CONTINUAÇÃO E DOKA INTERNACIONAL NA LUTA PELA VERDADE
ASSASSINATO DO
PRESIDENTE NINO VIEIRA
“I FALADU CUMA I CA-TA
MURRI, MÁ NÔ MATAL !”
2ª PARTE.
(RELATÓRIO DO ASSASSINATO DO
PRESIDENTE NINO VIEIRA)
FOI ASSIM, POR
VOLTA DAS 06H00 DA MANHÃ DO DIA 2 DE MARÇO DE 2009 QUE OS EXECUTORES DE NINO
VIEIRA, A MANDO DE ZAMORA INDUTA E CARLOS GOMES JÚNIOR SE VANGLORIAVAM DE
TEREM ASSASSINADO COVARDEMENTE O MÍTICO COMANDANTE
NINO VIEIRA.
“....INQUIRIÇÃO AO DR. OSÓRIO FURTADO
A fls 68 dos autos, declara que foi chamado pelo senhor
Adolfo Martins, Protocolo do Presidente Nino Vieira, através do telefone por
volta das 02h00 de madrugada do dia 02 de Março, para comparecer na residência
do Presidente. Quando ali chegou, encontrou o Sr. Barnabé Gomes, a Srª Palmira,
a esposa do Presidente D. Isabel Romano Vieira e o Sr. Adolfo lhe informou que
também, mandou chamar a Srª Henriqueta Godinho Gomes e o Dr. Armindo Serqueira.
Na reunião com então Ministro da Defesa Nacional, Artur Silva, Pedro Godinho Gomes, o Presidente em diálogo com o referido Ministro, procurou inteirar- se do ocorrido que culminou na morte do General Tagme Nawaié.
Na sequência das informações recolhidas, o Presidente pediu ao Sr. Osório, para tomar nota dos pontos a constar na eventual mensagem ou discurso a ser dirigido a Nação, logo nas primeiras horas da manhã , tendo sido acordado que seria uma mensagem à Nação, em vez de discurso cujos tópicos seriam:
- Informaçao, lamentar, condenar e apelar à calma aos cidadãos nacionais e estrangeiros residentes no País;
- Manutenção
da ordem e respeito pela Constituição da República e submissão ao poder
político pelos militares.
Disse que
terminada a reunião, o Presidente Nino, foi para o seu aposento e o então
Ministro da Defesa foi levado ao Hospital Nacional Simão Mendes, pelo senhor
Adolfo Martins e a senhora Henriquieta Godinho Gomes e o marido foram à
respectiva residência.
Minutos depois, ouviram primeiros disparos de armas ligeiras em direcção à residência do PR e foram para a cozinha juntamente com Adolfo, Barnabé, Palmira e uma senhora que se presume ser a governante ou cozinheira da casa.
Por volta das
08h00 da manhã, foi directamente para a sua residência sempre na companhia do
Dr. Armindo, vindo a saber da morte do Presidente por volta das 11h00, pelas
informações que estavam a circular.
Disse que foi
um militar quem abriu a porta da cozinha, onde estavam escondidos e este
vestido de uniforme militar de cor verde capim e armado com AK-47.
Disse que não pode
reconhecer o militar que lhes abriu a porta. Sabe que tem cor escura, pode ter
1,80m e é ligeiramente mais forte que ele.
“.... INQUIRIÇÃO
AO SR. TCHIPA NA BIDOM
As fls 78 dos autos, disse que estava de serviço no dia 01 de
Março de 2009, na residência privada do falecido Presidente da República, como
ajudante de campo do Presidente.
Era o único em exercício de funções, pois, dentre os três, o capitão de Fragata, Biom Na Tchongo, foi afastado das funções de ajudante de campo na sequência dos factos ocorridos no dia 23 de Novembro de 2008.
O Major Manuel
Sanca, do Ministério do Interior que se encontrava doente.
Declarou que
esteve com o Presidente Nino, como habitualmente acontecia na sua quinta em
Insalma e só voltaram à Bissau, por volta sa 13h30m.
Disse que estava ainda na residência do Presidente quando se ouviu o estrondo depois das 19h00 e deu ordem a um segurança de nome Albino Bogra, que fosse ao Ministério do Interior inteirar-se do ocorrido, visto que pensava que ali é se ocorreu o mesmo e no regresso informou-lhe de que houve uma deflagração de bomba no Estado Maior General das Forças Armadas.
Em guisa de se
inteirar do ocorrido, telefonou primeiramente o então coronel António Indjai,
cujo numero de telemóvel agora desconhece e depois ao coronel João Gomes, cujo
telemóvel se encontrava indisponível.
Após, vários
telefonemas o Coronel João Gomes, informou-lhe que ocorreu uma explosão no
Estado Maior, e que o então CEMFA, se encontrava morto e o Major Fendam
Nassuma, ainda se encontrava vivo.
Em
consequência da explosão que vitimou o então CEMFA, grande parte das chefias
militares se encontrava na Base Aerea de Bissalanca, acompanhando o corpo do
malogrado.
Foi nesta base que o Sr. Duarte Cabral, sugeriu ao Presidente Nino, que convocasse as chefias militares para um encontro com ele, o que achou inoportuno naquela altura pelo perigo que poderia advir.
E decidiu
telefonar mais uma vez ao Coronel João Gomes que entretanto, passou o telemóvel
ao tenente coronel Lassana Mansal e este por sua vez ao General Mamadú Turé,
vulgo N’Krumah.
Disse que ficou na residência privada do Presidente Nino, até por volta das 04h00 de madrugada, altura em que ouviu o malogrado Lourenço Djeme a dizer que vai comunicar o Presidente de que já enviaram reforço, embora, o Djeme não lhe disse a ordem de quem foi enviado o dito reforço.
Declarou que quando encontrou o Senhor Djibe Candé, então Chefe de Companhia de Escolta Presidencial, este informou-lhe da vinda de reforços que já se encontravam nas periferias da residência privada do malogrado Presidente.
Disse que após
ter tido conhecimento da referida chegada dos reforços, dirigiu-se em direcção
à Embaixada da Líbia, com intenção de poder eventualmente encontrar-se com
alguns dos militares enviados como reforços à casa do Presidente.
No sentido de
certificar quem teria dado ordens neste sentido que mesmo ao pé da Embaixada
Líbia, começou a ouvir tiros de armas, designadamente, de bazucas em direcção à
casa do Presidente Nino.
Que continuou
a caminhada e não muito longe da sede do Sporting, na escuridão ouviu a voz de
comando de alguém a dizer-lhe “ não volte para trás, continue para a frente”!
Foi o que fez caminhar em direcção ao sítio donde saia a voz. Quando lá chegou, foi-lhe retirado a arma que trazia consigo AK-M47, por um militar tenente e depois foi conduzido às instalações da Marinha de Guerra Nacional.
.., Disse ainda que foi mensageiro entre o General Tagme Nawaié e o Presidente Nino Vieira. Foi através dele que o primeiro soube de rumores que circulavam de que havia intenção deste ùltimo matar o primeiro e que o General Tagme Nawaie disse literalmente esta palavra ao Presidente Nino.
Disse que é
cunhado do General Tagme Nawaié, porque a sua mulher é prima do General e
mantinha com o Presidente Nino, uma relação de fidelidade por causa do
Comandante Guad Na Indami, falecido em 1973, em consequência da morte de
Amilcar Cabral.
Disse que recorda num
encontro com as Chefias militares na Presidência da República, o General Tagme
teria advertido de forma severa ao Presidente Nino, que se morrer de manhã,
este morreria a noite e explicou o significado do seu nome no dialecto balanta.
.... DILIGÊNCIAS
DO PGR AMINE SAAD
“A fls 85 dos
autos, o então Procurador Geral da República, Dr., Amine Saad, remeteu Carta
Rogatória ao Ministro da Justiça, Mamadú Saliu Djaló Pires, solicitando a
audição das testemunhas que se encontravam fora do território nacional,
nomeadamente, Isabel Romano Vieira.
A fls 87, o
refrido Ministro, solicitou através da Convenção Judiciária entre a Guiné
Bissau e o Senegal, a notificação as testemunhas:
Isabel Romano Vieira,
Barnabé Gomes e Coronel João Monteiro sobre os casos 01 e 02 de Março de 2009.
....INQUIRIÇÃO DE
AUGUSTO ARTUR ANTÓNIO DA SILVA, ENTÃO MINISTRO DA DEFESA NACIONAL
“ A fls 88, no
seu depoimento disse que estava em casa donde tomou conhecimento da explosão e
só depois de ter estado na residência privada do Presidente Nino, é que veio a
saber de que a referida explosão se tratava de uma bomba colocada no Estado
Maior.
Disse que
quando chegou a residência privada do Presidente já lá estavam alguns
militares, dentre os quais, o Chefe de Estado Maior do Exército, General Mamadú
Turé, vulgo N’Krumah e o Presidente procurou inteirar-se do ocorrido.
Esclarece que
chegou a casa do Presidente por volta das 20h30mn, e que a reunião já tinha
sido iniciada. Contudo, assistiu a referida reunião durante mais ou menos, 15
minutos.
Disse que
depois da reunião, foi para a casa do Primeiro Ministro, Carlos Gomes Júnior,
informá-lo da reunião acabada de ter lugar na casa do Presidente. Depois foi
para o Hospital Simão Mendes, inteirar-se do estado de saúde dos militares
feridos em consequência da explosão da bomba ocorrida no Estado Maior.
Esclarece que
após ter constatado o estado de saúde dos militares feridos, viu que um deles
estava numa situação crítica e sugeriu a sua evacuação para o exterior assim
que o médico entendesse necessária e que o Ministério da Defesa assumiria os
devidos encargos, cuja evacuação foi efectuada para a vizinha República do
Senegal.
Disse que após
estas diligências, voltou para a residência do Primeiro Ministro para dar-lhe o
ponto de situação e depois dirigiu-se para a casa de um primo seu nome João
José Silva Monteiro, vulgo Huco Monteiro.
Esclarece ainda que quando se encontrava no Hospital, telefonou ao General Mamadú Turé, na altura Chefe de Estado Maior do Exercito, a solicitar-lhe que o mantivesse informado do estado saúde do General Tagme e que lhe informou da morte deste.
Esclarece que
como as instalações hospitalar da Base Aerea não tinha condições médicas,
sugeriu ao General Mamadú Turé, que o corpo fosse levado para a casinha
Mortuária do Hospital Simão Mendes, o que acabou por acontecer.
Disse que ainda em casa do primo foi contactado pelo senhor Adolfo Martins, pedindo a sua comparência na residência privada do Presidente Nino. Quando ali chegou já estavam a Henriquieta Godinho Gomes e o marido, Dr. Armindo Serqueira e o Dr- Osório Furtado. Na conversa, o Presidente lamentou a morte do General Tagme Nawaié.
Disse que o Presidente iria presidir a reunião do Conselho de Ministros marcada para o dia seguinte.
Esclarece que
saiu da residência privada do Presidente já por volta das 04h00 de madrugada do
dia 02 de Março de 2009, na viatura disponibilizada pela então primeira dama,
Isabel Romano Vieira.
Disse que não havia nada de anormal em termos de segurança e no percurso feito, nomeadamente, rua Angola, passando pela esquina da embaixada da Libia e ainda pela zona do Centro Cultural Brasileiro até a Avenida Francisco Mendes, não constatou nada de anormal.
Disse que soube da morte do Presidente Nino, por volta das 07h00 do dia 02 de Março, através do Primeiro Ministro quando fora- lhe informar da conversa tida com o Presidente pela segunda vez na sua residência, em que foi convocado para o efeito.”
.... AUDIÇÃO DO GENERAL MELCIEDES MANUEL FERNANDES
“ A Fls 91 à
96 dos autos, o Senhor Melciedes Manuel Fernandes, vulgo Manel Mina, declara
que foí vítima de persiguição sistemática e contínua por parte do General Tagme
Nawaie, chamando-lhe de corrupto.
Revelou que foi o militar vulgo CATCHA quem abateu com tiros à queima roupa, o Coronel Domingos Barros e quem matou o General Veríssimo Correia Seabra, foi o militar de nome TANGATNA, cuja a sua étnia é fula, mas foi educado pelos balantas.
Declara que
foi acusado pelo General Tagme, de estar a reunir com rebeldes de Casamança em
Bula, quando estava a pescar no Cais de Pindjiquiti.
Disse que seu filho foi detido pelo General Tagme, cerca de um mês no Estado Maior, alegando que este transportava armas para os independentistas de Casamança.
Informou
que o assassinio do Comodoro
Lamine Sanhá, foi um militar de nome MUSSÁ SAMBÚ, afecto ao batahão do Estado Maior.
Confessou
que foi ele quem fabricou a
bomba como forma de se defender da perseguição do General Tagme, como explicou
na PJ e que teve apoio do Tenente Malam Candé e da Sargenta Djabu Camará, vulgo
Pomba Branca.
Esclarece que Nino Vieira, morreu por sua própria negligência, porquanto falharam vários atentados contra a sua pessoa, mas nunca houve responsabilização.
.... INQUIRIÇÃO SR. ANTERO JOÃO CORREIA
“ A Fl. 112,
esclarece que enquanto Director Geral dos Serviços de Informação de Estado,
recebeu informação através de dois canais(Interno e externo).
O interno,
através de uma rede do seu Adjunto, Coronel Samba Djaló e externo, através de um Oficial de ligação dos
Serviços de Informação Portuguesa de nome Senhor Manuel Esperança, de que estava a ser preparada uma conspiração
para a liquidação fisica do General Tagme Nawaié.
Disse que para
execução do referido plano prepararam os homens nas pessoas de AMADÚ CAMARÂ e SALIFO SOLI DAFÉ, e foi comunicado a intenção ao Senhor Lúcio
Soares, então Ministro do Interior.
Através do
Coronel Samba Djaló, o referido Ministro soube da introdução de uma Bomba no
Estado Maior e com aval deste, informou o então Chefe de Estado Maior, por
dever do ofício.
Esclarece que foi nesta base que o General Tagme disse: “ Estou ciente de tudo, mas continua a trabalhar ” em caso de falhar a tentativa contra a sua pessoa, se conseguir capturar os agressores vai fazer duas coisas:
1 – Entregá-los às Nações Unidas
2- Ou
Liquida-los Fisicamente
Disse que foi
informado pelo Senhor José António Marques, que explodiu a Bomba no Estado
Maior.
Como tinha saído do Estado Maior, a mais ou menos 10 minutos, ligou para o então Chefe de Estado Maior, mas não obteve resposta.
Informou que todos
os relatórios produzidos foram entregues ao Capitão de Mar e Guerra, JOSÉ
ZAMORA INDUTA, na presença do Coronel Samba Djaló e
Coronel António Indjai. O outro relatório ficou para o arquivo e o terceiro foi
entregue ao então Ministro do Interior, Lúcio Soares.”
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