terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Os espólios / Feia disputa

Nos últimos meses temos assistido a uma triste e duvidosa tentativa de assalto aos 
espólios de Amílcar Cabral por parte de representantes do Governo de Cabo Verde, o 
que nos envergonha a todos. Por um lado pregamos às novas gerações que Cabral foi 
um homem de altos valores, por outro damos exemplos práticos rastejantes de falta de 
diplomacia e de ética.

Primeiro, porque esse legado documental saiu de Bissau numa nobre acção de o salvar 
da destruição durante os momentos difíceis pelos quais tem passado o país irmão e 
vizinho. Jamais seria honroso da nossa parte aproveitar da situação menos boa dos 
outros, sobretudo tratando-se de irmão e vizinho, para nos apropriarmos daquilo que 
nunca foi nosso. Um princípio de ouro – não faças ao outro o que não gostarias que te 
fizessem!

Segundo, porque nós cabo-verdianos, e em manifesto reconhecimento por tudo aquilo 
que representou a Guiné-Bissau e o herói binacional Amílcar Cabral para o actual estado 
de liberdade e de desenvolvimento do nosso país, deveríamos demonstrar 
Solidariedade ajudando da melhor forma que essa herança retornasse com brilhantismo 
e em paz à sua real origem. Sem tentativas de aproveitamentos oportunísticos!

Por algumas vezes abordei essa obsessão que temos em correr atrás de heróis. 

Aparece um futebolista ou alguém muito mediático em qualquer canto do mundo, lá aparecemos 
nós reclamando que se trata de um tetraneto, trineto ou bisneto de cabo-verdianos, e 
por aí fora, mesmo recebendo em troca o desdém dessa figura. Tal obsessão é tão 
presente que nos leva a cometer actos que são verdadeiros anti-heroísmos. 

Normalmente o herói joga toda sua vida em prol de Grandeza, de Valentia, de 
Generosidade, de Solidariedade … e é por isso que nos recorremos aos seus exemplos 
quando pretendemos educar uma sociedade debaixo dos ditos valores.

Cabral, ainda que utopicamente, pretendeu unir os dois povos sob um mesmo estado, 
deixando-nos a obrigatoriedade de deduzir que sua meta principal fosse a de enformar 
e desenvolver uma fraternidade existente desde os primórdios da nossa história. 

E nós,  em pleno 2019 em que deveríamos estar apostando tudo no regresso da Paz e 
Tranquilidade à casa do nosso irmão/vizinho, em vez disso, andamos em joguinhos de 
“mã-gatchada” a ver se divertimos a plebe enquanto não encontramos o caminho da 
maturidade para que nossos irmãos possam finalmente começar a confiar em nós como 
seguros companheiros de caminhada.

 É Triste e Vergonhoso!
Que vale tantas reuniões, conferências, notícias inflamadas, às vezes até 
roçando o ridículo, sobre CEDEAO, CPLP, etc., se nem temos a bondade de
ser solidários com nossos irmãos de sangue aqui ao lado de porta, quando 
precisam?

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