Legislador não é “poteru” e o Juiz não deve vergar
vestes partidária
Ismael Sadilú Sanhá
Bissau, 13 de junho de 2018
Hoje, apraz-me falar sobre um dos sectores deveras vital
para edificação de um Estado de Direito e Democrático, mas devido ao aprofundar
da vigente crise política/institucional, não soube jogar devidamente o seu
papel o que tem contribuído de que maneira para pôr mais lenha na fogueira, que
já estava a arder.
Estou-me a referir ao Supremo Tribunal de Justiça (na
veste do Tribunal Constitucional).
Há, sensivelmente, seis meses e poucos dias, em Portugal,
instalou-se a polémica sobre a interpretação jurídica da recondução ou não da
atual Procuradora-Geral da República Portuguesa, Dr.ª Joana Marques Vidal,
quando a Ministra da Justiça, Dr.ª Francisca Eugénia da Silva Dias Van Dunem,
numa entrevista à TSF, colocou fora de hipótese a sua recondução, apesar da Constituição
da República Portuguesa (CRP) e o Estatuto do Ministério Público (EMP) não
explicita se é renovável ou não, diz apenas que o mandato é de seis anos. Para
a Ministra, foi estabelecido o mandato de 6 anos, precisamente para evitar
mandato longo. Por isso, como é longo, deve ser único e não renovável.
Em torno desta questão, havia muita discórdia e provocou
um intenso debate. Quando Presidente da República (PR) foi questionado, diz que
ainda é muito cedo para falar sobre isso. Na devida altura pronunciar-se-á
tendo em conta que a matéria é da exclusiva competência do Presidente da
República (PR) e do Governo. Para alguns juristas e conceituados
Constitucionalistas, como a lei não é clara relativamente à renovação do
mandato em causa, ela pode ser reconduzida. Uns corroboraram com a opinião da
Ministra, dizendo que, se um indivíduo leva muito tempo em determinadas
funções, pode misturar amizades com o trabalho. Dizem, ainda, que a lei devia
ser clara para evitar confusão. Relativamente à precisão da lei nos textos, um
amigo meu, disse-me, se a lei fosse clara, não haverá emprego para os fazedores
das leis, porque o campo para fintar as pessoas será muito limitado. Por isso,
não é por acaso, quando são confrontados com os problemas que carecem de uma interpretação
jurídica, começam por dizer, sabes, quanto à forma é isto e na matéria é
aquilo.
Em face à assimetria na interpretação relativamente à
opinião da Ministra Van Dunem, esta situação remeteu-me logo para a polémica na
ANP, que desembocou na expulsão dos 15 Deputados do PAIGC, por se terem abstido
de votar o Programa do Governo do PAIGC, apresentado pelo ex Primeiro-Ministro,
Eng.º Carlos Correia, em consequência foram expulsos do partido e, em seguida,
pela deliberação da Comissão Permanente da ANP, foram retirados mandato
compulsivamente.
A presente crónica consiste em analisar os elementos
nocivos que despoletaram a presente crise político/constitucional, que
desvaneceu a esperança dos guineenses de vislumbrar, pelo menos, o despontar da
luz do fundo do túnel para acalentar as suas almas, apesar de serem tenazes a
não ceder predestinado infortúnio, devido à rejeitação da Comissão Permanente
da ANP em acatar as decisões do STJ, enviabilizando assim as sessões
parlamentares.
Esta atitude deu lugar à façanha e astúcia, tanto no seio
dos juristas e constitucionalistas, bem como dos cautos e incautos, cada um, à
sua maneira, tenta demonstrar a sapiência e interpretar a Constituição da
República. Este axioma é irrefutável, por ser respetivos e modus operandi quase
similar às cíclicas crises políticas que o país tem conhecido, os que não tem
domínio em matéria jurídica, memorizam obrigatoriamente os dispositivos
constitucionais, as alíneas do estatuto do PAIGC e o Regimento da ANP. O que às
vezes me deixa incrédulo, conseguem colocar-se ao mesmo nível de discussão com
os homens de leis, sobretudo quando “cafumbam” é mais que verdade.
Coarctado pela lei de vestir t-shirt Lacoste, Springfiel,
Pedro del Hiero (PdH), ou ainda a camisola do Sporting, S.L. Benfica ou F.C. do
Porto, para se ostentar a marca ou marcar golo ou defender os partidos
políticos, mesmo que seja em taciturno, os juízes do Supremo Tribunal Justiça
(STJ) tem tentado a todo custo permear a vestimenta constitucional que é lhe
emprestado, para agir em nome de amizades alheias ao interesse da maioria e,
também, pela conveniência circunstancial, sobretudo a favor de quem brota de
algibeira muitos tostões, em consequência tem errado mais que acertar nas
jurisprudências, atolando ainda mais a situação caótica que se vive.
A fantasmagórica cidade de Bissau que se esbraceja com o
arredio da noite fora, onde deambulava mais caciças e pé-de-cabra, ganhou um
novo alento para lavar o cérebro dos nossos venerandos Juízes, sem perder de
vista visitas ininterruptas à noite dentro às suas casas e durante o dia entram
sorrateiramente nos seus gabinetes, para ludibria-los a tomar decisão enviesada
e estapafúrdia para satisfazer os seus momentâneos anseios.
Neste ritmo acelerado de dá cá toma lá originando a
glutonaria de kumé kumé, os tribunais não ficaram por trás, têm comportados
como autênticos “fanudu nobu”, só falam com os visitantes se-lhes colocassem o
dinheiro à boca, caso contrário permanecem calados.
Aqui a posição de um juiz, como já nos habituaram, muda a
360º e em função da côr do dinheiro ou de outros bens materiais. Para tal, é
capaz de ter várias opiniões sobre um único processo, sem um argumento
convincente.
É o que se tem estado a passar com esta nobre Ciência de
Direito, sendo que é uma das mais prestigiantes e veneradas funções, e não por
ter um papel estruturante na edificação do Estado de Direito e Democrático, tem
sido impingido golpes fatais e ser uma decepção junto à população.
Nesta azáfama, valendo o vale tudo sem dó e nem piedade,
devido à sua potencialidade e alcance em disseminar as mensagens junto das
populações, os órgãos de comunicação social, não escaparam de investidas
dependendo do polo no poder. Durante a minha incursão aos arquivos do Jornal Nô
Pintcha, entre linhas pode ler-se no discurso do ex-Secretário de Estado da
Comunicação Social, Doutor Pedro da Costa, o seguinte: “ (…) estaremos atentos
em seguir tudo quanto difundem. Não vamos permitir que os inimigos deste
governo utilizem o quarto poder contra nós” (Jornal Nô Pintcha 20/06/2000 pag.
2).
A nossa pobrezinha e senil TVGB, que há anos vem lutando
para sair do estado comatoso que se encontra, tem servido de respaldo para
amordaçar a mensagem (como o designou o meu mais velho e colega da trincheira
na terra de muitas neves e frio “diferentes polos”). Isso serviu de mote para
criar ainda mais a cisão visceral entre os profissionais da área. Agem de
acordo com a empatia ou por serem correligionários, o que viola grosseiramente
o código deontológico e da ética profissional. Esta situação torna-se evidente,
quando cobrem um evento político ou pelas perguntas deliberadas e provocatórias
quando se entrevistam os opositores.
Quando o poder reveza para outro pólo, não é de se
estranhar quando não se verifica a benevolência para se colocarem em pé de
igualdade de disseminação de informação. Nesta saga, ainda, segundo uma
lista posta a circular nas redes sociais, os jornalistas das rádios recebem
mesadas para atacar o pólo contrário. Por isso, sem reservas partem para
cobamalcracia, através dos programas peculiares criados essencialmente para o
efeito. Também, sugiram miríades de blogs, competindo com os já existentes
através do contador de visitas, limitando-se apenas a atacar as figuras
notórias e os que ousam ter opinião diferente do patrono.
Retomando o fio condutor do propósito da minha
comunicação, na fase incipiente da presente crise, os algozes, incautos, pseudo
juristas e constitucionalista, tiveram audácia e veleidade de tentar nivelar a
lei matter onde derivam demais leis, a Constituição da República, com o
Estatuto do PAIGC, apesar de ser um partido cuja história e dimensão é
incontornável nos anais da história da Guiné-Bissau, para afirmarem que a
expulsão dos 15 não feri de maneira nenhuma ao regimento da ANP nem a CR, e é
uma das medidas mais sensatas para repor a legalidade e voltar-se a constituir
a maioria na ANP.
Esta descabida posição, ao invés de se tentar negociar ao
nível endógeno do partido, deu lugar à musculação preterindo assim o diálogo e
o bom senso, o que acabou por dar azo à perenização da crise atual.
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