quinta-feira, 8 de março de 2018

CABO VERDE VISTO PELOS OLHOS DE UM PROFESSOR GANÊS
Quando vemos artigos do tipo: "Africanos no Mindelo" em que nós auto nos excluímos da África eis como  nossos irmãos nos vêm: Um texto muito interessante de um Ganês, Issah Hassan Tikumah, sobre Cabo Verde, publicado na Newsletter  do Turismo Sustentável em Cabo Verde, esta semana, partilhado no Facebook
Cabo Verde - a terra da ausência absoluta de monotonia. Rica em montanhas e vales, colinas e encostas, cores e tons, gostos e impressões, a terra constantemente mantém o apetite do candidato vivo.
O caminhante, por exemplo, é prontamente resenteado com a descida antes de se entediar com a subida; e a subida antes se cansar com a descida. Cada dia do ano, as ondas generosas do mar iluminado da terra, provêm mais de cinquenta espécies diferentes de peixes saborosos e saudáveis - dos quais Cavala, Catchorreta e Barbeirosão os meus favoritos.
E assim são as lindas pessoas da terra: completamente preto - quase preto - quase branco - completamente branco.Os Cabo-verdianos podem não ter milhões em dinheiro, mas têm triliões em paciência e tolerância. Por exemplo, em toda a minha experiência em todo o mundo, e não apenas na África, Cabo Verde é o único lugar onde um/a motorista iria parar de repente o seu carro no meio de uma estrada movimentada, por um minuto de conversa com um amigo que passa, enquanto uma dúzia de outros motoristas esperam atrás, calmamente. Em outro lugar, isso não seria tentado, pois o infractor seria logo espontaneamente bombardeado com pragas impiedosas e insultos grosseiros de vulcões em erupção nos peitos dos camaradas.
Num Estudo de 2006, Bruce Baker de Oxford referiu Cabo Verde como "o país mais democrático em África". Eu gostaria de retorquir dizendo que Cabo Verde não é apenas o país mais democrático em África, mas também a única de verdadeira democracia em África, pois Cabo Verde é o único país da África onde a democracia não é um jogo de fanatismo étnico. Cabo Verde deve a sua invejável paz e estabilidade à ausência do fardo de tribalismo que tem mantido o resto da África em ebulição desde a independência política da Europa há mais de meio século atrás. Como eu costumo dizer aos meus alunos e colegas cabo-verdianos, na medida em que Cabo Verde está livre do sentimento venenoso do tribalismo, Cabo Verde é um modelo perfeito da África que aspiramos. Eu discordo totalmente daqueles que normalmente comparam Cabo Verde com os seus vizinhos e a pronunciam como uma nação pobre, carente de recursos naturais - a menos que tais analistas me possam explicar como a riqueza natural sem paz natural, tem qualquer sentido significativo. Se por acaso tiver de concordar com eles, então eu vou ter que referir-me a Cabo Verde como um pobre anão brilhante cercado por ricos gigantes sem luz. Aqui, a luz da humanidade e integridade contrasta com a melancolia da ganância e corrupção. É melhor ser pobre em petróleo e gás, mas rico em integridade, do que ser o contrário.

Cabo Verde pode não ser rico em ouro e diamantes, mas é rico em liderança. Cabo Verde é o único país da África onde se entra numa padaria comum e se encontra um ministro de Estado na fila, juntamente com os cidadãos comuns, para comprar pão comum. Cabo Verde é o único país da África onde o presidente iria partilhar uma casa simples, como um inquilino, com pessoas comuns,num apartamento de bloco comum. Cabo Verde é o único país da África, onde o Chefe de Estado iria embaralhar com pessoas comuns, dentro de um bar comum, para uma xícara de café comum.
A primeira vez que vi o Jorge Carlos de Almeida Fonseca entrar no Pão Quente, na Várzea, há dois anos, eu fiquei atordoado. Como que a confirmar que os meus olhos não me estavam enganando, eu fui até ele e gritei na cara dele ’Ó Presidente! "Tudo Bom?".O presidente respondeu-me com um aperto de mão. Todo hipnotizado para dizer qualquer coisa, eu saí sem responder à saudação do presidente. Mas o meu fascínio só aumentou ainda mais quando eu fui lá fora e descobri que a cena era tão comum como sal e água, com nenhuma indicação de que havia uma pessoa importante nas proximidades. Em outro país Africano, todas as quatro direções para o bar, seriam bloqueadas ao tráfego humano e de veículos motorizados,horas antes da chegada do presidente ao local e a cena será muito fortemente policiada para o conforto de uma alma comum. (A questão é mesmo esta: Em primeiro lugar, num outro país Africano, o que o todo-poderoso presidente estaria fazendo num "lugar ignóbil"?).
Em poucas palavras, Cabo Verde é o único país da África onde ninguém é ninguém, mas ao mesmo tempo todo mundo é alguém. Eu amo este país chamado Cabo Verde, a terra da beleza natural, a terra da compaixão humana, a terra da variedade infinita.
(Issah Hassan Tikumah - Professor e Historiador Ganês)

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