de fidelidade por causa do Comandante Guad Na Indami, falecido em 1973, em consequência da morte de Amilcar Cabral.

Disse que recorda num encontro com as Chefias militares na Presidência da República, o General Tagme teria advertido de forma severa ao Presidente Nino, que se morrer de manhã, este morreria a noite e explicou o significado do seu nome no dialecto balanta.

.... DILIGÊNCIAS DO PGR AMINE SAAD

“A fls 85 dos autos, o então Procurador Geral da República, Dr., Amine Saad, remeteu Carta Rogatória ao Ministro da Justiça, Mamadú Saliu Djaló Pires, solicitando a audição das testemunhas que se encontravam fora do território nacional, nomeadamente, Isabel Romano Vieira.

A fls 87, o refrido Ministro, solicitou através da Convenção Judiciária entre a Guiné Bissau e o Senegal, a notificação as testemunhas:

Isabel Romano Vieira, Barnabé Gomes e Coronel João Monteiro sobre os casos 01 e 02 de Março de 2009.

....INQUIRIÇÃO DE AUGUSTO ARTUR ANTÓNIO DA SILVA, ENTÃO MINISTRO DA DEFESA NACIONAL

“ A fls 88, no seu depoimento disse que estava em casa donde tomou conhecimento da explosão e só depois de ter estado na residência privada do Presidente Nino, é que veio a saber de que a referida explosão se tratava de uma bomba colocada no Estado Maior.

Disse que quando chegou a residência privada do Presidente já lá estavam alguns militares, dentre os quais, o Chefe de Estado Maior do Exército, General Mamadú Turé, vulgo N’Krumah e o Presidente procurou inteirar-se do ocorrido.

Esclarece que chegou a casa do Presidente por volta das 20h30mn, e que a reunião já tinha sido iniciada. Contudo, assistiu a referida reunião durante mais ou menos, 15 minutos.

Disse que depois da reunião, foi para a casa do Primeiro Ministro, Carlos Gomes Júnior, informá-lo da reunião acabada de ter lugar na casa do Presidente. Depois foi para o Hospital Simão Mendes, inteirar-se do estado de saúde dos militares feridos em consequência da explosão da bomba ocorrida no Estado Maior.

Esclarece que após ter constatado o estado de saúde dos militares feridos, viu que um deles estava numa situação crítica e sugeriu a sua evacuação para o exterior assim que o médico entendesse necessária e que o Ministério da Defesa assumiria os devidos encargos, cuja evacuação foi efectuada para a vizinha República do Senegal.

Disse que após estas diligências, voltou para a residência do Primeiro Ministro para dar-lhe o ponto de situação e depois dirigiu-se para a casa de um primo seu nome João José Silva Monteiro, vulgo Huco Monteiro.

Esclarece ainda que quando se encontrava no Hospital, telefonou ao General Mamadú Turé, na altura Chefe de Estado Maior do Exercito, a solicitar-lhe que o mantivesse informado do estado saúde do General Tagme e que lhe informou da morte deste.

Esclarece que como as instalações hospitalar da Base Aerea não tinha condições médicas, sugeriu ao General Mamadú Turé, que o corpo fosse levado para a casinha Mortuária do Hospital Simão Mendes, o que acabou por acontecer.

Disse que ainda em casa do primo foi contactado pelo senhor Adolfo Martins, pedindo a sua comparência na residência privada do Presidente Nino. Quando ali chegou já estavam a Henriquieta Godinho Gomes e o marido, Dr. Armindo Serqueira e o Dr- Osório Furtado. Na conversa, o Presidente lamentou a morte do General Tagme Nawaié.

Disse que o Presidente iria presidir a reunião do Conselho de Ministros marcada para o dia seguinte.

Esclarece que saiu da residência privada do Presidente já por volta das 04h00 de madrugada do dia 02 de Março de 2009, na viatura disponibilizada pela então primeira dama, Isabel Romano Vieira.

Disse que não havia nada de anormal em termos de segurança e no percurso feito, nomeadamente, rua Angola, passando pela esquina da embaixada da Libia e ainda pela zona do Centro Cultural Brasileiro até a Avenida Francisco Mendes, não constatou nada de anormal.

Disse que soube da morte do Presidente Nino, por volta das 07h00 do dia 02 de Março, através do Primeiro Ministro quando fora- lhe informar da conversa tida com o Presidente pela segunda vez na sua residência, em que foi convocado para o efeito.”

.... AUDIÇÃO DO GENERAL MELCIEDES MANUEL FERNANDES

“ A Fls 91 à 96 dos autos, o Senhor Melciedes Manuel Fernandes, vulgo Manel Mina, declara que foí vítima de persiguição sistemática e contínua por parte do General Tagme Nawaie, chamando-lhe de corrupto.

Revelou que foi o militar vulgo CATCHA quem abateu com tiros à queima roupa, o Coronel Domingos Barros e quem matou o General Veríssimo Correia Seabra, foi o militar de nome TANGATNA, cuja a sua étnia é fula, mas foi educado pelos balantas.

Declara que foi acusado pelo General Tagme, de estar a reunir com rebeldes de Casamança em Bula, quando estava a pescar no Cais de Pindjiquiti.

Disse que seu filho foi detido pelo General Tagme, cerca de um mês no Estado Maior, alegando que este transportava armas para os independentistas de Casamança.

Informou que o assassinio do Comodoro Lamine Sanhá, foi um militar de nome MUSSÁ SAMBÚ, afecto ao batahão do Estado Maior.

Confessou que foi ele quem fabricou a bomba como forma de se defender da perseguição do General Tagme, como explicou na PJ e que teve apoio do Tenente Malam Candé e da Sargenta Djabu Camará, vulgo Pomba Branca.

Esclarece que Nino Vieira, morreu por sua própria negligência, porquanto falharam vários atentados contra a sua pessoa, mas nunca houve responsabilização.

.... INQUIRIÇÃO SR. ANTERO JOÃO CORREIA

“ A Fl. 112, esclarece que enquanto Director Geral dos Serviços de Informação de Estado, recebeu informação através de dois canais(Interno e externo).

O interno, através de uma rede do seu Adjunto, Coronel Samba Djaló e externoatravés de um Oficial de ligação dos Serviços de Informação Portuguesa de nome Senhor Manuel Esperança, de que estava a ser preparada uma conspiração para a liquidação fisica do General Tagme Nawaié.

Disse que para execução do referido plano prepararam os homens nas pessoas de AMADÚ CAMARÂ e SALIFO SOLI DAFÉ, e foi comunicado a intenção ao Senhor Lúcio Soares, então Ministro do Interior.

Através do Coronel Samba Djaló, o referido Ministro soube da introdução de uma Bomba no Estado Maior e com aval deste, informou o então Chefe de Estado Maior, por dever do ofício.

Esclarece que foi nesta base que o General Tagme disse: “ Estou ciente de tudo, mas continua a trabalhar ” em caso de falhar a tentativa contra a sua pessoa, se conseguir capturar os agressores vai fazer duas coisas:

1 – Entregá-los às Nações Unidas

2- Ou Liquida-los Fisicamente

Disse que foi informado pelo Senhor José António Marques, que explodiu a Bomba no Estado Maior.

Como tinha saído do Estado Maior, a mais ou menos 10 minutos, ligou para o então Chefe de Estado Maior, mas não obteve resposta.

Informou que todos os relatórios produzidos foram entregues ao Capitão de Mar e Guerra, JOSÉ ZAMORA INDUTA, na presença do Coronel Samba Djaló e Coronel António Indjai. O outro relatório ficou para o arquivo e o terceiro foi entregue ao então Ministro do Interior, Lúcio Soares.”

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